Era uma vez a história de uma herdeira que foi até demitida

22/03/2021
Era uma vez a história de uma herdeira que foi até demitida | JValério

Hoje contamos o surpreendente final feliz da história protagonizada por Marion Klimmek, que faz parte da governança corporativa da Condor, fundada há 90 anos

Neste mês de março, em que comemoramos o Dia Internacional das Mulheres, prestamos no nosso blog uma homenagem para as gestoras e líderes que fazem parte da carteira de clientes da JValério Gestão e Desenvolvimento.

Na primeira publicação, contamos a história da gerente da Gazin, a psicóloga Sonia Rossi, que escolheu o universo corporativo como caminho para construir uma carreira de sucesso. Na segunda, falamos sobre a trajetória da jornalista Roberta Nunes Mansano, diretora da Vectra Construtora, que está seguindo os passos dos pais e, naturalmente, está se tornando a sucessora no comando de negócio.

E nossa personagem de hoje também faz parte de uma família empresária e se chama Marion Klimmek. Ela é a neta mais nova do fundador da Condor, a maior indústria de escovas de dentes da América Latina.

Protagonismo feminino

Marion faz parte de uma geração de mulheres que tiveram que lutar para conquistar seu “lugar ao sol”, mesmo ocupando uma posição nobre no universo corporativo: a cadeira de herdeira. Ela passou por muitos altos e baixos até chegar à governança corporativa da Condor. E apenas há cinco anos se sente confortável no lugar que era seu de direito e que abraçou com a força de uma leoa – uma característica nata do comportamento feminino.

É consenso que o instinto materno extrapola a esfera da maternidade, propriamente dita, e que cuidar e se doar são atitudes que fazem parte da natureza das mulheres. Foi essa força do amor de uma mãe que trouxeram Marion até aqui, após uma caminhada cheia de percalços na sucessão familiar da indústria catarinense, que começou com um imigrante alemão.

O negócio projetado por ele cresceu em dígitos e extensão. A família empresária também aumentou no número de herdeiros, de diferentes gerações, nesses 90 anos de fundação da empresa. E, como é bem comum em grandes famílias, eles também passaram por conflitos na hora da passagem do bastão.

No entanto, o laço sanguíneo, o espírito de união e o amor pela indústria, herdado do fundador Augusto E. Klimmek, prevalecerem. Hoje a empresa possui um acordo e uma rotina de paz no conselho, que vale para os próximos 20 anos. Marion é testemunha ocular dessa história, que teve um final feliz. Ela foi uma das protagonistas no processo sucessório da Condor e, por isso, foi uma das escolhidas para compor a série “Mulheres Transformadoras”, criada pela JValério Gestão e Desenvolvimento com o objetivo de inspirar gestores e lideranças.

Entre tapas e beijos

Não foi amor à primeira vista. O relacionamento de Marion com a empresa inaugurada por seu avô foi construído aos “trancos e barrancos”, como diz o ditado. Ela se mudou para Curitiba para fazer faculdade e quando encerrou esse ciclo, não queria voltar para a cidade natal, São Bento do Sul, em Santa Catarina, sede dos negócios da família. Por “pressão”, ingressou na Condor em funções com as quais não tinha nenhuma afinidade.

Ela pediu demissão, mas a insubordinação não foi aceita pelos pais e na ala dos primos (afinal, estamos falando de uma herdeira e, naquele tempo, acreditava-se que eram as futuras gerações, obrigatoriamente, que precisam estar à frente da empresa). O grito de socorro foi ouvido com uma mudança de área: agora Marion pertencia ao setor de recursos humanos.

A próxima parada foi no departamento de marketing. Aquela carreira ainda não tinha conquistado definitivamente o coração da então gerente. Era um namoro cheio de crises, principalmente quando os familiares se encontravam na sala reuniões. Até que veio o rompimento: os próprios herdeiros decidiram que a gestão precisava ser profissionalizada. “Nossas reuniões de diretoria eram permeadas de discussões que prejudicavam o clima organizacional. Até que concordamos que ninguém da família trabalharia na área executiva. Até então, eu não gostava do que estava fazendo, não havia encontrado meu propósito, mas perder meu emprego do dia para noite foi chocante. Fiquei indignada de der demitida. Acertamos que receberíamos nossos rendimentos por um ano, mas que teríamos, cada um de nós, que buscar seu caminho próprio”, conta Marion.

Empreendedorismo na veia

Como filha do sócio majoritário, Marion não conseguiu por um ponto final na relação com a Condor e continuava participando das reuniões do Conselho. Mas o papel de acionista era uma atividade secundária. Agora ela era empreendedora em uma importadora em mais contrato social com familiares. A empresa não deu certo e faliu.

Lá na Condor a relação seguia naquele ritmo conturbado, cheio de desacertos. Até que Marion encontrou uma luz no fim do túnel. “Fui buscar informações sobre a governança corporativa na tentativa de melhorar nossa gestão”, relembra.

Como ninguém naquele Conselho estava confortável com a situação, a ideia de trazer pessoas de fora para colocar “ordem na casa” foi aceita. E a mesa da sala de reuniões, que se confundia com um encontro familiar, foi perdendo membros e ganhando caras novas. “Foi assim que fomos diminuindo os representantes da família no Conselho. O próximo passo foi fechar um acordo de acionistas e, mesmo sem a adesão de todos, conseguimos evoluir”, relata Marion.

Relacionamento sério

E foi em meio a um cenário de turbulências que a trajetória na Condor começou a fazer sentido para a executiva. Aos poucos, ela foi se envolvendo e percebeu que poderia selar a paz com o destino e ser feliz no trono de herdeira. Ela avalia que todo esse processo fez parte do seu amadurecimento, como pessoa e profissional de gestão.

“Se não tivesse agido dessa maneira, com muito jogo de cintura em meio aos conflitos familiares, talvez me arrependeria por não ter feito nada para reverter a situação. O senso responsabilidade e o envolvimento com a empresa falaram mais alto. A história que meus avós e meus pais construíram tinham muito valor para mim. Foi desafiador conviver, no ambiente do trabalho, com outras gerações. Primeiro, tive que dividir a mesa de reuniões com homens da minha família, que tinham me pegado no colo. Depois, com sobrinhos e filhos, mais novos. O casamento entre família e empresa não é perfeito. Temos que aprender a separar a emoção da razão, aprender a respeitar o outro, a fazer concessões e a negociar, individualmente. Essa é riqueza da vida, melhorar sempre”, avalia Marion.

Respeito ao passado, pés no presente e olhos para o futuro

E é essa lição que ela transmite para seu casal de filhos, que fazem parte da linhagem dos futuros herdeiros da Condor. “Criei meus filhos com essa mentalidade, para que sejam independentes e possam trilhar seu caminho, mas sem esquecer que, em algum momento, terão que assumir a parte que lhes cabe na empresa e participarão como acionistas”, pontua.

A história se repete

A filha de Marion já está na mesma posição que um dia foi ocupada por ela. É a única mulher na linha direta da sucessão. Depois de 22 anos de embates familiares, a atual herdeira dá um conselho, aquela palavra de mãe, que vale para qualquer pessoa que está lendo esse texto: “não vale a pena bater de frente, não dá certo. A forma truculenta de resolver os problemas não é a melhor. Essa foi a maior lição que aprendi”, reflete a executiva.

Persistência e determinação

Isso é algo que nunca faltou na trajetória de Marion. E ela acredita que essas duas características a ajudaram a tirar as pedras que surgiram no seu caminho. “Eu faço parte de uma geração em que as mulheres tinham que provar sua competência o todo tempo, para justificar sua presença no ambiente de trabalho. Mas elas sempre tiveram uma autoridade, por debaixo dos panos. Se olhar para a trajetória da família do meu avô, era apenas um homem em meio a seis mulheres, cinco filhas e a esposa, que também tinha uma influência grande. Sou filha do único filho homem do meu avó e sempre assisti minhas tias na liderança, ainda que de forma velada. Até dentro de casa as mulheres sempre estão na dianteira da decisão, mesmo que esse fato não seja aparente. Esse é um dom nato, de todas nós”, finaliza.

E é com essa mensagem de empoderamento que finalizamos mais um capítulo da série “Mulheres Transformadoras”. Hoje você conheceu a história de Marion Klimmek Marschall, que, entre idas e vindas, assumiu a liderança da Condor, líder no mercado de escovas dentais infantis, escovas para limpeza, escovas e pentes para cabelos, pincéis artísticos e artigos de pintura imobiliária.

Fundada pelo imigrante alemão Augusto Emílio Klimmek, em 1929, na cidade de São Bento do Sul, interior de Santa Catarina, possui produtos presentes em mais de 100 mil pontos de vendas ao redor de todo o Brasil, além de exportar para mais de 30 países.

Até a próxima!

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