Cultura do Walk the talk, que evidencia a importância do discurso alinhado à ação, é um dos caminhos para a construção de uma liderança engajada, que conduz equipe na mesma direção
Uma das principais premissas para que uma empresa tenha sucesso é fazer com que o seu propósito organizacional seja abraçado por todos os envolvidos no processo e não apenas a uma determinada área ou setor. Na prática, o propósito deve ser lembrado como o norteador, estimulando colaboradores e gerando valor para a equipe e para o negócio.
André Luis Fauth é engenheiro mecânico e CEO da empresa brasileira Berneck, fundada em 1952, especializada em painéis MDP, MDF e HDF, além de madeira serrada de pinus, com atuação no setor industrial em diversos segmentos. Ele defende com convicção a importância de alinhar o propósito da empresa junto aos colaboradores.
Baseado em sua rica experiência profissional, Fauth acredita que quando os objetivos pessoais e profissionais se casam com os desafios e objetivos de uma organização as coisas funcionam muito melhor. “Não existe empresa de sucesso sem pessoas, gestores, líderes e colaboradores que também tenham sucesso”, afirma o engenheiro. Ele destaca ainda que o engajamento dos colaboradores, o senso de pertencimento e a consciência do seu papel na companhia são requisitos básicos para tal sintonia.
Os colaboradores e líderes têm papel fundamental na etapa de discussão e desenvolvimento da estratégia organizacional da empresa. Na opinião de Fauth, se o líder não tiver conhecimento, participação ou contribuição na elaboração da estratégia empresarial, que evidenciam onde a companhia deseja chegar nos próximos 2, 3 ou 5 anos, por exemplo, “dificilmente ele vai engajar seu liderado.”
Nesse caso, o líder terá que repassar aos colaboradores qual é o papel daquele time dentro da estratégia, a forma como devem contribuir e trabalhar, entre outros detalhes. Daí a importância de engajamento de lideranças que mostram que o discurso tem que ser igual à prática.
Um líder que conecte todos os colaboradores na mesma direção: é assim que funciona, na prática, uma liderança engajadora. Para Fauth, outra recomendação é seguir a cultura do Walking the talk (aja de acordo com seu discurso), na qual o líder age pelo exemplo e não apenas pelo que diz, tendo empatia pelo colaborador, entendendo as necessidades de crescimento desse profissional e inclusive ajudando-o a estabelecer sua trilha de carreira dentro da organização.
“Quanto mais transparentes forem essas questões, melhor para o profissional decidir se é nessa empresa que ele pretende seguir, se é nesse local que ele vai investir seus esforços e participação”, explica. O líder, completa, “tem que ser um facilitador das descobertas do seu liderado dentro da empresa”.
Fauth enfatiza que a melhor forma de liderar é pelo exemplo, escutando, ouvindo e debatendo situações. “Quando debato, no sentido de contribuir com a estratégia, digo que no campo das ideias não existe hierarquia. Sem se preocupar com a posição hierárquica o resultado é sempre melhor. Liderar pelo exemplo é uma das melhores práticas de boa governança e de gestão estratégica”, argumenta.
Em tempos de pandemia, cada ambiente empresarial teve e tem que ser tratado separadamente. Nas empresas nas quais o líder que já praticava a empatia junto aos colaboradores, não se registraram maiores problemas nas relações: “Ter que lidar com questões que envolviam apoio psicológico, motivação, incertezas quanto ao futuro da companhia, da família e da pessoa, não foi uma dificuldade. Os líderes empáticos passaram pela pandemia de forma tranquila junto de seus colaboradores ou liderados”, ressalta.
A Berneck não demitiu nenhum colaborador durante a pandemia, apesar da incerteza que dominava o mercado. Para completar, a empresa contribuiu em duas ocasiões com um salário adicional a seus colaboradores justamente para aumentar a segurança financeira, demonstrar a confiança nos funcionários e mostrar a preocupação da companhia em um momento em que vários fatores inflacionam as despesas pessoais.
Por outro lado, quem não tinha o conceito de empatia em sua rotina e mantinha um perfil mais frio, exigente e até pragmático teve que aprender rapidamente para conseguir passar por essa fase de forma mais equilibrada, na visão do engenheiro. “O ideal é ter uma cultura organizacional que coloca as pessoas no centro e na dinâmica da estratégia da companhia. Se isso estiver alinhado eu diria que é o bom caminho para o sucesso”, argumenta Fauth.
O perfil do setor de Recursos Humanos (RH) vem mudando já há algum tempo, deixando de ser área operacional e caminhando para uma função estratégica. O advento da Covid-19 colaborou nessa mudança em que o RH não pode mais tratar ou atuar apenas como Departamento Pessoal, mas como parceiro dos gestores na definição das melhores estratégias para a companhia.
Segundo Fauth, entre as novas ações do RH destaca-se o turnover (taxa de rotatividade de pessoal de uma empresa), que é calculado a partir da relação entre o desligamento e a admissão de novos colaboradores. “Usamos todas as informações disponíveis para identificar questões de benefícios, salários, satisfação do colaborador, sempre tentando encontrar a melhor maneira de reduzir essa taxa e, ao mesmo tempo, identificando o perfil do colaborador que mais permanece na companhia, seu nível de satisfação e outros detalhes”, avalia.
O engenheiro enfatiza que o programa deturnover transforma o Recursos Humanos em um RH estratégico que contribui não só para o êxito da companhia, mas também com o aumento do grau de satisfação do colaborador.
Para finalizar, o CEO da Berneck salienta que escutar seu liderado sempre vai agregar algo, independentemente do grau do colaborador, do conhecimento ou da experiência. “A decisão sua como líder não é transferível, mas a decisão será sempre melhor e com menos erros, se houver discussões e trocas. Deve-se liderar com empatia, escutar, conversar, discutir estratégia e apoiar nos momentos difíceis. Coloque-se no lugar do outro e lidere pelo exemplo e como líder faça a diferença”, aconselha o executivo.