Sucessão Familiar – A arte de passar o bastão

19/03/2015
Sucessão Familiar – A arte de passar o bastão | JValério
ISTO É DINHEIRO - Rodrigo Caetano - 19/03/2015 Herdeiro da maior empresa de logística do País, Júlio Eduardo Simões decidiu trilhar seu próprio caminho. Seu novo desafio é conduzir sua própria sucessão. A sucessão familiar é sempre um momento delicado na história de grandes empresas. As brigas entre herdeiros podem levar ao rompimento de relações entre irmãos, pais e filhos, algumas vezes com consequências negativas para os negócios. A família Diniz, por exemplo, que controlou o grupo varejista Pão de Açúcar até 2013, se dividiu no final da década de 1980 a partir de uma desavença entre os irmãos Abilio, o primogênito e preferido do pai Valentin para sucedê-lo, e os mais novos Alcides e Arnaldo, que tentaram derrubá-lo, sem sucesso. Já para o empresário Abraham Kasinski, fundador da fabricante de autopeças Cofap, morto em 2012, o destino foi mais cruel. Kasinski cortou em definitivo as relações com seus dois filhos, Renato e Roberto, após tentar tirá-los da companhia por vias judiciais. A empresa acabou sendo vendida para a italiana Magneti Marelli, em 1997. É por esses e outros tantos exemplos que o empresário Júlio Eduardo Simões, herdeiro da JSL, maior empresa de logística do Brasil, com faturamento de R$ 5,5 bilhões no ano passado, pode se orgulhar da maneira como tem conduzido sua própria sucessão. Como herdeiro, Simões soube trilhar seu próprio caminho. Aos 30 anos, em 1988, ele fundou a Locar, também do ramo logístico, mas especializada em transporte de grandes máquinas e estruturas, como guindastes. Dessa forma, abriu espaço para que seu irmão Fernando assumisse o comando da empresa fundada pelo pai, Júlio Simões, morto em 2012. “Houve um pouco de ressentimento por parte do meu pai, mas que logo foi superado”, afirma Simões. “Eu queria empreender e buscar a independência da família.” Hoje a Locar fatura cerca de R$ 600 milhões por ano e tem um patrimônio, entre máquinas, balsas e outros equipamentos, estimado em quase R$ 1,5 bilhão. De herdeiro, Simões agora sente na pele as agruras de ser o patriarca da família e ter de preparar sua sucessão. O processo, no entanto, vem sendo conduzido de forma tranquila. A favorita para assumir a cadeira de presidente é sua filha mais nova, Marina Simões, 28, que praticamente já comanda a Locar. Formada em administração, Marina é hoje gerente-geral da empresa, responsável por toda a operação. Seu irmão mais velho Júlio, conhecido como Julico, curiosamente, segue os passos do pai e tenta trilhar seu próprio caminho. Ele, atualmente, investe no setor de automóveis, tendo sido responsável por trazer para o Brasil a alemã Brabus, especializada na customização de carros da Mercedes-Benz. O pai ainda dá expediente na companhia, mas vem, aos poucos, se retirando para um papel mais estratégico. O segredo para uma transição tranquila, dizem os Simões, está no diálogo. “No início é difícil, a maneira de resolver as coisas é muito diferente entre a minha geração e a dele”, afirma Marina, que concluiu um curso específico de gestão familiar, no ano passado. “Aos poucos, nos entendemos, e ele passou a confiar mais em mim também.” O pai, até hoje, se impressiona com a disposição e a energia da filha, típica da geração nascida após 1980, conhecida como a geração Y. “Ela volta para a casa, depois de um dia no escritório, e continua trabalhando”, diz Simões. “Recebo e-mails à noite que só vou ver de manhã.” Saber conduzir esse processo não é algo trivial. Estimativas da consultoria Ricca & Associados, especializada em sucessão familiar, apontam que apenas 30% das empresas sobrevivem à segunda geração e somente 5% passam da terceira. Outra pesquisa, da consultoria PwC, feita com 120 empresas familiares brasileiras, mostra que só 11% delas possuem um plano de sucessão estruturado e documentado. “Isso indica que muitas empresas não estão preparadas para situações que prejudiquem a longevidade do negócio”, afirma Carlos Mendonça, sócio da PwC. Por outro lado, essas companhias tiveram um desempenho melhor do que a média mundial, em 2013. A maioria (79%) registrou crescimento. O desafio é manter a chama da inovação acesa, algo que as novas gerações podem contribuir. No caso da Locar, Marina já está passando por sua grande prova de fogo. A empresa foi afetada pela operação Lava Jato, da Polícia Federal, que investiga boa parte da sua clientela, formada, basicamente, pelas maiores construtoras do País. Em janeiro, inclusive, a Locar entrou com pedido de falência da Engevix, uma das empreiteiras envolvidas no escândalo, em função de uma dívida de R$ 895 mil. Posteriormente, o processo foi retirado. “Alguns dos nossos clientes estão com dificuldades, mas vêm pagando como podem”, afirma Simões. Neste ano, a previsão é de manter o faturamento. Demissões, no entanto, devem acontecer.
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