Pesquisa mostra importância de estender ações estratégicas da companhia ao setor de recursos humanos
Processos de recrutamento de profissionais servem para buscar colaboradores que estejam preparados para exercer determinada função e cientes dos desafios que serão apresentados. Essa adaptação exige um equilíbrio entre as necessidades e a cultura da empresa com o nível de qualificação e os interesses pessoais do candidato à vaga.
Foi seguindo esse caminho de reflexão que a Fundação Dom Cabral (FDC) e a Robert Half desenvolveram uma pesquisa com o objetivo de identificar os fatores mais importantes e o que mais desperta atenção dos recrutadores no momento da contratação. Cerca de 700 especialistas em Recursos Humanos e profissionais empregados e fora do mercado foram ouvidos por via online no mês de maio deste ano, entre os dias 3 e 27.
A pesquisa só reforçou um sentimento já bastante forte nas empresas: o sucesso de uma companhia passa pelo perfil dos funcionários que lá atuam. Essa realidade demonstra que os processos de seleção e contratação devem ser encarados como parte estratégica do negócio.
As próprias respostas dos entrevistados na pesquisa indicam essa tendência. Para os recrutadores, questões que mais importam na hora de contratar envolvem a experiência prévia do candidato (86%), o fit cultural (52%) e a indicação (33%) a partir de pessoas de destaque do mercado e da academia.
Entre as preferências que não fazem a diferença para o pessoal do RH estão a disponibilidade para início do contrato (6%) e a disponibilidade geográfica do candidato (10%).
O chamado “fit cultural”, situação em que o funcionário se adapta com facilidade à forma de pensar dos representantes da empresa, é um fator que vem sendo cada vez mais valorizado. “Conforme mostra a pesquisa, ele ganha mais destaque entre as grandes companhias. No entanto, não deixa de ser relevante para empresas de todos os portes. Contar com profissionais que se adequem à cultura organizacional é importante não só para os resultados, mas também para o clima e motivação dos colaboradores”, afirma Mário Custódio, diretor associado da Robert Half.
Para Paul Ferreira, diretor do Centro de Liderança da FDC, “melhorar a qualidade da correspondência entre as preferências dos empregadores e dos candidatos é fundamental para uma economia próspera”. Ferreira afirma que essa questão é relevante, pois de forma paradoxal o Brasil assiste a um aumento da taxa de desemprego, mesmo com resultado positivo na geração de empregos formais. “O desvelamento dessas preferências também pode promover uma maior inserção no mercado de trabalho”, ressalta o representante da FDC.
Ao tentar entender o que os profissionais empregados buscam quando recebem outra proposta de emprego, a pesquisa apontou a remuneração com 56% das respostas. Na sequência, vieram aderência do cargo à experiência prévia (46%) e desafio proposto (45%).
Por outro lado, não surgem como fatores importantes a empresa ter sido indicada por alguém do mercado ou da academia (9%) e a identificação com o potencial gestor direto (11%). Quem está empregado também disse (59% das entrevistas) que busca de forma ativa por novas oportunidades no mercado de trabalho.
Esta percentagem indica mudanças profundas na realidade das carreiras, que deixam de seguir um histórico linear para uma trajetória sem fronteiras.
“Em média, o profissional trabalhará para mais de 12 empregadores diferentes durante sua carreira e poderá ocupar diferentes profissões simultaneamente. Vale notar a maior aderência a esta questão dos jovens e das mulheres, certamente por encontrarem-se em situação de maior vulnerabilidade profissional, embora estejam empregados”, observa Paul Ferreira, da FDC.
Já para os desempregados que buscam retomar a carreira, a remuneração não é prioridade. Para 60%, existe concordância em aceitar um salário menor ao anterior. Outros 38% admitiram alguma disposição. Apenas 2% disseram que não concordavam em baixar o salário para ficar com o emprego. Já entre os profissionais empregados, esse índice sobe: 30% disseram que não dariam sinal verde para a diminuição, outros 26% admitiram alguma disposição e 43% disseram que tudo iria depender da oportunidade. Apenas 1% dos entrevistados empregados respondeu que aceitaria um salário menor.
Mário Custódio, da Robert Half, disse que o comportamento dos desempregados quanto a um salário menor em um potencial novo emprego “pode ser justificado”. “Uma vez desempregada, a pessoa tem como primeiro objetivo retornar ao mercado de trabalho e tende a observar outros itens, além da remuneração, ao avaliar uma proposta. Profissionais empregados, no entanto, colocam esse quesito em primeiro lugar”, disse Custódio. Para as empresas, permanecem alguns aprendizados com a pesquisa, principalmente quando há interesse em determinado profissional em destaque na área em que atua. Ao tentar atrair um funcionário de outra companhia, é importante se certificar de que a sua proposta de remuneração é compatível com o mercado e atrativa o suficiente para que o candidato aceite a movimentação.