Levantamento constatou que conselhos consultivos de empresas brasileiras priorizam metas financeiras e abordagem de indicadores. Realidade precisa mudar
Resultados financeiros e análise de indicadores. Estas são as maiores preocupações dos conselhos consultivos das empresas brasileiras na atualidade. A constatação é um problema, pois com estas prioridades, o pensamento de ações estratégicas no longo prazo acaba ficando em segundo plano.
Essa realidade foi identificada na pesquisa “O mercado de conselheiros consultivos no Brasil”. O levantamento foi realizado pela Fundação Dom Cabral (FDC), associada da JValério Gestão e Planejamento, e a NEO Executive Search, empresa de consultoria voltada ao recrutamento executivo e estruturação de colegiados.
A pesquisa mostrou que os temas mais acionados nos grupos consultivos foram: acompanhamento de indicadores financeiros (54,2%), aprovação de contas (33,3%) e monitoramento de metas e desempenho das áreas das empresas (24,7%). O quesito que ficou em último lugar acabou sendo a definição de estratégias de inovação, com apenas 13,3% das respostas.
Causas
As Situações em que uma espécie de “cultura do imediatismo” costuma consumir a maior parte das agendas de trabalho, de acordo Paul Ferreira, diretor do Centro de Liderança da FDC e professor de liderança e estratégia da escola Ele deu entrevista ao Valor Econômico sobre esse assunto e afirmou: “É bastante comum os acionistas e executivos das companhias entenderem o conselho como um fórum para questões emergenciais e de curto prazo, impedindo que uma agenda planejada e com foco no futuro seja cumprida”.
Ferreira observa que os comitês podem ser formados por diferentes perfis, abrindo maior espaço para a abordagem de outros temas importantes, como o da inovação. “Conselhos mais experientes têm atuações mais estratégicas”.
Na mesma pesquisa, foram detectadas situações que podem oxigenar os conselhos e, por consequência, priorizar temas que façam a diferença nas ações das empresas.
Caminhos de mudança
A mudança passa, por exemplo, por uma seleção mais aprimorada dos membros dos conselhos consultivos, com a participação de profissionais independentes e munidos de especialidades para influenciar estratégias de longo prazo, além da presença de executivos convidados a contribuir sobre tendências do setor que se quer investir, como anda o mercado e quais novas tecnologias estão sendo empregadas.
Esse caminho de mudança passa também por uma maior avaliação do funcionamento das assembleias. As soluções apontadas para criar conselhos mais heterogêneos não são praticadas em 60% das empresas que fizeram parte do universo da pesquisa. Portanto, há muito trabalho pela frente.
Experiência dos conselheiros
A pesquisa ouviu 154 entrevistados, verificando que 62,8% são provenientes de grupos consultivos e outros 20,9% dedicam-se a juntas de administração estatutárias. Os 62,8% atuam em empresas familiares de capital fechado.
Ao abordar a experiência dos conselheiros, a pesquisa verificou que os CEOs (15,1%) e consultores (15,1%) já trabalham nessa função por mais de 15 anos, e que a maioria atua em três a cinco conselhos simultaneamente.
“Olhando para as competências técnicas dos integrantes, eles têm bagagem em estratégia e negócios [65,9%] e formação em finanças e contabilidade [13,6%]”, comentou Ferreira na entrevista ao “Valor”.
A pesquisa também verificou como é feita a contratação dos mentores. Do total, 15% são escolhidos por consultorias de recrutamento ou através de instituições de governança corporativa. Os demais 85% passam a trabalhar nos conselhos via indicações das companhias em que já prestam assessoramento.