No post de hoje, contamos como foi o primeiro dia do 6º Fórum Anual de Governança e Gestão, promovido pela Fundação Dom Cabral (FDC); palestrantes renomados apontaram caminhos para crescimento
“O Cliente no Centro – quando o foco é a estratégia”: esse foi o tema do 6º Fórum Anual de Governança e Gestão, promovido pela Fundação Dom Cabral (FDC). As palestras online foram realizadas na última semana e foram ministradas por especialistas renomados. Eles debateram estratégias e práticas de negócios inovadoras que devido às imposições da pandemia fizeram com que as lideranças repensassem o elemento fundamental de todo o seu negócio: o cliente
Confira os destaques das palestras que aconteceram no dia 22 de setembro.
O assunto foi abordado pelo economista Ricardo Amorim, que traçou uma linha do tempo e contextualizou o novo cenário, desde a escalada do novo Coronavírus no Brasil, até os desdobramentos provocados pela vacinação.
Na visão dele, com grande parte da população vacinada no país e os números de internações e óbitos reduzindo, não há motivos para restrição das atividades econômicas. No entanto, Amorim defende a exigência do passaporte de vacinação como já acontece em vários lugares da Europa.
O economista foi além e citou o caso do grupo chinês Evergrande, que está em crise em meio às dívidas acumuladas no mercado imobiliário. Segundo Amorim, há grande chance de ocorrer uma nova crise financeira global causada por perdas brutais do setor financeiro. O resultado desse processo pode ser uma quebra generalizada de bancos ou, no mínimo, uma grande contração da oferta de crédito que será sentida no mundo todo.
“Até aqui, o crescimento da economia mundial era forte, mas o aumento de preços, a alta de matéria prima e o dólar nas alturas estão pressionando a inflação”, arrisca Ricardo Amorim, que também aposta “que a alta de juros será maior do que o mercado prevê”. Na visão dele, o que poderia ajudar os brasileiros é uma queda forte do dólar, a retomada da confiança por parte de consumidores e investidores e, por fim, a resolução do problema fiscal com a aprovação da reforma administrativa.
Outro aspecto levantado por Amorim foi a mudança climática dos últimos anos que vem se acelerando e provocando furacões, alagamentos, chuvas escassas onde estão as hidrelétricas, tempestades em todo o mundo, entre outros problemas. Esse quadro provoca falta de energia e a solução – o aumento do preço da eletricidade – tem impacto no bolso do consumidor e afeta também os índices inflacionários.
A pandemia acelerou a transformação digital em organizações de todos os portes. Essa mudança, que já estava em curso com o advento da internet, dos aplicativos e das redes sociais, mudou o comportamento do consumidor. “O turismo hoje é feito de costas. O que importa é a pessoa fazer a selfie e mostrar que esteve na Bolívia e não ver a Bolivia”, explica Amorim.
Conforme ele, isso é importante porque quando um fato como esse aparece na rede social é como se fosse uma propaganda da Bolívia, com a chancela do cliente, que virou fã. A nova forma de divulgação, “espontânea”, mexe com o departamento de Marketing e isso vale para tudo, política, religião, entre outros setores.
“É a importância de se manter o foco no cliente”, afirma e economista. Ela destaca ainda: “se a empresa conseguir entregar algo que seu cliente ache tão bacana a ponto de sair contando para todo mundo, isso daria uma amplitude ou credibilidade que você não construiria sozinho. E o teu negócio teria possibilidade de crescer de forma exponencial que antes não existia”.
Para o economista, a adoção das tecnologias será acelerada mais ainda quando a geração “ativa digital” - ou seja, que já nasceu na era digital - entrar no mercado de trabalho.” A pandemia agilizou esse processo e os jovens de agora darão continuidade. O novo normal é transformação mais acelerada”, argumenta Amorim.
A segunda palestrante convidada a falar foi Martha Gabriel, que enfatizou o debate em torno do Digital Marketing Strategy. Ela é Futurista pelo Institute For The Future, embaixadora no Brasil da Geek Girls LatAm e a única brasileira que compõe a Faculty Internacional do Crossknowledge.
Martha esclarece que quando se fala em transformação digital, busca-se fazer o tempo todo a integração entre as empresas e o mercado funcionar de forma fluida para que se maximize os resultados alcançados. “E é o marketing que estuda, analisa e entende esse mercado que está o tempo todo mudando de forma acelerada desde os anos 50”, esclarece Martha.
Para ela, “mudança é um processo pelo qual o futuro invade nossas vidas”. Ela cita como exemplo, o caso de um homem que em 2018, no Japão, casou-se com um holograma de inteligência artificial. “O fato é uma sementinha de cenários futuros em que provavelmente teremos seres digitais convivendo e interagindo com a gente”, revela.
Quem sabe faremos marketing para seres digitais? Na visão de Martha, provavelmente sim, porque cada vez mais “estamos interagindo com eles, enquanto coworkers, gestores ou atuando sob nossa orientação. São mudanças que mostram cenários do futuro”, acredita.
A futurista também vê a pandemia como a grande aceleradora dos “futuros digitais”. Quem já estava nesse processo, se preparando, fazendo transformação digital, enxergando a aceleração, estava mais preparado para enfrentar as mudanças provocadas pelo cenário pandêmico.
Martha reconhece que não está sendo um ano fácil. “Estamos vivendo uma revolução de metaverso que é o mundo físico fundido com digital. Se não entendermos essas regras não saberemos desbloquear o verdadeiro valor. Que cenário é esse que temos que entender?”, questiona a futurista.
Ela responde abordando os conceitos “Vuca” e “Bani”, que designam um novo contexto mundial e que se complementam. O primeiro, criado por volta de 1980, identificava um mundo caracterizado pela volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. O segundo - até por razões provocadas pela pandemia - alterou essa realidade e a tornou mais frágil, ansiosa, não linear e incompreensível. “Não estamos vivendo um mundo menos volátil, incerto, complexo e ambíguo. Pelo contrário, estamos vivendo isso ao quadrado”, avalia Martha.
Martha dá uma dica: “Quando se pensa em um ambiente tão complexo, e não se enxerga o que está acontecendo, é primordial voltar-se ao básico, lembrando o que você é, o que quer, quem está ao seu redor, com quem você está atravessando esse cenário desafiador.
De forma prática, ela define que marketing é entender de pessoas, não importa o contexto. Importa que há pessoas com desejos e necessidades. A pergunta é: como resolvo isso? É o marketing que vai resolver, vendo o que a pessoa precisa e o que se dará em troca. Nessa definição não importa a tecnologia: o marketing começa e termina com pessoas.
“Se focar na tecnologia, esquece-se da pessoa. Há momentos em que o digital não é a melhor tecnologia. É preciso pensar o que são necessidades e desejos e a tecnologia tem que ajudar a entender isso para satisfazer as pessoas. Com isso se faz o mix ideal de tecnologias digitais ou não para atender as necessidades e desejos das pessoas”, sugere Martha.
Ela ressalta ainda que, se levarmos em conta o que o público quer, é preciso lembrar que as pessoas hoje conseguem acessar tudo. “Estamos vivendo a era do “e” e não do “ou”. Temos que ser ‘eficientes e baratos’, ‘rápidos e eficientes', ‘rápidos e baratos'. Não é ter lucro ou ser sustentável. As duas coisas andam juntas. As demandas em todas as áreas têm que ser atendidas de forma equilibrada por meio da tecnologia, seja no meio ambiente, no social, na economia, no esporte, na alimentação, em qualquer área”, diz.
Na visão da especialista, não temos que nos preparar para um futuro digital e, sim, para um futuro híbrido (que combina o aprendizado presencial tradicional com o online). A partir da superaceleração digital, quando terminar a pandemia, o mundo não voltará ao estágio anterior e isso reflete no comportamento do consumidor. “Ele vai querer, no ponto físico, ter a melhor experiência presencial e a melhor experiência digital. Muitas vezes nem se percebe em que meio está. Sempre digo, não existe online e offline, existe oneline, ou seja: a melhor linha para conseguir a melhor experiência e ter estratégias interessantes”, afirma.
Na opinião de Gabriel, é preciso trabalhar com a realidade atual e traçar as estratégias em um mundo acelerado. A agilidade é o passo inicial. Para acompanhar esse mundo acelerado, vuca e híbrido, é preciso investir em estratégias híbridas. Nesse contexto são necessárias pessoas cíbridas, que sabem atuar como um ser híbrido do mundo digital e do mundo físico. Desde o início da banda larga, esses dois mundos estão o tempo todo presentes. De novo aqui, é necessário abraçar a tecnologia porque só ela permite a fluidez das ações hoje.
Para ter bons resultados com os públicos, sejam quais forem, inclusive na área pessoal, aconselha a especialista, “temos que usar o máximo de tecnologia porque tudo ao nosso redor que puder ser automatizado, será”, observa a especialista.
Ela reconhece que as pessoas estão em um gargalo “porque cada vez menos estamos emocionados e cada vez mais automatizados. Estamos anestesiados. Temos que ter emoção e causar emoção. É isso que fixa a memória, a marca. Temos que ter ética, essa que sempre regulou as relações entre os seres humanos. E a empatia que permite que nos conectemos com o outro por meio da dor e da alegria, gerando uma relação mais fácil. Emoção, empatia e ética são os ingredientes para causar e ter boas experiências e usando a tecnologia ao máximo. A tecnologia nos iguala e a ética, empatia e emoção nos diferenciam”, salienta.
Gabriel destaca a importância da experiência que é novo campo de batalha da diferenciação competitiva. A experiência é a alma de qualquer produto ou serviço.
“Nesse processo que estamos vivendo há algumas décadas estamos mudando o polo de valor do mundo. Estamos indo do mecânico para digital, de hardware para software, do tangível para o intangível. Na realidade, estamos transferindo e dando valor do corpo para a alma, do físico para espiritual”, aponta.
Ela orienta que a grande mudança dos 4 P’s do marketing (produto, preço, praça e promoção) é o desvio do foco no produto. “O que vale agora está na pergunta: qual experiência estou atendendo, quais os produtos, serviços e tecnologias que tenho que usar e gerar para atender essa experiência? Poucas empresas fazem isso hoje”, relata Martha.
Ela acrescenta que, com o avanço da tecnologia, tão rapidamente, as pessoas mudam de comportamento e seguem esse mesmo ritmo, acelerado. “Ano passado, por exemplo, em um primeiro momento, buscava-se um sistema de conexão com a internet para realizar videoconferência e consumir conteúdo. Em um segundo momento, as pessoas se cansaram e já passaram a querer selecionar conteúdo ou formas de atuação e interação, tudo numa fração de tempo muito curta. E temos que adequar o que oferecemos em função disso, senão oferecemos algo que as pessoas não querem mais. Isso está cada vez mais dinâmico”, observa.
O professor da Fundação Dom Cabral, Hugo Tadeu, destaca que a transformação digital não pode ser definida apenas como a substituição do analógico para o digital. É preciso romper culturas ainda arraigadas e apostar em pessoas que saibam da necessidade de se avançar na digitalização dos negócios, principalmente num mundo corporativo pós-covid - que já está se impondo. Com a pandemia da Covid-19, as empresas tiveram que mudar o planejamento e os processos de gestão às pressas. Quem já estava estruturado na área tecnológica, usou dessa vantagem para absorver melhor o impacto.
“Quantos executivos ainda acreditam que o mundo depois da vacina vai voltar ao que sempre foi?”, questiona Tadeu. Sobreviverá, na opinião dele, quem adotar um misto de estratégia, investimento, adoção de novas tecnologias e crenças para poder avançar no quesito transformação digital. “Muito mais do que a tecnologia, somos nós, que temos conhecimento profundo, que podemos interferir nessa agenda. A pessoa deve ser o centro, jamais estar a reboque do equipamento, que nesse caso é o acessório, a ferramenta”, finaliza Tadeu.