Média Gerência e a Evolução das Espécies na Formação da Estratégia

14/12/2016
Média Gerência e a Evolução das Espécies na Formação da Estratégia | JValério

Os ambientes com os quais as organizações se deparam estão cada vez mais complexos e dinâmicos, limitando a capacidade da alta administração em detectar, interpretar e processar informações (Walsh, 1995). Isso faz com que a média gerência exerça o papel central de orientar a organização para perto de seus clientes e demais partes interessadas, detectando ideias e mobilizando recursos a favor de alternativas estratégicas (Kanter, 1982).

A crescente literatura sobre média gerência segue a abordagem do processo de formação da estratégia e parte do pressuposto de que o desempenho é mais influenciado pelo que acontece no “meio” da organização, e não nos altos escalões. Os indivíduos da média gerência são vistos como agentes-chave para a estratégia. Sua maior proximidade junto à linha de frente e sua posição intermediária na hierarquia formal fazem com que eles tenham conhecimento sobre alternativas estratégicas que requerem maior atenção. O papel da média gerência na implementação da estratégia é, portanto, crucial, dada a sua capacidade de exercer influência de baixo para cima, defendendo alternativas e sintetizando informações, e de cima para baixo, interpretando e traduzindo a estratégia em ações (Floyd; Wooldridge, 1992).

Embora exista a expectativa de que membros da média gerência exerçam papéis específicos ao longo do processo da estratégia, diferenças em normas, valores e prioridades podem criar tensões ao longo do tempo, relacionadas a quais papéis deverão ser cumpridos. Tais tensões são descritas por Floyd e Lane (2000) como conflitos entre papéis estratégicos. Percebe-se que o cumprimento dos papéis estratégicos depositados sobre a média gerência pode ser constrangido, ou estimulado, dependendo da maneira como os mesmos se relacionam com indivíduos da alta administração. Isso porque a alta administração possui a importante função de desenvolver um ambiente propício para que os membros da média gerência sejam, conforme esperado, agentes centrais na formação da estratégia.

Baseado nessa premissa, Mantere (2008) demonstra que a emergência dos papéis estratégicos da média gerência de defender alternativas e sintetizar informações depende de atitudes específicas da alta administração. Por exemplo, o autor indica que cabe aos membros da alta administração convidar indivíduos da média gerência a participar das ações de planejamento. A alta administração também deve reagir a novas ideias sugeridas por membros da média gerência, arbitrando entre elas (Mantere, 2008).

Essa reflexão nos permite propor uma agenda de pesquisa integrada sobre média gerência, sobre a qual algumas possíveis questões de pesquisa para estudos futuros são: Quais os papéis desempenhados pela média gerência e pela alta administração ao longo do processo estratégico? Como evolui o relacionamento entre tais grupos? Como essa dinâmica influencia o estabelecimento de comportamentos estrategicamente alinhados em diferentes níveis da organização? Como são desenvolvidas alternativas estratégicas na organização? Como tais alternativas são defendidas pela média gerência e selecionadas pela alta administração? Quais os impactos desse processo sobre o desempenho? De que maneira tais dinâmicas influenciam a formação de estratégias?

A literatura sobre média gerência na abordagem do processo de formação da estratégia possui importantes contribuições que podem ser estendidas para as teorias já estabelecidas. O olhar voltado para a prática gerencial nos permite investigar comportamentos, procedimentos, formas de pensar, discursos e objetos utilizados socialmente para se realizar a estratégia (Jarzabkowski et al., 2007). Assim, é possível compreender mais a respeito de detalhes sobre como gestores transformam informações ambíguas relativas a tecnologias e mercados em dados explícitos de apoio à tomada de decisão, sintetizando informações. Também nos aproximamos dos processos sociopolíticos utilizados pela média gerência para defender alternativas, convencendo a cúpula sobre novas áreas de negócios nas quais a organização deve ingressar e se desenvolver. Soma-se a isso o melhor entendimento da capacidade que a alta administração possui de moldar o contexto estrutural, valendo-se de diversos mecanismos formais e informais que podem inibir ou estimular a ação de agentes estratégicos (Noda; Bower, 1996).

Fonte: FDC
O que achou sobre o conteúdo? Vamos conversar? Deixe um comentário.
ASSINE NOSSA NEWSLETTER