Plano estratégico da empresa deve observar mais a fundo o hábito de transferir ativos para áreas mais promissoras de negócios
O ano de 2020 foi exemplar a respeito das mudanças rápidas que o setor corporativo registrou. Com a pandemia da Covid-19, negócios considerados importantes no planejamento estratégico poderiam agora ocupar uma estrutura que garantiria um desempenho empresarial maior em relação a outra área da organização.
A busca por um crescimento acelerado precisa de novas ferramentas em face de cenários cada vez mais disruptivos. A expansão deve ser pensada a partir da inclusão de um novo hábito no processo de gestão de empresas: a cultura de adequações constantes numa era em que tudo pode mudar de forma repentina.
Investir ou desinvestir ativos, diante dessa nova realidade desafiadora, são palavras distintas, mas que podem ter uma similaridade quando adquirem um objetivo prático: a competitividade da empresa.
Pesquisa da empresa de consultoria internacional EY ajuda a compreender o atual momento. Os números: 95% dos empresários brasileiros que foram entrevistados disseram que mantêm ativos no portfólio por mais tempo do que deveriam.
Na parte mundial da pesquisa, o índice dos que também afirmaram conservar ativos por tempo demais chegou aos 78%. Ou seja, o cenário está desenhado para as companhias de porte nacional e internacional tomarem providências para dar maior prioridade à questão dos desinvestimentos.
Chamado de “Global Corporate Divestment Study”, o estudo realizado neste ano apontou que empresas que fazem desinvestimentos falham em atender expectativas de mercado envolvendo preço, prazo de venda e impacto do múltiplo valuation sobre o negócio remanescente (RemainCo). Na pesquisa do ano passado, 86% das empresas brasileiras manifestaram ter planos para realizar desinvestimentos nos próximos 24 meses.
No entanto, sem o sucesso esperado com as operações, o sinal amarelo acendeu, obrigando as lideranças a redobrar a atenção. O momento atual mostra a importância de incorporar ao plano de estratégia da empresa as decisões de desinvestimento. É preciso identificar qual a influência que cada negócio tem nas ações de crescimento e quais são os reflexos que elas poderão produzir a longo prazo.
Outra necessidade é melhorar a frequência com que deve ser feita a revisão do portfólio. Esse hábito reúne condições de fundamentar com segurança as decisões sobre desinvestimento. Assim, um negócio que não se encaixa mais na estratégia da empresa pode sofrer mudanças sem demora, com a quantidade certa de capital direcionada a outro setor com maior potencial de impacto.
Cabe a liderança ou CEO elevar essa nova filosofia de trabalho a um nível de rigor para analisar o que pode ou não fazer parte da política de desinvestimento. Essa postura gera condições ágeis de resposta quando os primeiros sinais de correção de rota passem a surgir. Não basta querer agir, mas ter o timming correto para adotar essa postura.
Ao reavaliar objetivos, a tendência de aparecimento de novos focos de atuação é uma etapa natural, levando as prioridades de mudança para funções dentro da companhia, mercados ou produtos, por exemplo.
São decisões complexas capazes inclusive de fazer dos novos investimentos uma alavanca para aumentar o valor dos serviços, produtos e da marca da empresa junto a seu público interno (colaboradores) e externo (clientes e fornecedores). Essa dinâmica pode ser bem aproveitada ao longo do desenvolvimento das ações estratégicas para garantir uma expansão futura. E o que isso significa? Para a empresa, a capacidade de manter alta competitividade, forte estrutura de ação para conquistar novas fatias de mercado e retenção de recursos humanos cobiçados pela concorrência. Os stakeholders agradecem.