Empresas familiares: conflito de gerações pode atrapalhar transição

15/06/2023
Empresas familiares: conflito de gerações pode atrapalhar transição | JValério

Longevidade desses negócios depende do processo sucessório, que deve começar o quanto antes, para envolver os herdeiros e despertar neles um laço relacional com a organização

O cenário etnográfico das empresas familiares na atualidade é mais um desafio do processo sucessório. A longevidade da chamada geração baby-boomers, a geração X em plena atividade e a inserção no mercado de trabalho dos millennials formam esse cenário transgeracional nas famílias empresárias. E conciliar as múltiplas linhas de pensamento, além das expectativas de sucessores e sucedidos, é um dos principais dilemas para a condução da passagem do bastão na atualidade.

Contudo, se todos os envolvidos no processo tiverem planos para driblar todos os obstáculos, as empresas familiares podem prosperar e passar de geração em geração. E, neste artigo, vamos abordar os desafios das empresas familiares mais comuns e como lidar com eles. Boa leitura!

Mas afinal, o que é uma empresa familiar?

As empresas familiares podem ser definidas como organizações com posse e gestão de membros da mesma família. Portanto, o empreendimento é transmitido de geração em geração e as decisões de negócios são tomadas pela família, ao invés de terceiros sem relação de parentesco ou investidores externos.

Para se ter uma ideia da importância das empresas familiares, basta olhar para esses números: os negócios familiares respondem por cerca de 65% do PIB e 75% da força de trabalho nacional. Daí a importância da longevidade dessas empresas, que contribuem com a economia brasileira.

A continuidade das famílias empresárias é tema de vários estudos conduzidos por especialistas em administração porque a dinâmica é completamente diferente - e mais complexa - em relação às organizações tradicionais. Afinal, nas empresas familiares, o vínculo afetivo e o negócio dividem a mesma seara e podem ser conflitantes porque nem sempre o que é bom para a organização vai ao encontro dos interesses pessoais dos próprios donos.

Contudo, há outras características que favorecem o crescimento das famílias empresárias e são nesses fatores que os comandantes desse negócio devem se concentrar para alavancar os resultados. E, no tópico a seguir, leia sobre quais são essas vantagens que colocam as empresas familiares à frente das demais organizações.

As singularidades das empresas familiares

Não apenas pela proximidade entre as pessoas (sócios e colaboradores), as empresas familiares possuem algumas particularidades que as diferenciam das demais organizações. Alguns fatores influenciam positivamente na gestão desses negócios. Entre os principais, estão:

Sócios dedicados: os membros da família que dirigem uma empresa familiar possuem uma relação afetiva genuína com o negócio e o consideram como um filho. E, por essa razão, estão mais propensos a ter um comprometimento a longo prazo com a empresa e seus colaboradores.

Legado: esse é um dos maiores trunfos das famílias empresárias. O legado é a marca, o ensinamento deixado pelos fundadores para os herdeiros na criação e condução do negócio. As empresas que apresentam um legado claro e objetivo são mais valorizadas e atrativas para os clientes, pois eles buscam, cada vez mais, se relacionar comercialmente com empresas que demonstram crenças e valores próprios, com a qual possuem uma afinidade.

Flexibilidade: asempresas familiares podem ser mais flexíveis porque há menos burocracia na hora da tomada de decisões. Neste sentido, as decisões podem ser tomadas com mais agilidade, sem a necessidade de consultar comitê externos;

Comunicação eficiente: a relação direta entre os membros da família pode ser mais eficiente em comparação à comunicação entre funcionários e gerentes em empresas não familiares;

Preservação da identidade ao longo dos anos: empresas familiares tendem a ter uma cultura e valores únicos, que são transmitidos de geração em geração, algo que pode ajudar a preservar a identidade e a integridade da empresa ao longo do tempo.

Os desafios das famílias empresárias para manter a longevidade do negócio

A expansão das empresas familiares depende de uma boa gestão quando as novas gerações assumem o negócio. Inclusive, a passagem do bastão é um dos momentos desafiadores para essas organizações, além dos conflitos que podem existir no processo sucessório ou quando os herdeiros passam a comandar a companhia. Nos próximos tópicos, elencamos os principais desafios enfrentados pelas famílias empresárias.

Processo sucessório

Ao contrário do que comumente acontece na prática, o processo de sucessão é demorado e deve começar o quanto antes, e não apenas na ausência dos fundadores. Portanto, delegar para a próxima geração o comando da companhia deve ser uma meta para as lideranças das famílias empresárias. E quando essa meta é comunicada com clareza desde cedo, os herdeiros começam a desenvolver um laço relacional com a organização, facilitando a passagem de bastão no futuro.

Aliás, quando os comandantes do negócio delegam projetos de grande responsabilidade para os herdeiros, têm a oportunidade de observar as capacidades deles para assumirem o negócio. Esse envolvimento com as rotinas e processos das organizações facilita a escolha do melhor sucessor entre os membros da família, sempre pensando na longevidade da empresa familiar.

E, se acaso os fundadores perceberem que não há interesse dos herdeiros de atuar diretamente na organização ou que eles ainda não estão preparados para isso, é hora de pensar em contratar alguém no mercado para fazer a gestão da empresa.

Além dos sucessores, os sucedidos também devem ser preparados para abrir mão do controle da empresa, pois como já dissemos neste artigo, muitas vezes, os fundadores possuem uma relação paternal com o negócio, o que dificulta a transição. A pesquisa Global NextGen 2022, realizada pela PwC, aponta que 57% dos entrevistados acreditam que a hesitação da geração atual em se aposentar é um problema no processo sucessório.

“Passar o bastão para os herdeiros é um evento único na vida dos fundadores, que criam um vínculo emocional forte com o negócio, por ser parte da vida deles. O sentimento nutrido em relação à empresa é como se fosse de mais um filho. Daí a insegurança natural de um pai sobre o futuro de sua prole. O fundador precisa estar 100% seguro de que a empresa estará em boas mãos e que os líderes futuros irão preservar o seu legado e contribuir com o crescimento e expansão do negócio”, afirma Clodoaldo Oliveira, diretor geral da JValério Gestão e Desenvolvimento. 

Conflitos geracionais

As diferenças de opinião e prioridades entre os membros da família é um dos maiores desafios no processo sucessório. Sem dúvidas, os conflitos geracionais sobre os rumos que a empresa deve tomar é um dos entraves na transição do poder nas famílias empresárias.

Um dado relevante da pesquisa da PwC, que citamos no tópico anterior, demonstra um desalinhamento de pensamento entre os atuais comandantes do negócio e dos herdeiros em relação a pautas como a implementação de ações que competem à sigla ESG (meio ambiente, social e governança), por exemplo. A pesquisa aponta que as gerações atuais ainda não estão convictas que tais práticas estejam vinculadas ao crescimento dos negócios.

A adoção de novas tecnologias e a digitalização dos negócios é mais um ponto conflitante entre fundadores e herdeiros. Os principais motivos são:

  • Mentalidade conservadora: membros fundadores em cargos decisivos e uma mentalidade conservadora e resistente às mudanças, o que pode ser uma barreira para a implementação de inovação.
  • Cultura organizacional: por refletir o perfil dos donos, a cultura organizacional de uma empresa familiar pode frear a digitalização do negócio.
  • Competência técnica: alguns membros da família podem não ter a competência técnica necessária para compreender a necessidade de trazer soluções inovadoras, o que pode atrasar a entrada da empresa em algum novo mercado, por exemplo.

Como lidar com os conflitos geracionais?

O relatório da pesquisa Global NextGen 2022 apresenta ainda algumas orientações sobre como conduzir o processo sucessório. Juntos, fundadores e herdeiros devem encontrar respostas para as seguintes perguntas: quais habilidades de liderança e experiência são necessárias para permitir que o negócio prospere?; o que trará crescimento no futuro?; e quais são os estágios e marcos no caminho para a sucessão (o que os NextGens precisam alcançar para ganhar um lugar no conselho, por exemplo)?

Para Clodoaldo Oliveira, a pesquisa evidencia que conquistar a confiança dos gestores da geração atual para conseguir implementar um novo modelo de gestão é um processo demorado. “O futuro das empresas familiares pode estar nas mãos das novas gerações, capazes de enxergar que a gestão precisa ser atualizada e que os negócios do passado estarão fadados à estagnação. Os fundadores estão com a faca e o queijo nas mãos: é hora de formar uma comunidade de solucionadores nas famílias empresárias e unir profissionais com habilidades diferentes para tornar as organizações sólidas e longevas”, finaliza.

Desenvolvimento de gestores de empresas familiares

Para dar suporte aos gestores que desejam aprimorar os conhecimentos e alavancar os resultados das famílias empresárias, a JValério Gestão e Desenvolvimento e a Fundação Dom Cabral oferecem o PDD - Programa de Desenvolvimento de Dirigentes).

A formação é aplicada em formato carrossel, de modo que os participantes podem ingressar no programa em momentos diferentes do ano. Entre os conteúdos previstos estão temas como estratégia, projetos, finanças, marketing, processos e gestão de pessoal, em aulas presenciais e online.

Os módulos presenciais têm 16horas de duração, divididos em dois dias consecutivos de 8horas. Já os online são compostos de 4 encontros de 3,5 horas cada. As turmas são formadas por até 25 pessoas.

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