De Natura a Coca-Cola: marcas que praticam economia circular

20/08/2024
De Natura a Coca-Cola: marcas que praticam economia circular | JValério

Saiba o que representa, na prática, aderir às boas práticas presentes em modelos de negócios baseados no sistema de circuito fechado

Prestes a sediarmos a COP 30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas que, em 2025, será realizada em Belém (PA), no coração da amazônia brasileira, vamos aproveitar o hype para falar sobre o conceito que além de inovador, já pode ser considerado vital em se tratando de mitigar os efeitos adversos do consumo desenfreado, da geração excessiva de resíduos e dos processos industriais tal como os conhecemos. Chamada de economia circular, a abordagem propõe às organizações e governos, bem como a toda sociedade, redesenhar o ciclo produtivo responsável pelo desperdício e uso dos recursos naturais acima da capacidade regenerativa da Terra, que acarretam uma série de impactos negativos ao meio ambiente. Em suma, a ideia é criar e fortalecer formas de gestão em sintonia com a perspectiva do desenvolvimento sustentável.

Criado para desassociar a relação, até então inexorável, entre eficiência econômica e exploração, sobretudo, ambiental, se baseia nos 4 R’s da sustentabilidade para, de fato, sair do papel: reduzir, reutilizar, reciclar e repensar. Vista como um elemento-chave nesse processo, a economia circular chega para substituir o modelo linear, no qual o potencial da matéria-prima é utilizado dentro do limite de sua vida útil, até virar lixo logo em seguida. Além da degradação de diversos ecossistemas e da emissão de gases poluentes, causadores do aquecimento global, trata-se de um paradigma completamente falido e incapaz de sustentar o peso das consequências, por vezes, irreversíveis - muitas delas sendo presenciadas atualmente. Em outras palavras, somos bilhões de seres humanos praticamente “estrangulando” o lugar onde vivemos.

Partindo da premissa, transformar a atividade empresarial apostando em modelos de negócios com princípios capazes de unir competitividade e compromisso socioambiental por meio de produtos e serviços economicamente viáveis e ecologicamente eficientes deixou de ser uma pauta do amanhã para se tornar de vez uma prioridade institucional e corporativa. A exemplo da tendência ESG, incorporada ao DNA de inúmeras empresas mundo afora, empresários, empreendedores e líderes têm apostado alto no que é infinito, crescente e abundante: ou seja, o capital intelectual das pessoas, tido como uma das principais estratégias para entregar valor a consumidores e stakeholders enquanto se age no enfrentamento aos desafios, os do nosso tempo e os que estão por vir. As mudanças são culturais e sistêmicas, mas, principalmente, exigem uma rede de colaboração.

Vamos aprofundar?

Etapas da economia circular

Agora que você sabe qual é o objetivo principal da economia circular, descubra quais são os estágios necessários para que novos negócios possam surgir baseados no sistema de circuito fechado proposto pela metodologia.

  • Design sustentável: os produtos são projetados com a circularidade em mente, incorporando materiais ecológicos, facilidade de reparo e reciclabilidade. Esta etapa se concentra em reduzir o desperdício e prolongar a vida útil;
  • Produção: os processos de fabricação priorizam a eficiência de recursos, minimizando o desperdício e utilizando fontes de energia renováveis. A etapa de produção busca criar com o menor impacto ambiental possível;
  • Consumo: o uso passa a ser otimizado por meio de modelos de compartilhamento, aluguel e reaproveitamento, promovendo o consumo responsável, reduzindo a necessidade de novas aquisições e incentivando a escolha por bens duráveis ou provenientes de cooperativas e cadeias de reciclagem e regeneração;
  • Manutenção e reparos: um cronograma regular capaz de prolongar a capacidade de utilização, reduz a demanda e diminui o consumo de recursos;
  • Remanufatura e recondicionamento: os itens são desmontados e seus componentes são reaproveitados ou remanufaturados, de modo a preservar o valor dos materiais e reduzir o desperdício;
  • Reciclagem e recuperação: no final de todo esse ciclo, os materiais são reciclados e reintegrados ao ciclo de produção.

10 benefícios da economia circular

Após adotar as boas práticas propostas pela economia circular, empresas de diferentes portes e segmentos passam a colher uma série de vantagens, entre as quais se destacam as 10 abaixo:

  1. Valorização dos recursos naturais
  2. Redução de resíduos e do desperdício
  3. Economia de custos
  4. Diferencial competitivo e maior valor agregado à marca
  5. Fortalecimento da reputação
  6. Melhor relacionamento com clientes, fornecedores e parceiros (fidelização)
  7. Rapidez nas respostas às demandas dos consumidores e do mercado
  8. Cumprimento de legislações (como a Política Nacional de Resíduos Sólidos)
  9. Redução de riscos relacionados a escassez de recursos
  10. Incentivo à cultura da inovação

Quem faz economia circular: de Natura a Coca-Cola

Implementar um modelo circular econômico não é uma tarefa fácil, especialmente quando toda sua indústria segue a orientação linear. Porém, não é impossível. Saiba quais são as organizações que atuam pautadas em ações que visam o reuso e reciclagem de seus próprios materiais a seguir.

Natura

A Natura, empresa brasileira de cosméticos, está engajada com práticas circulares. Hoje, de acordo com a fabricante, 33% dos resíduos de suas embalagens são reciclados e a meta é chegar aos 50%. O programa Natura Elos promove o consumo consciente, bem como estabelece parcerias com cooperativas de reciclagem, indústrias de beneficiamento e muitos outros stakeholders da cadeia de valor da economia circular.

Ademais, contam com um programa de logística reversa que coleta embalagens vazias em todo o Brasil. Desde 2020, possuem mais de 700 pontos espalhados em 280 cidades do país justamente para incentivar a adesão dos clientes na hora de fazer o descarte adequado, impulsionando a circularidade e minimizando impactos ambientais.

Coca-Cola

Em 2019, a Coca-Cola FEMSA Brasil, responsável por engarrafar as bebidas, alcançou a marca de 100 milhões de garrafas PET recicladas dentro do período de um ano. O mais interessante é que a empresa não faz tudo sozinha. Pelo contrário, mantém parcerias com catadores de  recicláveis e cooperativas do gênero.

Apple

Tão grande quanto engajada é a Apple. No próprio site da multinacional americana é possível ver uma apresentação sobre como ela lida com a fabricação de seus dispositivos. Aliás, soubemos por lá que todo portfólio é pensado de maneira sustentável. O novo iPhone, por exemplo, é feito inteiramente com material reciclado. Além disso, as famosas embalagens da marca da maçã também não incluem mais filmes plásticos. Conforme a gigante da tecnologia, isso ocasionou uma redução de 75% no uso de plástico descartável em comparação com os índices de 2015.

Nespresso

Não é segredo, ao menos para quem possui uma máquina Nespresso, que o descarte das cápsulas sempre foi uma questão delicada. Afinal, não adiantaria ter criado um método inovador para preservar os aromas e sabores do café em doses perfeitas, se o componente principal significasse mais poluição e fosse inviável em uma era que urgentemente precisa de cuidados.

Pensando nisso, a reciclagem é um ponto fundamental na cadeia de produção, a começar pelo alumínio que protege a bebida da umidade e da luz, 100% reciclável. Até mesmo os resíduos de pó são separados sem o uso de água e transformados em adubo orgânico por uma empresa de compostagem.

Essas e outras ações são fruto de práticas circulares do Centro de Reciclagem Nespresso, localizado em Osasco (SP). Após a implementação, quase um quarto das cápsulas vendidas foram recuperadas. O alumínio das embalagens passou de lixo a infinitamente recuperável, enquanto o pó de café vira adubo para nutrir plantações diversas.

Ikea

Já a solução circular da Ikea, na gringa, foi comprar móveis de clientes que já não os queriam mais. Assim, a empresa encontrou uma maneira de diminuir o descarte dos itens e, em vez disso, comercializá-los como peças de segunda mão.

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