Cooperativismo mostra potencial em tempo de crise

22/09/2021
Cooperativismo mostra potencial em tempo de crise | JValério

Crescimento do setor foi expressivo, mesmo no período de pandemia. Desafio agora é buscar profissionalização para administrar o negócio em constante expansão

O sistema cooperativista mostrou suas potencialidades e resiliência diante da crise causada pela pandemia da Covid-19. O crescimento financeiro médio chegou a 30% no Brasil em 2020, período de baixa na grande maioria dos setores econômicos afetados pela proliferação da doença. Uma das explicações para esse comportamento está na gênese desse sistema: a proximidade com os clientes, que são também os sócios do próprio negócio.

As análise e informações foram destacadas no podcast “Gestão e Desenvolvimento”, apresentado pelo diretor executivo da JValério Gestão e Desenvolvimento, Clodoaldo Oliveira. Artur Costa, diretor de negócios da CrediSIS, cooperativa que atua no setor financeiro com sede em Rondônia, foi o convidado para debater “a transformação socioeconômica das cooperativas de crédito”. Os dados e possibilidades são animadores para o setor.

Enquanto os grandes bancos decidem fechar agências, as cooperativas financeiras, por exemplo, continuam abrindo unidades físicas de atendimento. Esse perfil de cooperativismo já representa 18% do setor financeiro do país, se preparando para bater a meta do Banco Central de chegar a 20% até o ano de 2025.

Direção oposta

"A cooperativa sempre viveu na contramão dos grandes bancos”, afirmou Costa. Ele explicou que esse movimento ocorre diante da essência do cooperativismo, que é estar próximo das pessoas, gerando engajamento em prol de um objetivo comum: o desenvolvimento da comunidade onde ela está inserida.

“O banco está mais para o lado do capitalismo e o cooperativismo fica com a valorização das pessoas. Tem muitas cidades que só contam com a cooperativa de crédito como agente bancário. Quando abrimos novos postos, estamos indo atrás das pessoas para dar oportunidades para elas terem acesso a serviços financeiros”, destacou Costa.

O caso da CrediSis é um exemplo. “Estamos sediados em Rondônia e percebemos carência de serviços financeiros nos municípios. Temos crescido acima de 30% ano após ano, muito acima do crescimento dos bancos”, ressaltou o executivo. De acordo com Costa, “a preocupação com o custo existe, pois o negócio tem que ser viável, mas levamos com muita parcimônia”.

Intimidade

Para Clodoaldo Oliveira, da JValério, esse interesse em atrair clientes que ficam de fora das grandes redes bancárias tem a ver com o tipo de relacionamento que o cooperativismo oferece. “O movimento cooperativista conversa olho no olho, não é apenas no relacionamento remoto, pois ele estimula a relação presencial com o cliente”, disse Oliveira.

Artur Costa contou que é comum as pessoas irem até a agência para tomar um café ou bater um papo para trocar informações e experiências. “Temos um programa para nossos gerentes tornarem-se consultores, e dali já nasceram grandes projetos através de conversas informais”, revelou.

Por isso, micro e pequenas empresas e produtores rurais sempre estão no foco das cooperativas. “São classes que são pouco valorizadas. A gente tem visto o crescimento do agro, mas até poucos anos atrás era bem difícil que o produtor tivesse um atendimento, o mesmo ocorrendo com as micro e pequenas, que não têm condições de oferecer garantias para obter financiamentos”, observou Costa. “Na cooperativa a gente substitui as dificuldades pela proximidade. Com o relacionamento que a gente tem com ele, se consegue acessar o crédito, e o risco das operações diminui bastante”.

O mesmo aconteceu com os informais, a partir de sua regulamentação no mercado de trabalho e na legislação trabalhista e previdenciária. “Quando nasceu o MEI (Microempreendedor Individual), o cooperativismo foi um dos grandes incentivadores do movimento para formalizar os informais”, lembrou Costa.

Democratizar a distribuição de renda

"O pessoal ligado a esses setores tem um papel importante na possibilidade de democratizar as riquezas”, disse Costa. O dirigente da CrediSis explicou em detalhes: “A cooperativa de crédito sempre foi um instrumento muito bom da sociedade para ajudar na distribuição de renda. Um dos interesses do movimento cooperativista é o interesse pela comunidade. E a distribuição de renda acontece naturalmente. O recurso fica na comunidade, entre os cooperados, que adquiriram produtos financeiros”.

Essa movimentação beneficia a própria cooperativa, garantindo sua atuação a longo prazo. “Naturalmente, toda a cooperativa se fortalece e se distribui a renda igualmente e justamente. O propósito da cooperativa é a valorização do seu cooperado. A gente existe para atender ele. Ao mesmo tempo que é cliente, ele também é dono do negócio”, disse Costa.

Clodoaldo Oliveira chamou a atenção sobre a importância de profissionalizar a gestão dos negócios dos cooperados. Para o diretor da JValério, o trabalho que o sistema cooperativista realiza, com a criação de outros indicadores para dar condições de acesso ao crédito a empreendedores, possibilitou a evolução de micros e pequenas empresas e setores do agronegócio, que antes estavam fora do radar dos agentes financeiros comuns.

Para não perder essa oportunidade, Oliveira ressaltou a necessidade dos donos de negócios cooperados manterem serviços que possam exercer controle sobre a gestão e identificação de estratégias e correções de rota nos negócios.

Pandemia

O setor cooperativista também recorreu à transformação digital com a chegada da pandemia. Artur Costa contou que na CrediSis, ações programadas para os próximos cinco anos tiveram que ser readaptadas para funcionar em espaços de três meses. As assembleias, que pela natureza do setor cooperativista, representam o ponto alto do sistema, onde todas as decisões importantes são tomadas pelos sócios, contaram com a tecnologia para manter sua regularidade. Os encontros antes presenciais tiveram que ser readequados para ser realizados de forma remota. Tecnologias usadas para cursos online foram adaptadas para organizar as assembleias, por exemplo.

“Muitas tecnologias foram aceleradas nesse período. Quando surgiu a pandemia tivemos que fazer as assembleias à distância, e desenvolvemos ferramenta própria para a tratativa das reuniões”, afirmou Costa. Esse tipo de estratégia de abordagem por canais digitais se estendeu para aprofundar a comunicação com o cooperado, com temas como educação financeira, cursos e serviços de informação. É o mundo em movimento contínuo, que gera a transformação que o bom empreendedor precisa estar atento para captar. 

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