Clodoaldo de Oliveira, Diretor Executivo da JValério, comenta em entrevista exclusiva a CBN Cascavel os principais pontos da pesquisa realizada pela FDC, em parceria com a PWC (PricewaterhouseCoopers), divulgada neste mês de maio.
A pandemia de Covid-19 provocou uma série de impactos e obrigou mudanças nas relações sociais e econômicas. Governos anunciaram medidas de distanciamento para conter a propagação do novo coronavírus, o que gerou reflexos no setor produtivo.
Companhias que planejavam a absorção das tendências ao longo dos anos – como a passagem do analógico para o digital, o fortalecimento do e-commerce, o avanço do ensino à distância e do home office - tiveram de se adequar às novas exigências em tempo recorde. Com as empresas familiares de pequeno e médio porte, a situação não foi diferente. O “tsunami” surgiu de repente, trazendo ondas de choque de todos os tipos.
As empresas familiares, no entanto, conseguiram reagir bem à crise, graças a capacidade de adaptação desses negócios, muitas vezes centenários, que já sobreviveram a diversas mudanças no cenário econômico.
Por ser uma instituição de formação continuada, com foco na gestão, a Fundação Dom Cabral e a JValério realizam pesquisas para identificar o que está acontecendo no universo corporativo para conhecer as necessidades dos executivos. Essa identificação é necessária para tenhamos condições de aperfeiçoar nossos produtos de acordo com as demandas do mercado, no sentido de orientar os gestores, de servir como uma bússola, para melhorar os resultados a curto e a longo prazo. E em especial, esse estudo, realizado em parceria com a Pwc, teve como objetivo avaliar os efeitos da pandemia junto às empresas familiares. Trata-se de uma pesquisa que contou com a participação de 2600 empresas familiares no mundo, entre elas, 282 são brasileiras.
Elas mostraram que permaneceram firmes diante das tempestades econômicas com origem na Covid-19. 82% relataram que não precisaram de capital adicional em 2020 (contra 79% no mundo), o que mostra que a resiliência é um dos pontos fortes dos negócios no Brasil. O otimismo é grande, 78% esperam crescer em 2021 (contra 64% no mundo).
As empresas familiares multigeracionais têm uma grande vantagem. Pela sua própria existência, elas demonstram capacidade de evoluir para atender às novas demandas, por vezes honrando o legado e, simultaneamente, mantendo os valores da família. Muitas empresas familiares de grande porte em funcionamento hão mais de um século já se reinventaram várias vezes. Especialmente na crise que estamos enfrentando, as famílias empresárias mostraram que levam a gestão de riscos a sério e a capacidade de adotar um planejamento se dá em um ambiente incerto e com mudanças rápidas, onde as perspectivas de curto e médio prazo para a maioria das empresas ainda são altamente imprevisíveis. É graças a essa capacidade de evoluir e se reinventar que vemos tantas empresas familiares funcionado a pleno vapor, há mais um século, atravessando as crises e prosperando.
Sim. O levantamento mostrou que o investimento em inovação, seja nas atividades atuais ou na busca de novos negócios e produtos, é o grande desafio reconhecido pelas famílias empresárias. 85% dos entrevistados brasileiros confirmam que a digitalização, inovação e tecnologia são prioridades, mas apenas 15% - contra 19% da média global - confirmou estar com sua jornada digital completa. Outros 72% - foram 62% na média global - reconhecem que há um longo caminho a percorrer.
Se havia alguma dúvida de que inovações na área de tecnologia da informação, por exemplo, poderiam ainda ser consideradas supérfluas ou postergadas sob o pretexto da contenção de gastos, a pandemia tratou de eliminá-la.
As empresas familiares que já dispunham de uma estrutura digital para absorver impactos causados pela Covid-19 se saíram melhor de quem teve de começar do zero para enfrentar a nova realidade. Nesses casos, as adequações resultaram em maior agilidade e menor impacto na administração das operações.
Isso mesmo. E quando falamos de digitalização, não basta se ater às novidades em termos de equipamentos que facilitam a vida de todos. No mundo corporativo as mudanças tecnológicas provocam uma reação mais complexa que envolve toda a cadeia: a relação dos colaboradores e líderes com as ferramentas, os reflexos nas receitas e como o cliente passa a interagir no momento no qual essas mudanças tecnológicas chegam até ele.
Não é incomum que o planejamento envolvendo a transformação digital seja relegado a um plano secundário. A própria pesquisa comprovou com números o que nossos consultores, na escola de negócios, observam na prática. Os gestores, pressionados pela concorrência e o cumprimento de metas, não raro priorizam garantir a mera entrega do que foi planejado na planilha, o que já se convencionou chamar de “Ditadura do Excell”. Postergar algo como a transformação digital que vem se inserindo e estabelecendo novas necessidades, como a pandemia tem demonstrado, pode inclusive ameaçar a continuidade da empresa.