Por: Reinaldo Paiva
“Os que se dedicam à crítica das ações humanas jamais se sentem Tão embaraçados como quando procuram agrupar e harmonizar sob uma mesma luz Todos os atos dos homens, pois estes se contradizem comumente a tal ponto Que não parecem provir de um mesmo indivíduo. Somos todos constituídos de peças e pedaços juntados de maneira casual e diversa, E cada peça funciona independentemente das demais. Daí ser tão grande a diferença entre nós e nós mesmos Quanto entre nós e outrem. Como Cícero, crede-me, não é coisa fácil conduzir-se Como um só homem”. Michel de Montaigne (1592).
Que o diga Fernando Pessoa, o poeta maior da língua portuguesa do século XX. Quanto poderia ter sido, quão grandioso fora, fracionado em tantas “pessoas” diferentes – heterônimos -diversas almas em choque, de opinião confrontante e humor mais extremado. Num mesmo ser.
Ser gente não é tarefa simples. Gente se faz. Não nasce pronta. Gente se constrói, se torna, é uma tarefa que não acaba nunca. É um projeto mais que uma conclusão; uma jornada mais que um destino.
Portanto, autorrealização, ou em outras palavras, realizar o seu potencial e chegar a ser plenamente quem você é dá trabalho. E aqui, concordando com os filósofos existencialistas: primeiramente nós recebemos a existência, nos dão a vida, “caímos no mundo”. Mas então, ao viver a vida, damos respostas, pensamos, criamos alternativas, respondemos às demandas; é preciso então tomar partido, construir a identidade, transformar a presença em ato e emergir-se como pessoa, criar a sua essência, o seu ser. Dar sentido à existência. É isso o que significa a máxima: a existência precede a essência!
Como seres humanos, então, não basta ter vida, é preciso se inventar, se afirmar, reconhecer e ser reconhecido. Mergulhamos num mundo dado e forças sociais operam para nos formar, dirigir e enquadrar. Mas em algum momento, em vários momentos na realidade, nos perguntamos porquê? Para que? É isso mesmo? E declaramos nessas horas - muitas vezes luminosas, noutras sombrias - o que queremos, quem somos, como estamos, o que deixaremos de legado nessa vida, nesse mundo, quem queremos ser. O véu do “ser levado por” cai, e ganhamos a “direção, o comando de nosso destino”. Assim e aqui começa a verdadeira jornada da individuação como disse o Psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, da autorrealização.
Quem elevou o termo autorrealização ao status que tem hoje foi o Psicólogo norte-americano, Abraham Maslow, que em 1943 apresentou para o mundo pela primeira vez o conceito da Hierarquia das necessidades humanas, como parte de um trabalho maior sobre o potencial humano. Na década de 1950 nos EUA, Maslow foi um dos mais importantes representantes e fundadores da Psicologia Humanista, que tinha como principal foco deslocar a ênfase dada às doenças e patologias no comportamento humano, para o reconhecimento das habilidades, potenciais criativos e saúde mental positiva das pessoas.
Segundo Maslow, as necessidades, e sua hierarquia, desempenham um papel muito importante na motivação das pessoas e consequentemente para a realização de seu potencial.
Ele dividiu as necessidades humanas em 5 categorias ou agrupamentos e instituiu uma espécie de progressão – hierarquia – passando das mais básicas, vitais e fundamentais para a sobrevivência às mais elevadas, psicológicas e existenciais. Na figura a seguir você pode observar essas categorias resumidamente, escalonadas numa pirâmide:
As necessidades da parte mais inferior da pirâmide – fisiológicas e de segurança - são aquelas que sustentam a vida, estão mais relacionadas a sobrevivência do organismo, representam a sustentação vital. A não realização dessas necessidades em algum nível compromete a vitalidade, a saúde e o bem-estar do organismo, impactando fortemente na sua sobrevivência. Estas necessidades sujeitam mais fortemente o indivíduo a sentimentos de vulnerabilidade, deficiência ou frustração. As demais necessidades, usando a escala ascendente na pirâmide – Relacionamento, Estima e Autorrealização - são de natureza mais complexa. Ativam, disparam e são afetadas por vivências mais psicológicas, emocionais, sociais e existenciais.
Para se autorrealizar e desfrutar de todo o potencial humano disponível, as pessoas teriam que realizar, frequentemente, em algum nível, todas as necessidades dessas categorias. Maslow indica que a autorrealização só é possível, quando as necessidades dos níveis inferiores estão relativamente satisfeitas. As hierarquias podem ser compreendidas em termos de necessidades de segurança, necessidades de estímulo e necessidades de posicionamento no mundo.
Vamos falar um pouco mais sobre cada uma das necessidades:
São aquelas consideradas mais essenciais e vitais para a sobrevivência como alimento, agua, ar, sono, sexo, excreção, homeostase, por exemplo. Elas precisam ser realizadas ou conquistadas em algum nível e com frequência sob pena do indivíduo perder a vida. Todas as demais são secundárias a menos que estas sejam minimamente atendidas, realizadas.
Necessidades de segurança ou proteção são aquelas relacionadas à segurança do corpo – roupas, abrigo, vizinhança segura por exemplo – segurança financeira, de recursos, da saúde, securidade social, ambiente favorável, entre outros.
Também conhecidas como necessidades sociais – ou psicológicas - incluem o desejo de pertencer, a ânsia por ser amado e amar, ter intimidade, sentir-se aceito, acolhido. Fazer parte de algo maior. Nesse nível a família, as amizades, as parcerias, o romance, a intimidade e se envolver com grupos de interesse e organizações sociais, comunitárias e religiosas são fundamentais.
Nessa categoria estão as necessidades de ser respeitado, valorizado, estimado pelos demais e ter o sentimento de estar contribuindo para a melhoria do mundo a seu redor. Aqui é o espaço da autoestima, da autoconfiança, dos sentimentos de segurança em si mesmo, conquista e respeito. Essas necessidades podem ser satisfeitas por meio da participação em atividades profissionais e sociais significativas, hobbies e atividades de laser e realizações acadêmicas, por exemplo. Ser reconhecido como uma referência ou ser um modelo pode alimentar essa necessidade.
A categoria mais elevada de todas, a necessidade de autorrealização ou de realizar plenamente o seu potencial representa, em poucas palavras, tudo aquilo que uma pessoa pode e é capaz de se tornar. Também chamada de necessidade de crescimento ou de ser, ela engloba a espontaneidade, criatividade, a busca de solução inovadora de problemas, a ausência de preconceito, a abertura mental, a civilidade, a compreensão da complexidade da vida e o senso de contribuição e cooperação para a posteridade. Representa o mais alto grau de maturidade a que podemos chegar. A sensação de completude e integração com o mundo, com os outros, com a vida.
Quem não quer se autorrealizar?
Quem não gostaria de concretizar todo o seu potencial?
Quem de nós não deseja ser tudo aquilo que poderia ser?
“Para onde vai a minha vida, e quem a leva? Por que faço eu sempre o que não queria? Que destino continuo se passa em mim na treva? Que parte de mim, que eu desconheço, é que me guia? Quem sou, Senhor, na tua treva e no teu fumo? Além da minha alma, que outra alma há na minha? ” Fernando Pessoa (1930).
Ser tudo aquilo que você pode ser passa, portanto, pela busca diária ou frequente de encontrar ambientes, respostas, atividades e realizações nessas categorias de necessidades humanas. Das mais básicas e essenciais às mais fundamentais e existenciais. Para isso, você precisa se conhecer de verdade. Você precisa ouvir os seus desejos, vontades, aspirações, sonhos e anseios mais profundos. Mergulhar nesse território profundo, abissal, subjetivo da personalidade e do ser. Precisa ser capaz de dar voz a eles e descobrir formas de transformá-los em atos, pois o mundo – interior e exterior - muda com atos e não com intenções. Fácil de falar ou de dizer. Trabalhoso de fazer.
“Um homem não sente dificuldade em caminhar por uma tábua Enquanto acredita que ela está apoiada no solo; Mas ele vacila – e afinal despenca – ao se dar conta De que a tábua está suspensa sobre um abismo. “ Avicena (Filósofo árabe – Séc. XI D.C.).
Vários são os caminhos para se chegar a um mesmo destino. Alguns solitários, outros acompanhados. Um bom amigo, leal e verdadeiro; um confidente; um parceiro ou parceira de muitos anos; um religioso; um líder no trabalho; um psicólogo ou profissional da saúde; juntamente com uma boa dose de vontade, reflexão e consciência podem ser excepcionais para esta jornada rumo à plenitude do ser.
Um dos caminhos possíveis para empreender essa jornada é através do Coaching. Segundo Andrea Lages e Joseph O´Connor o “Coaching é uma parceria entre um profissional (Coach) que ajuda a um cliente (Coachee) a atingir o melhor em sua vida pessoal e a produzir os resultados que ele quer em sua vida pessoal e profissional. A intenção deste método é similar a outras profissões de suporte: ajudar uma pessoa a mudar da maneira que ela quer e suportá-la na transformação para o melhor que ela possa ser”.
Como método de desenvolvimento humano, que encoraja e desenvolve habilidades, o coaching tem três pilares:
Uma das abordagens que fundamenta o processo de coaching, está relacionada à Programação Neurolinguística (PNL). Iniciada na década de 1970 com os trabalhos de John Grinder, Linguista e Richard Bandler, Psicólogo, ela estuda a maneira como estruturamos e experiência subjetiva – como pensamos, sentimos e agimos. O nome dessa disciplina de estudo é proveniente de três áreas: Neurologia – o estudo da mente e como captamos, processamos e respondemos aos estímulos; Linguística – como usamos a linguagem para conferir significado às experiências; e Programação - os hábitos e ações que estruturamos para responder às demandas e atingirmos nossas metas. A partir desses estudos a PNL estabeleceu alguns pressupostos que se coadunam perfeitamente com o trabalho de Coaching e podem nos ajudar a atingirmos todo o potencial que podemos ser. O especialista em PNL Joseph O´Connor, em seu Manual de Programação Neurolinguística descreve os 13 pressupostos da PNL, muito úteis para refletirmos e abordarmos a nossa vida.
São eles:
O que estes conhecimentos, dessas diversas áreas de estudo, podem nos trazer?
Além de abrir os nossos olhos para algumas dimensões da vida que precisam ser cuidadas, eles também nos ajudam a dar direção e sentido para a existência. É isso que a ciência faz: dá sentido e direção. É quase como um GPS: o destino é escolha nossa, a jornada pode ser direcionada pelo “aparelho e seu software”, mas a decisão pelo percurso é nossa e quem vai dirigir é quem escolhe, mais ninguém.
Então o que podemos fazer com tudo o que vimos até aqui?
Primeiro, e mais importante, decida-se enxergar a sua vida através de algumas “lentes” objetivas e consolidadas. Por exemplo: como está seu grau de satisfação das necessidades apontadas por Maslow? Você tem alimentado com frequência e adequação sua fome, sede, sono, descanso, desejo de intimidade? Tem respirado bem? Tem criado e construído um ambiente seguro para você? Tem um lar para voltar, quando tudo parece estar se perdendo? E quanto ao amor? À amizade? A pertencer a algo e junto com outros fazer algo que é maior que você, além de você?
Tem sido respeitado? Respeita aos outros? Consegue conviver bem com as diferenças? Confia em si mesmo e nos outros? Acredita que hoje, realizou todo o seu potencial? Sente-se integro? Completo? Feliz? Realizado?
Segundo, avalie suas respostas profundamente e olhe para si mesmo com o olhar afirmativo de quem tem propósitos para fazer o que faz; recursos, capacidades, experiências e habilidades para encontrar alternativas melhores; bem como escolhas, energia e modelos ou apoio para mudar.
Terceiro, e finalmente: existem metodologias e profissionais preparados que podem te auxiliar nessa jornada que é solitária – porque é sua jornada e ninguém poderá fazê-la em seu lugar – mas pode ser acompanhada.
Faça algo a respeito. A hora é agora. Lance-se nessa surpreendente viagem rumo à si mesmo.
Caso contrário você corre o risco de sentir-se como Fernando Pessoa (1935) descreveu nos versos:
“Tudo quanto penso, Tudo quanto sou É um deserto imenso Onde nem eu estou. ”
EDELMAN, Sara. Basta pensar diferente. Como a ciência pode ajudar você a ver o mundo com outros olhos. Ed, Fundamento. 2014.
GIANNETI, Eduardo. O livro das citações. Cia das Letras Editora. 2008.
KLEINMAN, Paul. Tudo o que você precisa saber sobre Psicologia. Ed. Gente, 2ª edição. 2015.
LAGES, Andrea; O`CONNOR, Joseph. Coaching com PNL. Ed. Qualitymark. 2004.
O´CONNOR, Joseph. Manual de Programação Neurolinguística. Ed. Qualitymark. 3ª reimpressão. 2006.
Psicólogo, Administrador, Consultor Empresarial nas áreas de Gestão de Pessoas, Treinamento e Desenvolvimento Humano e Organizacional, especializado em Neurociências, Terapias Cognitivas, Coaching e Educação de adultos. Pós-graduado em Gestão de Negócio, Programação Neurolinguística, Consultoria Empresarial. Experiência como Gerente de RH, Change Management em projetos de implantação de novos processos, Consultor de empresas, Psicoterapeuta cognitivo, Palestrante, Facilitador de grupos e Coach executivo. Membro associado do Instituto Brasileiro de Coaching (IBC) e do Global Coaching Community, habilitado em Professional & Self Coaching, Neurocoaching e Behavioral Analyst. Formado em Psicologia Positiva e Pratitioner em Forças de Caráter pela Wiegrow e Pelo Instituro Flow respectivamente.
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