O dia de um profissional é cheio de decisões que variam em graus de complexidade e em estilos de decisão. As pessoas usam estratégias diferentes para encontrar soluções — tendo consciência disso ou não.
Decidir diariamente cria uma espécie de padrão de comportamento que se repete diante de novos problemas. Com o objetivo de entender como as decisões do dia a dia podem influenciar a vida pessoal e profissional, o empresário americano Jeff Shinabarger escreveu o livro Yes or No: How Your Everyday Decisions Will Forever Shape Your Life (“Sim ou não: como suas decisões cotidianas vão moldar sua vida para sempre”, numa tradução livre, ainda sem edição no Brasil).
Especialista em ajudar startups a solucionar problemas sociais, Jeff identificou os sete perfis mais comuns de tomadores de decisão que se baseiam em fatores como personalidade e estilos de raciocínio.
Os perfis são diferentes — o que não significa que um é melhor do que o outro ou que alguém ficará preso só a um estilo. Tão importante quanto conhecer as próprias características é perceber como chefes, parceiros e colegas agem. “Eles podem trazer contribuições únicas para seu processo de decisão”, afirma Jeff.
1 - O indeciso
Não consegue tomar uma atitude assertiva e costuma adiar a decisão até o ponto em que é tarde demais. Normalmente, age desse modo para evitar conflitos ou porque não gosta de se sentir responsável por deliberações que afetam vidas alheias.
A vantagem: Evitar conflitos desnecessários em uma decisão que envolve opiniões contrárias às suas. A facilidade em ceder, porém, pode se virar contra a própria pessoa.
A armadilha: O problema ocorre quando a indecisão faz com que algumas chances sejam perdidas. Um indeciso tem muito mais probabilidade de definhar anos em um emprego insatisfatório só por não ter coragem de arriscar.
O conselho: Faça um balanço de suas expectativas e de seus medos. A insegurança faz com que só os aspectos negativos sejam levados em conta. “As pessoas exageram e as perdas nem existem”, diz Maurício Sampaio, consultor de carreira, de São Paulo. Arrisque para não perder oportunidades pela falta de agilidade do pensamento.
2 - O coletivista
Quem tem esse perfil só toma uma decisão depois de consultar um bom número de pessoas em quem confia. Além dos conselhos, busca harmonia entre as opiniões diferentes de todos os que dão palpite.
A vantagem: Esse profissional funciona muito bem em situações de liderança democrática, em que a tomada de decisão é feita por meio de consenso.
A armadilha: Pedir ajuda é ótimo, mas profissionais que agem sempre assim esquecem o que querem e se deixam levar pelos outros. “Gasta-se mais energia pensando na opinião alheia do que nos próprios desejos”, diz Anderson Sant’Anna, professor da Fundação Dom Cabral, escola de negócios de Minas Gerais. A consequência é lentidão em decidir.
O conselho: Ouça mais a si mesmo. De nada adianta pedir conselhos a todo mundo que você conhece se não tiver clareza sobre o que quer e espera daquela escolha. “É essencial ter sua opinião antes de abordar o grupo”, diz Paula Abreu, consultora de carreira e autora do livro Escolha a Sua Vida (Editora Sextante), de São Paulo.
Valorize mais suas próprias vontades e intuições. Também é importante chamar a responsabilidade para si mesmo. “Não adianta nada deixar os outros decidirem por você e depois reclamar por não ter a vida que sempre sonhou em conquistar”, afirma Paula.
3 - O aventureiro
Sabe aquela pessoa que parece sempre ter uma história inesperada e divertida para contar? Pode se encaixar nesse grupo. O que motiva suas decisões é a adrenalina e a vontade de ampliar a bagagem pessoal.
A vantagem: O gosto por situações desconhecidas pode facilitar a descoberta e o aprendizado. Já a vontade de compartilhar o que sabe é importante para inspirar as outras pessoas da equipe.
A armadilha: O perigo, no caso, é tomar decisões aleatórias e nem sempre adequadas ao negócio. “Elas querem viver a adrenalina do momento, mas não pode ser aventura só pela aventura”, afirma Anderson. Falta também um cuidado em pensar nos riscos e na coerência entre as escolhas.
O conselho: Evite pensar só sobre o momento presente e entenda que cada decisão é importante para a formação de sua história e o alcance de seus objetivos. Antes de se aventurar, pense nas possíveis consequências no longo prazo para você e as pessoas à sua volta. “A escolha tem de fazer sentido numa trajetória de vida, não pode ser muito para contar e pouco para narrar”, diz Anderson.
4 - O analítico
Reúne o máximo possível de informações: números, estatísticas e compilações de fatos são imprescindíveis. Sem dados, não consegue imaginar que caminho deve seguir.
A vantagem: O hábito de buscar informações é útil em casos que exigem exatidão e análise aprofundada.
A armadilha: Esquecer que as decisões não se limitam ao racional e que há fatores que fogem do controle, como os desejos das pessoas envolvidas, impossíveis de ser analisados com precisão.
O conselho: Procure informações mais subjetivas que possam estar escondidas. Vale sondar as emoções das pessoas da equipe de trabalho para achar uma solução.
5 - O ponderado
Avança somente após ter considerado todos os prós e os contras de cada decisão possível. Costuma fazer listas para colocar no papel quais devem ser as consequências dos caminhos disponíveis.
É diferente do perfil analítico porque, mesmo que goste de dados, pensa em mais de um cenário e leva em conta fatores irracionais. A preocupação é em prever o que vai acontecer a partir de cada uma das possibilidades.
A vantagem: Quem tem esse perfil se dá bem ao analisar situações complexas, em que cada consequência deve ser levada em consideração.
A armadilha: O maior desafio é aceitar que, por mais que se tente imaginar todos os detalhes das possíveis situações, não dá para colocar tudo no papel. “As escolhas envolvem riscos, e o mundo não vai se comportar sempre do jeito que você previu”, diz Anderson. Uma hora, as listas têm de acabar e a decisão deve ser colocada em prática.
O conselho: Procure ter mais flexibilidade para lidar com o desconhecido: sempre pode haver situações para as quais você não traçou um plano de ação, e saber lidar com isso é fundamental para o amadurecimento. Uma alternativa para ampliar o pensamento é trabalhar mais o lado criativo. “A vida não segue sempre em linha reta”, afirma Maurício.
6 - O espiritualizado
As respostas surgem por meio da religião ou das crenças pessoais. Quando confrontados com uma escolha difícil, os espiritualizados buscam se isolar e rezar para ter inspiração e ajuda.
A vantagem: Facilidade em fazer reflexões mais aprofundadas e pensar no significado das escolhas de maneira mais ampla.
A armadilha: O que se guia espiritualmente deve tomar cuidado para não esquecer que, no final, a escolha não é divina, é pessoal. “Tudo bem orar e refletir, mas às vezes quem busca inspiração em uma crença não se responsabiliza pelo que acontece”, diz Anderson. E o grande perigo é ser inflexível e achar que algo só funciona de acordo com suas crenças — o que limita o poder de escolha.
O conselho: Não tem problema buscar em sua espiritualidade auxílio para o melhor caminho a tomar, mas não se restrinja a isso na hora de tomar uma decisão. Procure ampliar as possibilidades e se abra para analisar e escutar outras opiniões e opções. “Use a fé para fortalecer a certeza de que tudo é solúvel, mas busque em sua equipe a ajuda para que suas ideias se concretizem”, afirma Paula.
7 - O intuitivo
Aqui, a emoção vale mais do que a razão. O importante é sentir que aquilo é o certo a fazer, mais do que pensar metodicamente sobre o assunto. Pessoas que decidem assim se arriscam com mais facilidade e tomam decisões com mais velocidade.
A vantagem: Confiar na intuição pode facilitar o pensamento criativo e inovador, além de acelerar o processo de escolha.
A armadilha: Na hora da impulsividade, pode-se deixar passar alguns sinais de que aquele caminho talvez não seja o melhor a tomar — o que causa arrependimentos no futuro.
O conselho: Procure conter o impulso inicial e se pergunte se as possíveis consequências (positivas e negativas) valem a pena. Lembre-se também de que as emoções podem enganar. “Muitas vezes as coisas não acontecem como imaginamos e aí a frustração é grande”, diz Maurício.
Fonte:
Exame - Bárbara Nór, da
VOCÊ S/A