O novo, de novo!

17/04/2018
O novo, de novo! | JValério
Por Fundação Dom Cabral Aos poucos, o quadro de alternativas para o mais alto posto do Executivo, nas eleições de 2018, começa a se delinear. Em oposição ao clamor por renovação, boa parte das opções tem cheiro de passado. E o que é pior, quem se apresenta, teima em o fazer como se o novo fosse. O cardápio que será posto à mesa de maneira definitiva até 15 de agosto, deverá oferecer de mito a indômito. Há quem se diga liberal e aqueles para quem a mão pesada do governo na economia não faz mal. Temos derrotado que não abre espaço para nova liderança e, quem vitorioso nas urnas, acabou sendo derrotado por sua própria conduta e destemperança. Existe quem para não se desgastar preferiu pouco aparecer e aqueles que a cada quatro anos teimam em reaparecer. Tal diversidade faz parte do jogo democrático e é bem-vinda, excluindo-se a tentativa de burlo à Lei da Ficha-Limpa, possibilitando condenado de segunda instância a concorrer, virada de mesa essa, cada vez menos provável de acontecer. E, quem sabe, ainda pode surgir até lá alguma novidade? Não é atrás do novo que estamos? Tenho dúvidas se esse é um desejo majoritário. Queremos o novo, mas muitos de nós ainda valorizamos aqueles com experiência de articulação politica necessária para criar coalizações, ainda que tal competência tenha sido construída na velha lógica do “toma-lá-da-cá”. Queremos o novo, mas ainda nos identificamos, muitas vezes, com os mais espertos. Queremos o novo, mas ainda elegemos descendentes diretos das velhas oligarquias, gestados em uma cultura de busca de manutenção de seus próprios interesses e de defesa dos privilégios de quem representam. Queremos o novo, mas ainda deixamos nos enganar por lobos em pele de cordeiro, mesmo que estes, ao serem tosquiados pela Lava-Jato, tenham revelado suas verdadeiras essências. Queremos o novo, mas ainda abraçamos o radicalismo e intolerância como instrumentos de transformação. Queremos o novo, mas não investimos o tempo mínimo necessário para conhecer a história de vida daqueles que se lançam a nos liderar, a despeito da positiva proliferação de fontes seguras hoje disponíveis. E novos tempos não virão apenas com a eleição de um novo Presidente da República, mesmo que chegasse imaculado, despido de velhos conceitos e práticas. Sem uma mudança radical de nossos representantes no Congresso, eliminando as velhas raposas, não será possível mudar o jogo que é jogado e enviar um recado direto aos partidos políticos da necessidade da renovação de suas lideranças. Fora isso, tire-se o P do nome da sigla do partido, rebatize-os com um verbo que remeta à ação, mas permaneceremos presos a mesma lógica partidária denunciada por Getúlio Vargas em seu discurso de pose em 1937: “Tanto os velhos partidos, como os novos em que os velhos se transformaram sob novos rótulos, nada exprimiam ideologicamente, mantendo-se à sombra de ambições pessoais ou de predomínios localistas, a serviço de grupos empenhados na partilha dos despojes e nas combinações oportunistas em torno de objetivos subalternos”.   Sem tal rompimento, o novo será de novo apenas a velha forma dissimulada de tentar aparentar ser diferente daquilo realmente que se é.
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