Estudos recentes, publicados por professores da escola de economia de Chicago, vêm provocando alvoroço no mundo dos negócios. Os resultados destas pesquisas indicam não haver relação entre investimentos em tecnologia e ganhos financeiros para as empresas. Da mesma forma, um interessante livro, publicado pelo professor Robert Gordon (The Rise and Fall of American Growth, 2016), questiona qual o melhor caminho para o crescimento sustentado, isto é, investir em tecnologia ou na geração de conhecimento? Qual a efetiva relação entre tecnologia, conhecimento e produtividade?
Estudos conduzidos pelo Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC, utilizando bases de dados públicas, sugerem que, ao longo dos últimos anos, houve um aumento significativo dos investimentos públicos e privados, no entanto, foi possível perceber uma drástica queda da produtividade e da rentabilidade das empresas estudadas, apesar do aumento dos recursos disponíveis para inovação. Em específico, grande parte das empresas de tecnologia avaliadas também vêm apresentando resultados financeiros abaixo da média.
Quando analisadas diversas startups, mesmo sendo elas orientadas para o desenvolvimentos de soluções de tecnologia da informação, percebe-se que o principal recursos destas organizações seriam os ativos intangíveis, ou seja, gente altamente qualificada e disposta a realizar a transferência dos aprendizados para o desenvolvimento de novos produtos e serviços. No entanto, no longo prazo, estas empresas tendem a apresentar dificuldades financeiras, relembrando o período das bolhas na bolsa Nasdaq.
Neste sentido, quais os mitos da inovação tecnológica e como estimular uma reflexão sobre o futuro das empresas? O primeiro mito refere-se à tecnologia em si, não sendo a mesma um fim, mas um meio para o crescimento das boas práticas de gestão. Caberia às empresas compreender que avanços tecnológicos devem ser acompanhados de ganhos de produtividade, flexibilidade na solução de problemas e alocação de gente diferenciada nas propostas de trabalho.
Outro mito interessante seria o potencial de solução de problemas com a utilização de qualquer tecnologia. Apesar de todos os avanços recentes em temas como internet das coisas, impressoras 3D, indústria avançada, entre tantos outros, ainda existe a dependência em ensinar máquinas a pensarem como pessoas. Avançando um pouco mais, estes computadores modernos saberiam avaliar dados mas, fundamentalmente, ainda não conseguem fazer perguntas relevantes. Logo, por que não investir em gente qualificada?
A moda do momento é o big data e os sistemas cognitivos. Armazenar dados nas nuvens e deixar que estes sistemas analisem e busquem a solução de problemas como se fossem seres humanos vem sendo apresentado como o grande diferencial competitivo. No entanto, o grande desafio seria ter experiências relevantes com estes sistemas na solução de problemas importantes, e respostas ainda não foram alcançadas.
Outro mito é a necessidade de refletir sobre o futuro das empresas, vinculando o mesmo a questões tecnológicas. Dados pesquisados pelo prêmio Nobel Paul Romer indicam que o período de maior crescimento da história econômica foi entre 1913-1972, justamente com o advento de tecnologias a vapor e da energia elétrica. O período 1995-2004 foi marcado por drásticas crises financeiras mundiais, quando gigantes da internet surgiram. Se não bastasse, o valor adicionado das empresas “ponto com” ao ambiente econômico ainda não é significativo.
Finalmente, o maior desafio seria buscar um novo modelo de crescimento, em que todas as tecnologias pudessem melhorar a qualidade de vida das pessoas, mas o mais importante seria a busca por uma nova forma de pensamento e conhecimento. De nada adianta ter tantas tecnologias, quando dados recentes indicam também que o poder de concentração, de geração de novas ideias e a inteligência humana vêm caindo. O maior mito seria repensar a capacidade humana para ser ainda mais inteligente, e não as máquinas em si.
Fonte: FDC