Saiba quais são os países que conseguem ganhar poder e exercer influência no cenário internacional sem que para isso (nem sempre) precisem entrar em guerra
Era de se esperar que, em pleno 2024, estratégias como a soft power andassem de mãos dadas com a democracia e, ambas, fossem imperativas. Porém, as superpotências ainda fazem uso da força em troca de hegemonia, contrariando as principais teorias das relações internacionais e enfraquecendo as instituições, a exemplo da ONU. Sem falar nos acordos e tratados de paz, geralmente ignorados por governos mais hostis propensos a resolver questões geopolíticas por meio de ações unilaterais e conflitos armados - vide a situação entre Rússia e Ucrânia. Em busca de poder e prestígio, algumas nações insistem em recorrer a táticas perigosas, lançando mão de arsenais bélicos, no intuito de alcançar metas e objetivos - em sua maioria, econômicos e territoriais. Ou seja, elas entram em guerra e provocam consequências devastadoras, sobretudo, na população civil.Longe de tomar partido, muito menos citar nomes, sabemos bem que existem líderes de estado flertando diretamente com regimes totalitários condenáveis nos dias atuais. Ideologias à parte, a história comprova que eles foram o catalisador de atos absolutamente questionáveis sob qualquer ponto de vista racional. Por mais desinteresse que se tenha no assunto, é inegável que, ao longo dos anos, ele vem provocando oscilações no mercado, tanto para o bem como para o mal. Portanto, deve estar na agenda de quem atua no universo corporativo. Sendo assim, vamos aprofundar?
Soft power chega para redefinir o status quo
Para alívio das sociedades modernas, ideias como as propostas no livro “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel, já não são mais condizentes com as leis e crenças da maioria dos países espalhados pelos cinco continentes. Na obra, o autor é categórico ao afirmar que “é mais seguro ser temido do que amado”, referindo-se ao fato de considerar justificável apelar à coerção a fim de zelar pela superioridade. Para que dialogar se podemos atacar e recorrer à violência costuma ser o slogan pregado de forma, por vezes, velada e subjetiva, após a ascensão de políticos cujos discursos defendem que os problemas internos têm origens externas. Contudo, desde a década de 1990, o antigo método vem sendo sistematicamente substituído por mecanismos mais sutis, mas altamente eficazes. Citado pela primeira vez pelo cientista político e professor de Harvard (EUA), Joseph Nye, o conceito de soft power ganhou voz e, felizmente, a adesão mundial. Em contraponto ao antigo modelo, a nova moeda de troca recorre a artifícios alternativos que encontram nos avanços intelectuais, culturais, artísticos e, claro, tecnológicos, a chave para abrir as portas da influência empática, com propósito e que faz jus à boa reputação.
Exemplos de soft power que deram certo
Quer entender melhor como o soft power funciona na prática? Então confira os cinco casos mais conhecidos.
1. Coreia do Sul
Talvez um dos maiores exemplos de nação que usa a tática venha da Coreia do Sul. De acordo com o Yonhap News Agency, jornal sul-coreano, o Ministério da Cultura recebeu mais de 6 trilhões de Won (moeda coreana) em investimentos, o equivalente a quase 2% do orçamento total do país. Com isso, trataram de investir em soft power ao provocar uma “invasão” no ocidente, só que no lugar de armas, mísseis e bombas (comuns no vizinho de quase mesmo nome), utilizaram a cultura para ganhar espaço no cenário internacional. Chamada de “onda coreana”, começou ao popularizar o idioma local através da banda K-Pop. Para se ter uma ideia, segundo dados do site Fortune, apenas o BTS, o maior grupo de pop coreano, gerou mais de US$ 29 bilhões para a economia sul-coreana entre os anos de 2014 e 2023. Em 2017, as estimativas eram de que, a cada 13 turistas que visitavam a Coreia do Sul, um foi por conta do BTS. Soma-se ao fenômeno, as produções televisivas K-Dramas, disponíveis nas plataformas de streaming com números impressionantes: no primeiro semestre do ano, somente com os lançamentos originais, acumularam quase 1,5 bilhão de horas de visualização. Vale lembrar que, em 2019, “Parasita” foi o primeiro longa-metragem não falado em inglês a ganhar o Oscar de “Melhor Filme”.
2. Vaticano
Para além da cultura, também existe a influência religiosa. De acordo com especialistas, o Vaticano é um dos grandes experts no uso da religião como poder brando, já que, oficialmente, o país não possui forças militares e é protegido apenas pela Itália. A Santa Sé, na sua diplomacia, não tem um poder de persuasão como os mecanismos que outros países têm. O que ela tem é soft power e influência, mais do que convencimento. Não por acaso, o atual papa é muito diplomático e tenta, com certo sucesso, chegar a todos os cantos e conversar com todos os povos, indiscriminadamente.
3. Estados Unidos
Sem julgar de maneira isolada a forte tradição em guerras, um meio conhecido dos EUA para espalhar seu soft power sempre foi o cinema - tido como um “morde e assopra” para convencer a audiência global das suas “boas intenções”. Por décadas, os roteiristas norte-americanos escolhiam seus inimigos - ora alemães, ora russos, até chegar aos vizinhos, mexicanos - e todos eles eram retratados como bandidos nos filmes produzidos lá e enviados ao mundo. Ao mesmo tempo, esses mesmos conteúdos propagavam seus valores como a liberdade, o consumo, a política internacional, e assim se estabeleceu como um modelo capaz de encabeçar as grandes decisões políticas no planeta.
4. Catar
Como uma estratégia para limpar a reputação e lucrar, a eleição do Catar como país-sede da Copa do Mundo 2022 reflete a dimensão do soft power. Sem possuir tradição no esporte, mas carregando diversas denúncias de violações aos direitos humanos, as autoridades souberam usar a diplomacia para se projetar internacionalmente e divulgar seus valores em eventos de grande visibilidade. Nesse caso, foi a primeira vez que um megaevento esportivo de tal magnitude aconteceu em uma região árabe. O país conseguiu melhorar sua reputação, familiaridade e influência, entrando pela primeira vez no top 25 do ranking criado pela consultoria Brand Finance.
5. Brasil
Por fim, mas não menos importante, o Brasil figura nessa lista adivinhem por quê? Justamente pelo jeitinho brasileiro, tão depreciado em solo nacional pelos próprios cidadãos. Em matéria de poder, enquanto no hard somos fracos no soft, damos um baile - a começar pelo de favela, mundialmente conhecido na voz da cantora Anitta e, recentemente, trilha sonora da conquista da medalha de ouro no solo da ginástica artística, feito realizado por Rebeca Andrade. Ao oferecer o que temos de melhor, conquistamos a simpatia de quem passa por aqui e vê de perto a imagem de um povo alegre, festeiro, de bem com a vida. Um estilo leve, que usa sandálias Havaianas e raramente se estressa apesar das mazelas que enfrenta. Graças a total falta de vocação às guerras - justificada pelo baixo arsenal militar -, a maioria dos estrangeiros viaja para cá atraída pelas belezas naturais e pela hospitalidade que nos é peculiar. Como resultado, fechamos o primeiro semestre de 2024 com a marca de 3.597.239 turistas internacionais visitando destinos brasileiros. O número é 9,7% maior que o observado no mesmo período de 2023 e 1,9% acima do registrado em 2019. A expectativa é que esse ano termine com uma marca superior ao recorde de 2018 – 6,6 milhões. Os dados são do Ministério do Turismo, juntamente com a Embratur e a Polícia Federal. Com relação aos investimentos estrangeiros, foram US$ 45 milhões em empreendimentos das atividades turísticas somente nos três primeiros meses do ano, resultando em um incremento de mais de R$ 232 milhões na economia nacional. Um aumento de 125% em relação a 2023, quando o país atraiu US$ 20 milhões.Aqui no blog da JValério você fica atualizado sobre atualidade e temas que impactam na gestão das empresas e que estimulam os gestores a pensarem fora da caixa. Nosso objetivo é aprofundar o conhecimento dos nossos leitores e promover gatilhos mentais capazes de provocar mudanças nos negócios. E se quiser, pode deixar nos comentários uma sugestão de temas que gostaria de ver por aqui. Até o próximo post!
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