Como cultivar um ambiente de trabalho antirracista

26/01/2024
Como cultivar um ambiente de trabalho antirracista | JValério

Os debates verdadeiramente capazes de gerar ações e políticas efetivas devem partir das lideranças para só então serem perpetuados por toda a organização

Embora 56% da população brasileira se declare preta ou parda, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 4,7% ocupam cargos de liderança nas 500 maiores empresas do Brasil. A pesquisa, realizada pelo Instituto Ethos, traz mais do que um baixo percentual: ela escancara o abismo colossal que vivemos quando o assunto é representatividade para homens e mulheres negras no mercado, sobretudo, em cargos de alto escalão. Para se ter uma ideia, dados de um estudo do Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental (IPRC), revelam que 53,6% deles já foram alvo de racismo no Brasil.

Portanto, quebrar paradigmas históricos, marcados por preconceitos e desigualdades, deve fazer parte da rotina de executivos em todas as áreas de atuação. Aliás, combater o racismo estrutural, enraizado e naturalizado em nossa sociedade, configura apenas o primeiro passo de uma conduta voltada à justiça racial. Além de aumentar a visibilidade, dando oportunidades a jovens e promissores talentos, é preciso assumir comportamentos que prezam pelo fim das disparidades, bem como criar meios efetivos para cultivar um ambiente de trabalho equitativo e antirrascista.

Vejamos as iniciativas que podem ser feitas para avançar na causa antirracista dentro de empresas e organizações.

Políticas afirmativas: exemplos para combater o racismo nas organizações

A luta pelo fim da discriminação racial não é uma causa apenas dos negros, mas sim uma responsabilidade coletiva. No universo corporativo, cabe a cada um de nós a missão de abraçar esta pauta e promover políticas afirmativas que abram espaço à diversidade  e inclusão (D&I). Nesse sentido, enxergar o problema e trabalhar com intencionalidade se mostra uma ação verdadeiramente relevante e capaz de trazer avanços.

Para a professora da Fundação Dom Cabral (FDC), Cris Kerr, líderes e gestores não podem ignorar os vieses inconscientes baseados em preconceitos, crenças culturais e estereótipos que, muitas vezes, sem nos darmos conta, acabamos por perpetuar. “São eles que criam uma barreira invisível e poderosa que dificulta o avanço de pessoas negras nas corporações”, afirma. Para ela, dizer frases como “eu contrato o melhor, independentemente da raça” é um dos entraves enfrentados pelos profissionais que não são brancos, visto que os fatos falam por si.

Segundo Cris, que também é CEO da CKZ Diversidade, só com a participação das lideranças passa a ser possível pensar em um futuro no qual haja transformações. “Antes de mudar temos que reconhecer, para só então podermos enfrentar e corrigir”, diz. A consultora sugere uma série de atitudes que podem fazer a diferença, entre as quais destacam-se o diálogo constante e a participação de todos nos debates que, ao começar de cima, tendem a conquistar resultados mais expressivos.

Como cultivar um ambiente de trabalho antirrascista

Confira a seguir as recomendações apontadas por consultores e especialistas para acabar com os preconceitos e desigualdades com base na cor da pele, ao mesmo tempo em que delas vertem ideias e inspirações que podem se tornar políticas efetivas dentro da estrutura organizacional.

  • Líderes e gestores que querem adotar uma postura antirracista devem entender que o posicionamento exige uma mudança radical no cotidiano e de tolerância zero diante do racismo;
  • Eliminar do vocabulário palavras de origem racista e corrigir colegas ao ouvir expressões discriminatórias são ações necessárias;
  • Criar programas de letramento formados por grupos de afinidade para conversar sobre estes temas irão ajudar a empoderar as pessoas negras que, na maioria dos casos, não se veem representadas e sentem-se desmotivadas;
  • Fomentar a abertura de vagas afirmativas com a contratação de pessoas negras e suas interseccionalidades: mulheres, portadoras de deficiência e LGBTQIAPN+;
  • Acompanhamento pontual e permanente para que haja escuta ativa, suporte emocional e feedbacks diante dos acertos, mas também de possíveis falhas e, por consequência, da necessidade de alterações quando e se necessárias;
  • Não basta visibilidade, é necessário suporte técnico na gestão para que os profissionais negros se sustentem nas posições conquistadas;
  • É preciso ampliar a inclusão de negros em carreiras tradicionais de C-Level, pois as empresas tendem a circunscrevê-las a carreiras de diversidade e sustentabilidade;
  • Engajar as pessoas não negras é fundamental para apoiar as iniciativas existentes e abrir espaços efetivos nas empresas e instituições;
  • Eventos pontuais em períodos de comemoração são importantes, mas acabam perdendo-se nos demais meses. Dessa forma, é crucial promovê-los com regularidade para combater vieses e fortalecer a cultura da diversidade;
  • Construir parâmetros de práticas exemplares setoriais pode ajudar a impulsionar políticas empresariais ou de regulação;
  • Dar treinamentos específicos às lideranças das instituições é um passo que pode acelerar a mudança da cultura organizacional, pois não raro, são os gestores a questionarem a necessidade de falar sobre racismo.

Colocar os desafios do mundo moderno em perspectiva, bem como promover uma educação corporativa eficiente e pautada em avanços, é o foco central dos programas e iniciativas da JValério. Não por acaso, a pauta da diversidade e inclusão é recorrente aqui no blog, pois reflete parte fundamental dos conteúdos programáticos que formam as jornadas de aprendizado que disponibilizamos o ano todo.

Afinal, nosso intuito é fazer uma imersão nas complexidades das lideranças em todas as dimensões!

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