Negócios mudam, conselhos de administração também

21/11/2023
Negócios mudam, conselhos de administração também | JValério

O contexto corporativo tem passado por uma série de transformações que estão mudando a forma como as empresas encaram os desafios e tomam decisões

Nos últimos anos, se tem algo que todo chairman - como também é conhecido o presidente do conselho de administração - tem feito, incansavelmente, é buscar formas de atuar e avançar frente a novos contextos corporativos. Para que pautas, como a da diversidade e inclusão, por exemplo, transcendam o mero discurso institucional e tornem-se imperativas, o que de fato vem acontecendo. Mas, os desafios impostos pela globalização vão além, obrigando estes profissionais a repensarem seus papéis. Afinal, eles são responsáveis por boa parte do sucesso ou fracasso de uma organização.

Ao ter o trabalho observado de perto por todas as partes interessadas, de shareholders (acionistas) a stakeholders (colaboradores, fornecedores, clientes, comunidade, entre outros), os membros eleitos ou designados para compor os conselhos administrativos estão sob a pressão por boas práticas de governança corporativa. Não por acaso, suas funções cresceram drasticamente para acompanhar as mudanças que têm impactado o mercado, tais como as tendências tecnológicas e a inteligência artificial (IA). Isso sem falar nos imprevistos que devem gerar respostas em tempo real - como a pandemia da Covid-19 e os conflitos bélicos.

Embora os desafios possam ser assustadores, é fundamental que o alto nível de confiança entre chairs e CEOs se mantenha para que ambos possam encarar as transformações nos ambientes de negócios. Aliás, existem recursos para isso, mas é preciso saber usá-los com assertividade. Em suma, a ideia é que a cada nova demanda as operações sejam aperfeiçoadas de modo a lidar melhor com as crises, bem como diante de questões sociais, ambientais e econômicas.

Vamos aprofundar?

Avanços dos conselhos de administração

Para refletir as reais necessidades globais e guiar as decisões estratégicas, o conselho de administração tem evoluído visivelmente. De acordo com a pesquisa “A Governança Corporativa e o Mercado de Capitais”, realizada pelo ACI Institute em parceria com o Board Leadership Center, da KPMG Brasil, um dos avanços diz respeito à presença feminina na estrutura do órgão. Segundo o levantamento, cresceu o número de empresas que têm pelo menos uma conselheira: passou de 54% para 63%, em 2022. Apesar das mulheres ainda estarem em apenas 14% desses cargos, o número é maior que os 11% registrados no ano anterior.

A diversificação não é só de gênero, como aponta o levantamento, mas também de conhecimento, de experiência, de formação, de idade, de etnia, para citar alguns. Prova disso é o aumento do percentual de conselheiros independentes nos colegiados: 39%, em relação a 36%, em 2020. O conselheiro independente é aquele sem vínculo com a empresa ou seus gestores. Em outras palavras, tem se buscado profissionais com especializações em assuntos relacionados à tecnologia, inovação, segurança cibernética e, certamente, aqueles capazes de estabelecer uma agenda ESG com forte propósito de longo prazo.

Ademais, nota-se que a importância dada a este tipo de análise por parte das empresas abertas do país ganhou certa notoriedade. De 2021 para cá, mais da metade, 59%, realizou a avaliação que visa medir o desempenho não só do conselho, como de toda a administração. Em se tratando de gerenciamento de riscos, 73% afirmam ter um departamento dedicado exclusivamente a um dos pontos mais cruciais da atualidade.

Impactos positivos das transformações nos conselhos de administração

A revolução nos conselhos de administração almeja mais do que abrir capital ou atender regulamentos. Trata-se de enxergar oportunidades onde até então havia insegurança. Ao reconhecerem que o medo da mudança é, muitas vezes, um obstáculo maior que a própria mudança, muitos conselheiros têm adotado uma postura ousada ao reavaliar os modelos de negócios. O resultado é uma nova geração de líderes empresariais com perfis de engajamento, ativismo e disrupção.

Resilientes e preparados para o desconhecido, muitos encaram a missão tendo como premissa os aspectos a seguir.

Transformação digital

A transformação digital traz uma série de vantagens, como maior eficiência operacional, melhoria da experiência do cliente, expansão de mercado e redução de custos. Isso é possível graças à automação de processos, adoção de tecnologias eficientes e serviços mais personalizados.

Portanto, faz parte das atribuições do conselho de administração zelar pelo direcionamento das estratégias corporativas para que estejam em sintonia com as principais tendências tecnológicas. O ideal é que haja especialistas dispostos a acompanhar, implementar e mensurar como elas afetam as tomadas de decisões.

Também caberá aos conselheiros mediar conflitos internos que possam surgir diante das alterações em sistemas e processos e estar disposto a enfrentar a resistência natural, sobretudo, em culturas tradicionais.

Inteligência artificial

A inteligência artificial (IA) é um tema cada vez mais presente no cotidiano empresarial e, por isso, tem se tornado uma das principais discussões nos conselhos de administração. Atualmente, as ferramentas de IA podem ser vistas em diversas áreas, entre elas, finanças, marketing, e recursos humanos. Em resumo, ela pode melhorar a eficiência, a tomada de decisões e oferecer uma experiência de cliente personalizada.

No entanto, a adoção da IA também apresenta desafios que precisam ser considerados, como a compreensão técnica e ética e suas possíveis implicações para os negócios. Se por um lado, torna gerenciável a automatização de tarefas rotineiras e a gestão do tempo, por outro exige acompanhamento constante ao passo que levanta questões como a privacidade de dados. Ou seja, requer familiaridade total entre recursos e conselheiros para ser utilizada da maneira correta e em prol de mais competitividade.

ESG

Os presidentes de conselho de diversos continentes veem a relação mutável entre as empresas e a sociedade como outra força-chave que afeta sua função. Diante do cenário, estão conscientizando a administração por ela e a conduzindo mediante estratégias ambientais, sociais e de governança (ESG). Nota-se, inclusive, um profundo senso de responsabilidade pelos impactos positivos e negativos que seus produtos e serviços têm sobre as comunidades e o planeta.

Cada vez mais, eles veem uma estreita conexão entre prosperidade para a população, o meio ambiente e o futuro dos negócios. Só para ilustrar, o diretor de uma companhia japonesa ouvido pela consultoria empresarial Deloitte, na ocasião do encontro Global Boardroom Program, reconheceu que fazer negócios em si é, ou deveria ser, uma questão de “melhorar o mundo”. Isto é, pautar as atividades com a cartilha ESG embaixo do braço não é mais um diferencial, mas sim um compromisso.

Gerenciamento de crises

Enquanto os conselheiros navegam por novos rumos que afetam e modificam diretamente suas funções, uma das forças responsáveis por este movimento vem da liderança em meio a crise. Mesmo antes da pandemia, mas especialmente impulsionado depois dela, o gerenciamento de incertezas tornou-se uma prerrogativa do conselho de administração.

Quem conseguiu lidar com a má fase com resiliência, sem dúvidas, esteve um passo à frente. O que, em uma época de informações instantâneas, acaba sendo percebido não só pelos respectivos nichos, mas como por toda a opinião pública. Muitos empresários tiveram que confiar na intuição, dando verdadeiros saltos de fé na tomada de decisões sem que fosse possível digerir e compreender para só então agir.

Por consequência, muitas companhias relatam que passaram a operar em uma espécie de estado contínuo de gestão de crises. Uma situação que acaba trazendo benefícios, uma vez que, de forma encorajadora, os chairs aprenderam muito sobre sua própria capacidade e de suas equipes para responder, ajustar e adotar tecnologias digitais, para citar apenas um ponto. Preocupados em não sucumbir a velhos métodos após o fim de uma tribulação, a maioria está trabalhando para incorporar pensamentos e ações ágeis e responsivos como parte intrínseca do dia a dia dos negócios.

A sobrevivência e a competitividade das empresas dependem da habilidade dos conselhos em lidar com os desafios citados e aproveitar as oportunidades trazidas por eles. Como o conselho de administração tem examinado os horizontes por aí? Tem conseguido construir consenso ao equilibrar o novo e o tradicional? Parar para observar, desafiar a agenda e propor planos de aprendizagem que jogam luz ao futuro tem tudo para tornar 2024 o melhor ano para qualquer negócio.

A JValério Gestão e Desenvolvimento, inclusive, possui um curso de formação de conselheiros. Nele, profissionais seniors são preparados para essa função, além de compreenderem sobre as responsabilidades do cargo.

A solução, batizada de Programa de Desenvolvimento de Conselheiros - PDC, proporciona também a aprendizagem de uma base sólida de fundamentos, sem perder a articulação com a aplicação prática. A metodologia utilizada será a do Board Case: simulação prática e instigante das etapas de preparação e execução de uma reunião do conselho de administração. Novas turmas do PDC iniciam em fevereiro de 2024. Para saber mais, clique aqui.

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