Visão clara do objetivo onde quer chegar, prever cenários para se preparar para crises, se antecipar às tendências e às ações de contingências em tempos de adversidades são fatores que deves estar nas estratégias das empresas
Com o argumento de que não é possível prever o futuro, muitos empresários e gestores ainda ignoram uma regra básica no mundo dos negócios: fazer um planejamento estratégico consistente pensando no curto, médio e longo prazo. Planejar é primordial em tempos de lentas ou rápidas transformações. imaginar cenários e estar preparados para enfrentá-los é essencial para atravessar qualquer crise e alcançar os resultados almejados.
Essa foi a pauta principal da conversa entre o diretor executivo da JValério, Clodoaldo Oliveira, e do empresário Marcello Marcondes Macedo, que está na liderança na Honda Blokton, a maior rede de concessionárias de veículos de duas rodas do Paraná. Ele é o segundo na linha sucessória da empresa familiar. Durante a nova série de podcasts da JValério, o executivo contou como a organização, fundada pelo pai, conseguiu sair bem de um processo de recuperação judicial para se tornar uma referência no seu ramo de atuação.
Segundo Marcello Macedo, a Honda Blokton deu a volta por cima graças a adoção de um modelo robusto de gestão. O executivo chegou na empresa após acumular bagagem em outras corporações na Holanda e no Brasil e depois de passar pela experiência de cursar um mestrado executivo para participar do Conselho, já que era um dos herdeiros do negócio. No entanto, por conta das circunstâncias, teve que mergulhar fundo na empresa para que ela tivesse chances de sobreviver à recuperação judicial.
“Quando vim para a Blokton, a organização estava precisando de uma mexida muito grande. Começamos neste trabalho de recuperação judicial em 2011. Percebi que o que aprendemos nos livros sobre empresas que estão perdendo oportunidades se não têm dívidas é uma teoria que não se enquadra para negócios no segmento de duas rodas, que é muito volátil. O endividamento é muito complicado. E, neste momento, tive que acreditar na empresa, no propósito e na estratégia”, afirma.
Em meados de 2020, graças ao modelo de gestão adotado por Marcello na liderança, a Honda Blokton conseguiu sair do processo judicial. Chegou a pandemia, que pegou o mundo de surpresa, mas a concessionária de motos estava pronta para decolar mesmo durante a maior crise sanitária - que trouxe efeitos colaterais para a economia - da história moderna.
“Nosso reposicionamento não aconteceu da noite para o dia. E além do planejamento estratégico que incorporamos, uma conjuntura de fatores ajudou nosso mercado nos últimos anos. Entre 2010 e 2014 o setor automotivo sofreu muito. As reduções do IPI [Imposto Sobre Produtos Industrializados] não chegavam para nós. Na sequência, acabou a demanda pelo crédito. Daí veio a pandemia, que acabou sendo um impulso. Houve aumento da gasolina e a moto é mais econômica, até em termos de manutenção. Tivemos um novo comportamento: o delivery veio com força, como uma saída de emergência para as empresas continuarem operando. A moto se tornou fonte de renda e um meio de transporte que não fosse o público, para diminuir a exposição ao risco”, conta.
Todos esses fatores explicam o crescimento no segmento das concessionárias de veículos de duas rodas. A Honda, que é líder no setor, obteve em 2022 o melhor resultado em vendas, desde 2015, nos seis primeiros meses deste ano. De janeiro a junho de 2022, o emplacamento de motos da marca japonesa teve aumento de 25%, chegando a mais de 485 mil unidades, segundo dados divulgados pela Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores). A Federação informa ainda que o segmento de motocicletas foi o único a apresentar crescimento nas vendas entre janeiro e junho em 2022: enquanto o emplacamento de automóveis e comerciais leves sofreu uma queda de 15,41%, no período, o de motos cresceu 23,07%.
Contudo, na opinião de Clodoaldo Oliveira, ainda que o mercado estivesse aquecido, se a Honda Blokton não estivesse preparada para aproveitar as oportunidades, de nada adiantaria. E mesmo em tempos de alta no segmento de atuação, Marcello Macedo conta que a Blokton teve que driblar os problemas decorrentes da pandemia, que afetaram a logística mundial, sem falar na falta de peças. “Nos últimos anos, houve um aumento de demanda e queda na oferta. Hoje temos filas de espera de dois, três anos. E, para adquirir modelos importados, alguns clientes terão que esperar cerca de um ano”.
E, para Marcello, o maior sucesso da sua gestão, foi a sobrevivência da Honda Blotkon. “Essa é uma história que está sendo construída. Nos últimos dez anos muitas concessionárias fecharam. Nós passamos por uma recuperação judicial, que se encerrou há dois anos. Hoje estamos no momento mais sólido da nossa empresa e todas as dificuldades nos preparam para o futuro”, conta Marcello Macedo.
Um dos riscos apontados pelo executivo para o negócio que ele comanda é o fato de comprar 90% dos produtos que comercializam do mesmo fabricante. “Esse risco, de trabalhar com um único fornecedor, ficou evidente na pandemia. Na área de pós-vendas, trabalhamos com mais projetos, peças e seminovos e essa estratégia ajudou a melhorar a performance”, enfatiza Macedo.
Persistir e ser resiliente são atributos que se tornaram necessários nos gestores em um cenário de crise como o qual estamos vivenciando no mundo todo. E essas duas características comportamentais foram fundamentais para que as lideranças da Honda Blokton conseguissem se reerguer do tombo e voltar para a pista do mercado de motocicletas, como relata Marcello Macedo.
“Alguns projetos foram iniciados em 2013 e precisaram de ajustes. Ficou muito claro a importância das pessoas na organização. Quando passamos pela recuperação judicial, ficamos sem produtos. Numa situação assim é muito fácil se desesperar. Esse momento exigiu transparência e proximidade com os colaboradores. Isso fez a diferença. A primeira ação foi visitar todas as lojas e explicar o que estava acontecendo para todos e pedir um voto de confiança e que focassem no trabalho. Não tivemos nenhuma debandada e todos os líderes permaneceram. Foi muito gratificante para nós. Na pandemia, colocamos em prática rapidamente um plano de contingência e tivemos que reduzir 10% do nosso quadro. Os que ficaram demonstraram que queriam realmente continuar na empresa. Fizemos uma live interna e contamos qual era nossa meta, apesar das perdas em dois, três meses. Nos comprometemos a não fechar lojas e nem demitir, se fechassem as metas”, conta Macedo.
A principal recomendação do executivo da Blokton é que o planejamento é tudo. “Passamos por momentos muito difíceis e só conseguimos ter sucesso porque antecipamos muita coisa, planejamento esse futuro. Precisamos ter uma visão clara de onde queremos chegar, antecipar as ações para ficar mais perto daquele caminho. E se pensar no que pode dar errado, adotar ações de contingências com rapidez. Por último, acreditar, ter persistência, resiliência e perseverança. Na época da recuperação judicial, tinha meses que a gente não via saída. Mas apenas uma possibilidade de uma vitória, já merecia uma celebração”.
Para Clodoaldo Oliveira, sobretudo nas empresas familiares, a profissionalização da gestão é um dos maiores desafios para evitar o voo de galinha. E Marcello também acredita que um modelo robusto de gestão é capaz de fazer as empresas prosperarem.
“Esse é um ponto de vista que aprendi com o meu pai. A ideia não era ter uma empresa familiar onde todos os familiares trabalhassem juntos. Eu vim para o Conselho, mas a situação estava se agravando e tive que mergulhar no negócio. Me comprometi e não tinha mais volta. Toda a gestão da Blokton é executiva, sou o único membro da família. Temos um negócio auditado por uma auditoria externa. Investimos em treinamentos para a gerência e alta diretoria”, pontua Macedo.
Ele explica ainda que, a participação no PAEX - Parceiros para a Excelência, confirmou a importância do planejamento estratégico para preparar a empresa para ser mais independente, para evitar justamente esse “voo de galinha” mencionado por Clodoaldo Oliveira. A criação de processos garante a sustentabilidade e a longevidade da empresa. “Se trocar as pessoas, os processos continuam. Esse é um sinal de que o negócio está bem alicerçado”, reflete.
O PAEX é uma das soluções da JValério, que conta com a chancela da Fundação Dom Cabral (FDC). O programa é dirigido para médias empresas que buscam um modelo robusto de gestão, com a formação de executivos e equipes de alta performance, elevando os resultados de curto, médio e longo prazos. O PAEX foi desenvolvido para ajudar a potencializar e conquistar a longevidade para esses negócios.