O que mudou no mercado de trabalho e exige a atenção das lideranças?

13/06/2022
O que mudou no mercado de trabalho e exige a atenção das lideranças? | JValério

Salários e altos cargos não fazem a cabeça dos jovens no mercado de trabalho. Eles querem ser ouvidos, ter flexibilidade e autonomia, além de um trabalho com impacto social

O trabalho já foi visto como parte central da nossa vida. Virar a madrugada na empresa era sinônimo de glamour e a frase “trabalhe enquanto eles dormem” era a fórmula do sucesso.

Esse tema foi abordado pelo filósofo sul-coreano Byung-Chul Han no ensaio “A sociedade do cansaço”. A obra fala sobre a obsessão pelo trabalho e pelo desempenho e compara as relações de trabalho de 50 anos atrás com aquelas que praticamos na década de 2020. Inicialmente, temos a impressão que vivemos um momento mais libertador e com menos regras.

Para as novas gerações, por exemplo, pular de empregos e mudar o rumo das carreiras tornou-se algo normal. No entanto, esse cenário menos rígido também é uma ilusão, na visão do filósofo. A verdade é que nos transformamos nos próprios carrascos. E isso é fruto de um excesso de positividade: acreditamos que somos capazes de fazer tudo e de ter tudo. Basta trabalhar bem e bastante para conquistar todos os objetivos. Somos avaliados de acordo com nossa produtividade: quanto maior for nosso desempenho, maior será nosso valor. E é essa ânsia de produzir de forma desenfreada para ter valor que favorece o aparecimento de transtornos mentais como burnout, depressão e esgotamento.

Mas, e agora José? Tinha uma pandemia no meio do caminho e o temor de adoecer mudou a forma como as pessoas se relacionam com o trabalho. Se por um lado o problema de saúde pública desencadeou uma crise econômica e muitos tiveram medo de perder o emprego, o coronavírus acendeu uma preocupação sobre o que estamos fazendo com a nossa vida. A Covid-19 estimulou a reflexão sobre o espaço do trabalho em nossa jornada e sobre os objetivos e metas que queremos cumprir, além dos sonhos que queremos realizar.

A pandemia alterou o comportamento das pessoas, os valores pessoais e há quem não queira mais viver para trabalhar para simplesmente alcançar o topo na hierarquia das empresas. Ganhar mais não é mais a aspiração de grande parte da população do mundo todo. O que as pessoas estão buscando, além de uma forma de sustento, é flexibilidade, desenvolvimento pessoal e propósito.

Estatísticas

Estatísticas e dados sobre turnover

E não é só papo de filósofo. Uma pesquisa da Gartner aponta que 91% dos líderes de recursos humanos estão preocupados com o aumento do índice de turnover. O levantamento traz outra preocupação dos empregadores: só 31% acham que seus atuais funcionários estão satisfeitos com a proposta de valor oferecida pela empresa, conhecida como Employee Value Proposition (EVP).

O EVP, inclusive, é fator decisivo na hora de ingressar numa organização. Segundo a pesquisa da Gartner, 65% dos candidatos já interromperam um processo de contratação por causa de um EVP pouco atraente. Além disso, 85% deles ressaltaram que é importante a companhia observar a pessoa por trás do empregado.

The great resignation

As mudanças no mercado de trabalho pós-pandemia

E o fenômeno dos pedidos de demissões em massa não é uma realidade apenas nos Estados Unidos e na Europa. No Brasil, 600 mil trabalhadores abriram mão do emprego: é o dobro de demissões em comparação com os meses anteriores à pandemia.

Antonio Batista, presidente da Fundação Dom Cabral (FDC), acredita que esse fenômeno é um reflexo do tempo que estamos vivendo. “O sucesso no mercado de trabalho era medido pelo salário e pelo cargo. Mas a relação com o trabalho mudou. Para serem bem-sucedidas, as pessoas estão considerando outros fatores, como gostar do que fazem, gerar impacto social, conseguir cuidar da saúde física e mental e passar mais tempo com a família e com os amigos. Esses pedidos de demissão voluntária em grande volume são conhecidos lá fora pelo termo “the great resignation” (“a grande resignação''). Nos Estados Unidos, já são mais de 4 milhões de pedidos de demissões por mês. Lá eles vivem num estado de pleno emprego, como no Reino Unido, França, Alemanha, China e Índia”, conta.

Perfil dos jovens que pedem demissão no Brasil

Perfil do mercado de trabalho pós-pandemia

No Brasil, os jovens que pedem demissão têm menos de 30 anos e um nível de escolaridade mais alto, de acordo com Antonio Bastista. Segundo ele, são três os motivos. “O retorno para trabalho presencial foi o principal. Eles querem a autonomia e a flexibilidade, conquistados na pandemia. O segundo motivo é a necessidade de sair de uma cultura corporativa tóxica com excesso de pressão, sobrecarga de trabalho, falta de reconhecimento profissional e ausência de promoção, diversidade e inclusão. E, por fim, eles estão buscando trabalhos mais qualificados e bem remunerados. Sobretudo os profissionais da área de tecnologia, que estão sendo disputados e que recebem ofertas melhores de trabalho”, observa o presidente da FDC.

Retenção de talentos

A retenção de talentos é um grande desafio para a área de gestão de pessoas. “As empresas precisam ouvir o que os trabalhadores querem: autonomia, flexibilidade, perspectiva de crescimento, serem estimulados a usar seu pleno potencial, além de boa remuneração e benefícios. E as organizações também precisam ter senso de propósito. Isso faz toda a diferença para engajar a equipe”, avalia Batista. 

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