5 fatores que compõem o cenário competitivo no mundo imprevisível

09/03/2022
5 fatores que compõem o cenário competitivo no mundo imprevisível | JValério
Professor da Fundação Dom Cabral desvenda caminhos para médias empresas e empresas familiares se destacarem; revisar formulação estratégica diante de crises é questão de sobrevivência   

Não é de hoje que a nuvem negra da instabilidade paira sobre o mundo. Desde 2015 vários autores publicam livros e artigos sobre a imprevisibilidade e a dinâmica do mercado em disrupção. A pandemia foi o alerta máximo: lidar com imprevistos de todas as ordens (econômicos, geopolíticos, sociais e sanitários) faz parte do dia a dia das lideranças. A única certeza que temos é que vivemos em uma era de incertezas.

No âmbito da sociologia, o pensador polonês Zigmunt Bauman cunhou o termo modernidade líquida para descrever uma nova época em que as relações sociais, econômicas e de produção são frágeis, fugazes e maleáveis, como os líquidos. E essa percepção deve ser bem clara para os gestores.

Esse foi o fio da trama tecida pelo professor Heitor Coutinho, que atua nas áreas de estratégia, mudanças organizacionais e gestão avançada de projetos, durante o FDC Conexão, que aconteceu neste mês de fevereiro. Na ocasião, ele falou sobre essa nova era e a importância da agilidade: um dos adágios da gestão corporativa para que as empresas se adaptem às sucessivas crises que são uma condição perene no mundo contemporâneo.

 “A agilidade representa uma capacidade de se adaptar às mudanças que ocorrem no ambiente externo em tempo hábil. Esse é o conceito principal. Mas a agilidade está relacionada também à capacidade das lideranças de lidarem com uma nova lógica da competição. Não foi só a estratégia que mudou, mas também os fatores que compõem o cenário competitivo”, argumenta Coutinho.

Para ele, as lideranças que conduzem negócios bem-sucedidos são aquelas que conseguem dominar cinco variáveis, que traduzem a competição na atualidade:

  1. Taxa de aprendizagem

As organizações vão competir pela taxa de aprendizagem. Na prática, significa que quem conseguir aprender mais terá vantagem competitiva. Outro aspecto relevante é saber desaprender, ou seja: desapegar de conceitos de gestão ultrapassados. “A estratégia clássica, que está presente nas organizações há mais de 60 anos, precisa ser redefinida. A mentalidade empresarial, que se reflete na mentalidade dos líderes, está presa a uma cultura enraizada de que o mundo é estável e, portanto, que é possível fazer previsões a longo prazo”, explica Heitor Coutinho.

 O especialista salienta ainda que os gestores precisam desaprender duas palavras: planejamento a longo prazo e previsão. “Elas devem ser substituídas por descoberta e adaptação. Essas são as bússolas da gestão em tempos de imprevisibilidade”.

  1. Ecossistemas

Já diz o ditado: “uma andorinha só não faz verão”. O provérbio deve ser incorporado na prática pelas lideranças ao compreenderem que sozinhas não conseguirão mais competir. A força motriz do mercado foi transferida para os ecossistemas. “As empresas precisam desenvolver a visão de que, mesmo concorrentes, poderão competir em estreita cooperação. As maiores e melhores organizações do mundo já atuam em ecossistemas”, pontua Heitor Coutinho.

  1. Competir em mundos híbridos

Até a gigante Amazon, que nasceu virtual, se dobrou ao poder da conexão “olho no olho” e fez o caminho inverso: abriu lojas físicas. Transitar por esses dois mundos paralelos já era uma tendência que virou realidade com a pandemia. “A transformação digital já estava em curso, só se tornou uma urgência. Escolher um ou outro caminho deixaria as empresas com vantagens competitivas mais frágeis”, detalha o professor da FDC.

  1. Competir pela taxa de imaginação

 A automação é mais uma tendência. Mas mesmo num cenário futurista - de pessoas interagindo com robôs - prevalece a capacidade inerente à condição humana e que não será substituída pela IA (Inteligência Artificial): a imaginação.

O superávit humano está aí. “A imaginação fará a diferença porque norteia a inovação e antes inovar era uma escolha. Hoje é um caminho sem volta. A formulação de uma estratégia depende da inovação que depende da imaginação. Fazem parte de um mesmo sistema. E o que sustenta a imaginação é a inspiração, originária de diversas fontes. O propósito é o principal, por isso é tão importante. O propósito está na relação de causa e efeito. Enquanto as estratégias clássicas enaltecem a missão e a visão, as empresas com um diferencial competitivo miram no propósito”, destaca Heitor Coutinho.

  1. Taxa de resiliência (reação ao impacto)

A resiliência é muito importante no contexto da agilidade porque também é uma capacidade de se adaptar quando ocorre um impacto. Os choques são constantes em mundos imprevisíveis. Diante de algo inesperado e negativo, as lideranças devem saber recuar e se adaptar com agilidade.

As crises tendem a ser mais profundas e longas - as quatro últimas já apontam para esse caminho. No entanto, tendem a ser encaradas como oportunidades para criação de negócios disruptivos. As disrupções previstas para a década de 2020 são consequência da evolução exponencial da tecnologia, que acabou em 2019.

Todas essas questões, apresentadas no FDC Conexão, serão abordadas em um livro que está sendo escrito pelo professor Heitor Coutinho. Ele é autor da obra “Da estratégia ágil aos resultados”, publicada em 2020, que mostra como aumentar significativamente – e de forma sustentável – os índices de sucesso das estratégias organizacionais. Fica aqui mais uma dica de leitura para quem acompanha o nosso blog.

Até a próxima postagem!

O que achou sobre o conteúdo? Vamos conversar? Deixe um comentário.
ASSINE NOSSA NEWSLETTER