O capital humano é quem comanda os processos de inovação; líderes precisam perceber e comunicar qual é a nova geração de valor do negócio com a transição para o online
A transformação digital já estava em curso no Brasil, mas, em grande parte das organizações, ainda não fazia parte da agenda de prioridades dos CEOs. Com a chegada da pandemia e as medidas de isolamento social para conter a escalada do Coronavírus, o que era uma tendência se transformou em realidade. As empresas que já haviam iniciado a digitalização do negócio nadaram de braçada e saíram na frente numa corrida desenfreada contra o tempo para alcançar o cliente - mesmo diante das barreiras físicas.
Para o professor da Fundação Dom Cabral e membro da Plataforma Forecasting e do Programa Aberto em Transformação Digital, em parceria com a IBM e Deloitte, Hugo Tadeu, a pandemia acelerou demais a transição digital. Prova disso é o crescimento de vendas B2B e B2C. “O percentual de crescimento foi maior no digital para muitas organizações. A pandemia trouxe uma mudança de comportamento e por sorte do destino temos tecnologia para acompanhar a mudança e olhar para o lado da oportunidade, para associar a transformação digital com geração de receita. Se estivéssemos em um contexto econômico anos atrás, o cenário seria outro. A pandemia trouxe a importância de se entender os canais de vendas para além do modelo tradicional. É preciso ter um backoffice digital, entender o cliente e as demandas de tecnologia. Tem que ter dados e saber interpretá-los”, afirma.
Os dados que podem ser monetizados, aliás, são o alicerce da transformação digital, na opinião de Tadeu. É a base de informações que permitirá olhar para o cliente, de ponta a ponta, e não adotar a tecnologia de forma indiscriminada. “Qualquer que seja a tecnologia, a transformação é mais de negócios e é uma discussão que precisa ser assentada”, avalia o professor da FDC.
E por ser uma mudança estrutural, a transição digital está intimamente ligada aos CEOs. Trata-se de uma transformação profunda e exige um conjunto totalmente novo de recursos: por isso depende da visão e aval de quem está no topo da hierarquia das empresas. E, para que a ‘virada’ para o digital seja triunfante, os CEOs precisam amadurecer algumas questões:
Não tome como ponto de partida simplesmente o ato de ‘se tornar digital’. Os CEOs devem ser capazes de olhar além do seu negócio atual e repaginar o valor da sua empresa. A grande pergunta que devem responder é: qual é o valor que a transformação digital vai gerar para a organização?
Olhar para os próprios ativos com novas lentes significa estar atento a tendências e modelos de outras companhias bem-sucedidas. E para que a transformação digital não seja um conjunto de ações desconectadas, os gestores devem levar em conta três fatores: talento, tecnologia e dados, e operações. Esses três elementos precisam estar presentes no roteiro da transição para o digital e irão permitir que as mudanças ocorram no nível do domínio e que sejam substanciais.
A cultura corporativa e o propósito devem ser interessantes o suficiente para atrair e reter talentos excepcionais. Só o salário não faz a cabeça das pessoas dotadas de habilidades digitais. Elas querem mais: além de aprimorar seu ofício, desejam resolver problemas significativos. Em resumo: comunicar com clareza o propósito maior do negócio e criar oportunidades para que os colaboradores possam desenvolver suas habilidades e progredir profissionalmente devem estar na mira dos CEOs para terem os melhores dentro da sua companhia.
Antecipar-se às tendências e ser ágil é um diferencial competitivo. E, principalmente no contexto da transformação digital, a velocidade é muito importante. Empresas com melhor performance são aquelas que revisam seus dados com frequência, redefinem seus roteiros, compartilham descobertas e realocam seus talentos.
Além de ditar o ritmo e a velocidade das mudanças, os CEOs precisam cultivar uma cultura organizacional que valorize os realizadores e as pequenas equipes de pessoas de alto nível. Quando estabelecem metas claras e dão poder de decisão, aqueles com talento excepcional conseguem brilhar.
A transição para o digital deve ter o envolvimento de toda a rede e, não apenas, do departamento de tecnologia e de marketing. Uma nova solução de comércio eletrônico, por exemplo, exige treinar representantes de vendas, criar uma nova política de incentivos e recompensas para vendas online e offline e redesenhar a cadeia de suprimentos. A adesão de todos ao projeto digital é primordial para que a empresa seja capaz de entregar o valor desejado pelo cliente.
Os CEOs também devem ter em mente a necessidade de rastrear todo o processo e acompanhar todo o progresso do negócio na esfera digital para que falhas no percurso sejam resolvidas rapidamente.
OS CEOs apaixonados por inovação valorizam tanto a adoção quanto a estratégia. Eles percebem que todos que utilizam a solução - de clientes a funcionários na linha de frente – tenham voz no desenvolvimento do produto/serviço.