No post de hoje, o psicólogo e coach Reinaldo Paiva aponta caminhos para a liderança em 2022 e como o departamento de RH deve ser conduzido nas grandes organizações para reter talentos
O final do ano sempre nos inspira a fazer um balanço do último ciclo que está se encerrando. E uma pesquisa da Robert Ralf, uma das líderes na área de seleção e recrutamento, aponta algumas habilidades que líderes e liderados gostariam de desenvolver em si mesmos. Para 33% dos colaboradores, a confiança é um atributo que pode ser melhorado. E, para os dois grupos, a calma (55%) é a competência que precisa ser praticada em maior grau no ambiente corporativo.
O tema foi destaque no bate papo entre Clodoaldo Oliveira, diretor executivo da JValério Gestão e Desenvolvimento, e Reinaldo Paiva, psicólogo, consultor empresarial e coach, especialista em desenvolvimento humano, na série de podcasts promovidos pela escola de gestão em 2021.
Para Oliveira, a pesquisa é o retrato de uma dura realidade no universo da gestão de pessoas: a necessidade de investir na saúde mental dos colaboradores. “Não é uma questão emergencial, é algo que precisa ser permanente. A pandemia apenas ressaltou essa urgência”, diz.
Paiva também acredita que, num cenário marcado por tantas instabilidades, de ordem política, social e econômica, a segurança psicológica deve ser uma prioridade nas empresas. “Os liderados precisam confiar em si mesmos e nas estratégias das lideranças, que devem fazer coisas diferentes. Os gestores precisam ouvir mais, cuidar mais, ajudar as pessoas a pensarem antes de agir. É preciso estar presente nas relações, sem ruídos, distrações. É necessário respirar, ter calma”, argumenta o psicólogo.
A pandemia e a polaridade política contribuíram para a guerra entre NÓS X ELES e acentuaram a disseminação de fake news que servem para justificar por que as pessoas estão daquele lado da história. No entanto, a quantidade de notícias negativas e falsas que circulam na rede, servem apenas para aumentar o nível de ansiedade.
É neste sentido também, que a calma se torna uma competência que precisa ser desenvolvida. “Não é só calma relativa ao estado de espírito, mas uma calmaria voltada para o agir: ter certeza sobre a veracidade de uma notícia, antes de propagá-la”, aponta Clodoaldo Oliveira.
E Reinaldo Paiva acrescenta: “lemos tudo rapidamente, tiramos conclusões e reproduzimos para nossos contatos. Calma não é sinônimo de lerdeza, mas de serenidade e ponderação. É isso que está faltando no mercado de trabalho”.
Além de um estado de espírito, a calma é uma habilidade que pode ser desenvolvida. Reinaldo Paiva orienta que o mindfulness ajuda as pessoas a exercitarem a serenidade interior. A técnica é uma forma de conduzir as pessoas para viverem o momento presente. Essa prática pode trazer benefícios nas relações interpessoais.
“O volume de interações nos deixa pilhados. Uma dica é se concentrar numa atividade, fazer a coisa atual, até o fim e ponto. Sem ruídos. Temos que parar de ser multitarefas e cessar o barulho exterior, por exemplo. Na hora de conversar com alguém, temos que focar nisso, desligar o celular e baixar a tela do notebook. Quando estamos presentes de corpo e mente, somos mais resolutivos, porque escutamos até o final e não tomamos atitudes impensadas e movidas pela ansiedade de sermos sempre rápidos”, recomenda Reinaldo Paiva.
Na mesma linha de raciocínio, Oliveira fala sobre a importância da escuta ativa, uma habilidade fundamental para os líderes atuais: essa é uma forma de demonstrar interesse genuíno sobre a opinião do outro. A escuta ativa é essencial para uma comunicação clara, respeitosa e eficiente.
Paiva ressalta que ouvir é compreender as premissas do outro e não tomar decisões apenas com base em seus valores, que estão armazenados no seu cérebro. “Num mundo apressado, a chance de ruído e confusão é muito grande e provoca desentendimento e intolerância”, comenta.
A comunicação é uma via de mão-dupla, como explica Reinaldo Paiva. É um ato que prevê uma conexão entre as duas partes. “Estamos habituados a pensar na resposta enquanto o outro está falando e interrompê-lo. Estamos sempre com pressa e deixamos coisas pelo caminho. Temos que ouvir até o final antes de responder. Se comunicar bem é falar melhor”, aponta.
O psicólogo recomenda a leitura da obra “Comunicação Não Violenta”, de Marshall Rosenberg. O autor aborda com maestria as bases de uma comunicação compassiva, menos agressiva e mais calma e é capaz de treinar as pessoas a melhorarem a qualidade dos diálogos e as relações interpessoais.
Para Paiva, a comunicação não violenta, conhecida como CNV, está ligada à neurociência. “Nosso cérebro segue pistas e, para dar respostas adequadas, é necessário ter informações pertinentes. São as pistas que vão basear nossas conclusões. A palavra comunicação vem de ato de pôr em comum. As duas pessoas precisam estar na mesma página, mas estão confundindo a efetividade com a rapidez. A comunicação é uma habilidade e é preciso mudar o nosso hábito comunicativo”, avalia Paiva.
Na última parte da entrevista, Reinaldo Paiva explicou os princípios da Psicologia Positiva, que vão além de cultivar bons pensamentos. Começou a ser estudada a partir da década de 1990, quando estudiosos da área compreenderam a grandeza humana e deixaram de focar apenas em transtornos mentais. Foi assim que a satisfação e o bem-estar entraram no campo de estudos da psicologia.
O modelo, que deve ser aplicado na vida pessoal e na rotina das empresas, foi desenvolvido por Tal Ben Shahar e também é conhecido como “teoria do bem-estar”. A intenção é estimular as pessoas a encontrarem a felicidade, que não é um estado natural, mas uma busca diária, na visão de Reinaldo Paiva. Segundo ele, a felicidade autêntica é trabalhosa e é produto de diversos fatores presentes no método S.P.I.R.E, desenvolvido por Shahar. Cada letra do termo se refere a uma peça do quebra cabeça que é a felicidade. São eles:
S – Spiritual (bem-estar espiritual): as pessoas que encontram seu propósito e norteiam suas ações a partir desse valor relatam ter mais controle sobre a vida. É que elas possuem uma razão para viver.
P – Physical (bem-estar físico): já diz a máxima “mens sana in corpore sano”, que traduz a ligação entre a saúde mental e física. Para Paiva, nosso corpo é nossa última morada e, por essa razão, temos que cuidar com amor da “carcaça” que irá nos abrigar durante toda a existência. Nosso corpo é um tempo sagrado que deve ser conservado com movimento (exercícios físicos), alimentação saudável e descanso (sono). “Movimente-se prazerosamente, cuidar da sua alimentação e dormir bem. Pessoas que adotam esse comportamento e que têm uma boa relação com o corpo, relatam ter uma existência melhor”, aconselha Paiva.
I – Intellectual (bem-estar intelectual): a letra de rock brasileiro “a gente não quer só comida/ a gente quer comida/ diversão e arte”, dos Titãs, explica com profundidade a importância da fome do saber para encontrar a felicidade genuína. Alimentar a mente, cuidar do intelecto a partir de leituras, pesquisas, contato com a arte, estudos, diálogos e debates ampliam nossa visão de mundo. “Seja uma metamorfose ambulante, não se apegue às opiniões velhas sobre tudo, como diz Zé Ramalho. Pessoas que alimentam sua mente também relatam uma experiência mais satisfatória com a vida, uma amplitude de ideias e se sentem mais felizes”, analisa Reinaldo Paiva.
R – Relational (bem-estar ‘relacional’): As relações positivas também interferem na sensação de bem-estar e felicidade. Então, o primeiro passo é deixar de lado o contato com pessoas tóxicas. “Selecione as amizades e faça uma limpeza em seus relacionamentos. Colecionar seguidores, coraçõezinhos e viver em função de likes é uma vida fútil, sem vínculos, e que leva as pessoas a ficarem transtornadas. Elas não buscam qualidade nos relacionamentos. Buscam likes. É uma aprovação momentânea, falsa. Busque relações afirmativas, que servem para que a gente tenha uma satisfação. Pessoas com alma, com propósito, fazem toda diferença na longevidade da relação profissional”, destaca Reinaldo Paiva.
E – Emotional (bem-estar emocional): como aumentar as emoções positivas e encontrar na resiliência uma fortaleza para lidar com as adversidades? Para Paiva, esse fator está relacionado ao cuidado com a saúde mental nas empresas. “É essencial para que as organizações retenham seus talentos e que alcancem bons resultados. As empresas precisam investir em relações inspiradoras, lideranças motivacionais, que são sinérgicas. Na vida e nas empresas, é importante trazer emoções positivas, generosidade, gratidão e entusiasmo para o dia a dia. tudo isso aumenta o ânimo da existência dos colaboradores. Há uma relação direta entre satisfação e produtividade”, conta Paiva.
Por último, Paiva dá uma dica de leitura para os gestores que querem ser mais empáticos em 2022 e melhorar o relacionamento com os liderados. O livro “A coragem de liderar”, de Brené Brown, se encaixa perfeitamente nos estudos da psicologia positiva sobre o qual falamos no post de hoje. “A obra ajuda as lideranças a trabalhar duro, encarar conversas difíceis e enfrentar a vida com o coração pleno”, finaliza o psicólogo.