A reponsabilidade social das empresas é um atributo que está sendo cada vez mais valorizado no mercado e deve estar na agenda do RH, que tem papel relevante na adoção de novos conceitos de governança corporativa
O departamento de Recursos Humanos possui um papel relevante nas corporações e vai muito além das contratações e demissões. Para que seja vem aproveitados, esses profissionais precisam “ajudar, diuturnamente, as organizações a realizarem suas estratégias corporativa e operacional, fazer com que a missão e a visão se tornem o propósito maior da empresa”. A afirmação é do especialista em RH e professor da Fundação Dom Cabral (FDC), associada da JValério Gestão e Desenvolvimento, Elias Ferreira Pinto.
Na opinião dele, as áreas de RH devem trabalhar para a realização do potencial das pessoas e da empresa. Para isso, precisam disponibilizar políticas e diretrizes, elaboradas em conjunto com os gestores-líderes, capazes de promover o alinhamento dos valores e dos resultados desejados, ano a ano”.
“Adquirir e desenvolver as soft skills é um ponto que considero primordial em tempos de pandemia e no que está por vir no pós-pandemia. Os comportamentos desejados ou as atitudes esperadas dos profissionais terão que passar sistematicamente por profundas reformulações”, afirma.
Características como resiliência, adequação a mudanças repentinas, trabalho em equipe, sugestão de novas ideias e atenção redobrada nos impactos do negócio na sociedade são atributos valorizadas nos candidatos.
De acordo com o professor da FDC, “há um grande processo de alinhamento por fazer” em relação às contratações que priorizem perfis de candidatos sintonizados com o momento atual, marcado por grandes alterações em curto espaço de tempo. “As gerações “Y” e “Z” estão presentes fortemente no mercado e representam algo próximo a 70% da força de trabalho mundial. Como todas as gerações, elas possuem características muito favoráveis ao cenário atual”, destaca Pedro Elias.
Para o professor, o trabalho em equipe, a gestão da mudança, a comunicação, o pensamento crítico, o pensamento criativo, a proatividade, o equilíbrio emocional e a orientação para resultados são algumas das competências essenciais daqui para frente. “Claro que cada empresa deverá se debruçar em sua estratégia, compreender e traçar os possíveis cenários em que vai atuar e, então, definir aquelas habilidades e atitudes que deverá priorizar no processo de aquisição e de desenvolvimento”.
Um novo conceito de RH, portanto, vem emergindo das transformações que todo o mundo corporativo está ainda enfrentando. O uso mais corriqueiro da tecnologia é um desses exemplos.
O teletrabalho, em respeito às normas de distanciamento para evitar a contaminação pela Covid-19, exigiu da área de pessoal um novo tipo de abordagem sobre a frequência diária e produtividade durante o expediente, por exemplo.
“Penso que o aprendizado foi um grande ganho deste momento tão delicado. O home office, que muitas vezes era um prêmio para os colaboradores com bom desempenho, tornou-se um processo natural e necessário. Como disse antes, a pandemia antecipou práticas até então restrita a poucas ações”, destaca o professor Pedro Elias.
Clodoaldo Oliveira, diretor executivo da JValério acrescenta que o trabalho híbrido, dividido entre a empresa e o escritório de casa, será cada vez mais incentivado. “O regime híbrido deverá ser muito mais comum do que antes, por diversas razões, como por exemplo a diminuição de custos e despesas, o aumento da produtividade com o uso intenso da tecnologia, a redução dos desgastes naturais do deslocamento casa-trabalho-casa, a prioridade da vida das famílias em sintonia com as necessidades das organizações”, ressalta.
Contratações e desligamentos também passaram a ser feitos de maneira remota, graças ao apoio das ferramentas digitais. “Os processos de contratação de profissionais estão no foco da mudança e começam na etapa do recrutamento remoto e da assinatura do contrato de trabalho. Até o treinamento e o desenvolvimento profissional, as vantagens e benefícios, os compromissos mútuos, os resultados e os comportamentos esperados, enfim, alinhamento de tudo aquilo que certamente fará desta relação um modelo de sucesso, passará pelos encontros virtuais”, ressalta Pedro Elias.
Os RHs de empresas que tiveram a sensibilidade e rapidez de adotar e incrementar o uso da tecnologia impulsionaram a manutenção de equipes bem envolvidas e com bom nível de produção em tempos tão disruptivos.
Nesse ponto, a entrada em cena do novo coronavírus ajudou a acelerar a introdução de quem gerencia os recursos humanos no universo digital para além dos serviços já conhecidos, como cadastros de funcionários e arquivos sobre folha de pagamento.
Outro ponto importante, em razão das mudanças no relacionamento com os colaboradores, foi a adoção de posturas mais pró-ativas dos RHs para medir a motivação das equipes. “O setor de pessoal deve adotar uma nova mentalidade, de sentir como as transformações estão sendo absorvidas no dia a dia de trabalho. É importante perceber se os colaboradores continuam se identificando com as diretrizes da empresa após a aplicação de mudanças, como o trabalho remoto”, observa Clodoaldo Oliveira, da JValério.
A reponsabilidade social das empresas é um atributo que está sendo cada vez mais valorizado no mercado e o setor de RH terá papel relevante na adoção de novos conceitos de governança corporativa, focadas na atividade sustentável, como o ESG. Trata-se de uma sigla em inglês para ajudar a nortear as atividades da empresa e seu envolvimento na sociedade a partir dos impactos no meio ambiente (‘Enviromental’), na própria comunidade onde está inserida (‘Social’) e na postura da governança em relação a funcionários e clientes (‘Government’).
Mas você pode estar se perguntando, onde entra o RH nesta questão? O professor da FDC explica que os conceitos que envolvem a ESG promovem discussões amplas nas equipes sobre o porquê, sobre o que e como fazer para agradar (ou satisfazer) os stakeholders. “Provocar e inspirar as lideranças e demais colaboradores para a adoção de procedimentos e métricas que levem a tão almejada sustentabilidade é mais um papel dos gestores de pessoas na atualidade”, enfatiza Pedro Elias.
Para ele, o grande desafio para as corporações é o de criar valor para as partes interessadas e não só para os shareholders. “Garantir a satisfação e a confiança das pessoas. Comunicar valor e “interferir” positivamente na percepção da comunidade. Especialistas afirmam que o movimento do ESG tem potencial para mudar a face do capitalismo. E é um movimento que está apenas começando”, alerta.
Pedro Elias destaca ainda que que é preciso inserir o RH na jogada para que as empresas possam consolidar os conceitos de ESG. “Acredito que este é um campo rico para atuação do RH Estratégico. Um tema que é capaz de produzir transformações profundas nas organizações. Dirigentes precisam se aliar aos profissionais de RH e demais lideranças para, então, encontrar as soluções robustas para o ESG”, finaliza.