Executivo da FDC destacou em entrevista à “Folha de São Paulo” que executivos terão de deixar legado na comunidade onde estão exercem influências
Em entrevista ao jornal “Folha de São Paulo”, Antônio Batista da Silva Júnior, presidente executivo da Fundação Dom Cabral (FDC), apontou que a pandemia da Covid-19 está acelerando a mudança na postura dos líderes. O novo perfil do gestor, de acordo com Batista Jr., engloba preocupações que vão além dos resultados financeiros.
Vão se destacar no mercado as empresas envolvidas com o progresso social, ou seja, que geram impactos positivos na comunidade onde atuam. Nesse sentido, a valorização das marcas passa pelo propósito e legados que estão construindo, como por exemplo, a contribuição para a preservação do meio ambiente. A entrevista foi publicada no “Painel” da Folha de São Paulo, na edição do último dia 14 de abril.
Confira os principais trechos a seguir.
Uns cinco anos atrás, nós saímos num périplo, conversando com mais de 250 CEOs para entender a angústia, as dores, a percepção deles. As empresas que vão sobreviver ao final do século 21 são aquelas às quais a sociedade conferir legitimidade para operar. E esse é um mal estar, porque o executivo que tradicionalmente foi educado e preparado para ser um executivo de entrega de resultado econômico e financeiro, hoje, tem uma nova demanda, que é a de construir legados. [...] A pandemia vai ter de acelerar essa percepção [de mudança] dos vários setores, do governo e das empresas. Acho que o líder não sai incólume da pandemia. Ele vai ter que sair com uma nova visão, uma nova postura, uma nova ação.
Hoje, o executivo vai ter que ser menos escravo do resultado, e ser mais um agente de progresso. Ele vai ter que saber conciliar performance e progresso, porque as empresas precisam ser produtivas, eficientes e terem lucro, mas não é só isso. Essa é uma mudança grande no mundo corporativo. É uma demanda nova, um paradigma que está em transição, que vai exigir novos comportamentos.
A pergunta que você faz para um executivo é: 'através dos produtos e serviços que você faz, qual o problema da humanidade que você tenta resolver?'. Aí entram problemas de desigualdade social, de clima, de educação, de água, do meio ambiente.
Sem dúvida, a pandemia escancarou. Ela aumentou as diferenças sociais e agravou um problema que já era existente no mundo inteiro. Essa dívida social cresce de maneira acelerada. O problema de saúde está rebatendo no problema econômico.
A pandemia vai ter que acelerar essa percepção [de mudança] dos vários setores, do governo e das empresas. As novas gerações são muito voltadas para propósito, para emoção, para paixão com ideias. Então, as empresas têm que vincular emocionalmente seu propósito com o propósito da nova geração, que são os funcionários e os consumidores.