Especialistas colocam as pessoas como protagonistas na jornada digital: os gestores que acreditam apenas no investimento em maquinários com tecnologia de ponta estão obsoletos
O atual momento é caracterizado pelo fim da “era da informação e o começo da sociedade global do conhecimento”. Isso significa que nessa nova fase da economia são as pessoas que irão se sobressair e não as máquinas. A tecnologia está cada vez mais barata e acessível e o desafio está na transformação das pessoas, na inclusão de uma cultura de disrupção nas empresas. A tecnologia pode acelerar a disrupção mas é o modelo de negócio e o planejamento, criados pelos gestores, que vão impulsionar as mudanças.
Para o roboticista Gil Giardelli, nessa nova década que se inicia, os seres humanos serão provocados de uma forma nunca vista antes a aprender novas habilidades. A tecnologia é consequência do pensamento estratégico e diferenciado que o gestor precisa ter. As lideranças devem estar atentas e à necessidade de aplicação da chamada ‘destruição criativa’, atrelada à ideia de se deixar de fazer tudo como se conhecia para abraçar novas formas de fazer negócios e administrar empresas”, destaca Giardelli.
Hugo Tadeu, professor da FDC, acrescenta que a transformação digital não pode ser definida apenas como a substituição do analógico para o digital”. Ele revela que é preciso romper culturas ainda arraigadas e apostar em pessoas que saibam da necessidade de se avançar na transformação digital, principalmente num mundo corporativo pós-covid - que já está se impondo. Com a pandemia da Covid-19, as empresas tiveram que mudar o planejamento e os processos de gestão às pressas. Quem já estava estruturada na área tecnológica, usou dessa vantagem para absorver melhor o impacto.
“Quantos executivos ainda acreditam que o mundo depois da vacina vai voltar ao que sempre foi?”, questiona Tadeu. Sobreviverá, na opinião dele, quem adotar um misto de estratégia, investimento, adoção de novas tecnologias e crenças para poder avançar no quesito transformação digital. “Muito mais do que a tecnologia, somos nós, que temos conhecimento profundo, que podemos interferir nessa agenda. A pessoa deve ser o centro, jamais estar a reboque do equipamento, que nesse caso é o acessório, a ferramenta”, observou Tadeu.
Giardelli observa que os gestores ainda não colocam a digitalização em primeiro plano. “Quase todos os líderes entendem que precisam fazer a mudança. Mas o problema é que são tantos pratos, como aquele chinês (malabarista) do circo, que eles priorizam entregar resultados”, diz. Ele acrescenta que esse hiato entre saber o que fazer, mas não colocar em prática tem força suficiente para comprometer o futuro da empresa. “A questão é que essa entrega de resultado por quarters a médio prazo não está fazendo com que as empresas sobrevivam no século 21”, alerta o especialista.
É preciso insistir na formação de líderes que pensem a transformação digital como ferramenta estratégica. “Nas escolas de negócio, e a FDC faz isso muito bem, a gente tem que criar líderes do futuro que pensem sobre a questão do ESG (prática de gestão estratégica que inclui a sustentabilidade do negócio do ponto de vista social, ambiental e da governança), fazer a gestão do presente e fazer a gestão do futuro”, salienta Giardelli.