Depois da crise

17/04/2015
Depois da crise | JValério
Como tantas outras, a crise atual veio e vai passar. Mas o que vem depois? Como as organizações vão se comportar? Juntar os cacos e chorar o leite derramado? Alívio e euforia? Olhar para frente e seguir com projeto traçado, sem sobressaltos? A resposta depende de como cada organização vai agir no presente e, mais, como cada uma vislumbra o futuro. O ajuste fiscal e monetário certamente será implementado, mesmo que parcialmente e talvez sem muitas das reformas estruturantes que a população clama nas ruas. Mas será que depois da crise tudo voltará a ser como antes? Pouco provável. Tudo aponta para novos tempos quando olhamos para o que está acontecendo no mundo e no Brasil. Não bastará, portanto, repetir o passado. Será necessário sintonizar-se com a nova realidade, atualizar e inovar e, menos comentado, mas igualmente importante, estar tranquilo e em paz consigo mesmo para lidar com o vazio, com a transição e encontrar a sabedoria que conduz aos caminhos mais saudáveis e promissores. Parece certo que vamos precisar de profissionais e de parceiros preparados para atuar no desconhecido, sem caminhos preconcebidos, dispostos a captar as novas tendências, ler e interpretar cenários e propor novos arranjos e soluções, além de serem firmes o suficiente para manter foco nos objetivos, metas e resultados importantes para a empresa. Por essa razão, as palavras serenidade e equilíbrio emociona assumem proporções até agora pouco consideradas nos negócios. Temos essas pessoas? Com quem podemos contar? Quem são os líderes ou talentos com competência e ao mesmo tempo integridade e serenidade para conduzir projetos e times? Eles são capazes de criar ambientes produtivos, gerar a confiança necessária, manter as equipes unidas, focadas e atuantes? Quem já está pronto e pode ajudar? Quem precisa ser cuidado, melhorar sua base pessoal ou passar por um programa de formação, treinamento ou desenvolvimento? Por outro lado, quem não tem o perfil, a vontade e não se ajusta às necessidades da empresa hoje e, principalmente, para o novo amanhã que virá? São muitas perguntas e todas elas fundamentais para a reflexão e a tomada de decisões neste momento tão delicado para as organizações e para as pessoas. A revisão do projeto empresarial diante do novo cenário mundial e nacional talvez seja a ferramenta mais adequada no momento para ajustar o foco dos negócios estratégicos mais importantes, para otimizar as vantagens competitivas existentes, para utilizar de modo mais eficaz as competências essenciais disponíveis e para construir, agora, as bases para aproveitar as novas oportunidades por vir. Atenção especial deve ser dada para não cortar, no sufoco gerado pela crise, processos, sistemas e, principalmente, pessoas e competências fundamentais para a retomada no pós-crise, engano comum quando o financeiro, isoladamente, passa a orientar o ajuste das empresas durante períodos de dificuldades. Porém, o pragmatismo deve imperar para evitar o desperdício de recursos, bem como a dispersão de tempo e de energia em produtos, serviços, projetos e iniciativas de pouco retorno e de viabilidade duvidosa quando se pensa um pouco mais adiante. Afinal, dispor de capital de giro e de liquidez são armas igualmente poderosas nas estratégias de enfrentamento de crises, pois, de um lado, o crédito costuma ficar escasso e com custos proibitivos se for preciso cobrir deficiências de caixa com financiamentos de mercado, e, de outro, oportunidades únicas podem ser perdidas para aquisições de negócios sinérgicos e complementares por falta de capacidade de investimento. Parece óbvio que, quanto maior a crise, maior e mais qualificado deve ser o trabalho em recursos humanos, pois as pessoas podem estar mais fragilizadas, inseguras e/ou necessitando de informação, apoio e perspectiva de futuro. Porém, paradoxalmente, muitas empresas se fecham e fazem muito pouco em relação a essa dimensão. Aproximar, estreitar e tornar mais frequente o contato com as equipes podem ser fatores decisivos para manter a unidade, a motivação, a parceria e o comprometimento com a empresa e com seu desempenho. Animar sem esconder a realidade, montar grupos de trabalho com missões específicas, seja para discutir cenários e propor estratégias, seja para economizar recursos e melhorar a eficiência e a produtividade da organização, pode ser um bom caminho para manter o moral, a participação, a energia e a confiança em alta. Se puder, reforce seu time. Na crise, boas empresas têm maior facilidade para atrair talentos insatisfeitos ou não aproveitados de outras organizações. Manter foco, gerar perspectiva, dar respostas, motivar pessoas, sobreviver, inovar e crescer em um mundo repleto de conflitos de várias ordens, e onde a complexidade, a ambiguidade e os paradoxos parecem comandar a vida de todos nós, estão, sem dúvida, entre os grandes desafios da atualidade. Para isso, mobilizar, alinhar e integrar as pessoas e os times são condições sine qua non para reduzir o risco dos sobressaltos e atingir o sucesso. Fonte: JORNAL ESTADO DE MINAS, 11/04/2015 Ofir de Vilhena Gazzi, Sócio-diretor da Academia Brasileira de Talentos e Pedro Elias Ferreira Pinto, Sócio-diretor da Academia Brasileira de Talentos e Professor da Fundação Dom Cabral
O que achou sobre o conteúdo? Vamos conversar? Deixe um comentário.
ASSINE NOSSA NEWSLETTER