“Querem saber sem precisar aprender”

26/03/2015
“Querem saber sem precisar aprender” | JValério
A qualificação da mão de obra como fator de desenvolvimento regional foi o tema da terceira edição do EncontrosFolha, evento realizado pelo grupo Folha de Londrina na manhã desta quarta-feira (25) no Hotel Blue Tree Premium. A palestra ficou por conta do psicólogo e professor da área de Organizações e Comportamento Organizacional da Fundação Dom Cabral, Sigmar Malvezzi. Segundo ele, a qualificação profissional é um fator estratégico em permanente transição. Nos anos 90, o mercado vivia o período da gestão de pessoas baseada em uma guerra por talentos. Na última década, no entanto, observou-se a oscilação de competências com 'prazo de validade', limitando o espaço de quem não se atualiza e busca conhecimento. [caption id="attachment_1338" align="aligncenter" width="500"]encontrosfolha1 Ricardo Chicarelli/EquipeFolha[/caption] "Rotinas não são confiáveis. A dependência de contínua adaptação torna o desempenho uma atividade artesanal. A gestão de negócios é construída em uma rede de fluxos, eventos e pessoas em alta velocidade. No mundo de hoje, quem não empreender sofre muito mais riscos", aponta o professor. Malvezzi destacou ainda duas competências que nascem com as pessoas, mas são mal exploradas desde o período escolar até o mercado de trabalho: memória e imaginação. "Elas estão na raiz do ser humano. A escola tem papel fundamental no desenvolvimento destas competências, até porque hoje temos muitas ameaças a elas, graças à tecnologia. Com um telefone à mão, você consegue guardar tudo que precisa. A memória está indo para o brejo". Para exemplificar a deficiência do ensino em todos os níveis no Brasil, o professor fez um paralelo com empresas dos Estados Unidos, que gastam cerca de US$ 250 bilhões por ano em treinamento de pessoal, enquanto as brasileiras despendem apenas 7% deste valor. Como consequência, os profissionais não estão preparados para lidar com incertezas, partindo para a busca das soluções prontas. "É uma cultura perversa de impaciência com a aprendizagem. Querem saber sem precisar aprender. Com isso ficam com conhecimento limitado, tornam-se presas das ideologias de plantão", analisa. Logo após a palestra, Sigmar Malvezzi se juntou ao diretor-presidente do Ipardes, Júlio Suzuki Junior, ao vice-presidente da Agência Terra Roxa de Desenvolvimento, Fernando Kireeff, e ao reitor da Unifil, Eleazar Ferreira, para um debate sobre o tema, mediado pela chefe de redação da Folha de Londrina, Fernanda Mazzini. Suzuki apresentou informações que apontam para a falta de qualificação de mão de obra no estado, o que dificulta a alta produtividade. De acordo com dados levantados pelo Ipardes, 49% da população paranaense não possui grau de instrução ou tem o ensino fundamental incompleto. Eleazar Ferreira também defendeu a tese de que a baixa escolaridade é um entrave para o desenvolvimento econômico da região. "Precisamos dar um choque na educação, com qualidade, inserção. Estamos perdendo talentos por conta disso. Sem falar que, em breve, não teremos professores para atender a demanda. Se não formarmos professores, não formaremos alunos. O quadro é muito pior a médio e longo prazo do que no presente". Já Fernando Kireeff apontou para a deficiência de vagas em cursos de engenharia em Londrina, que prejudica a atração de indústrias para a cidade. "Muitas das empresas que analisam Londrina para se instalar perguntam sobre a quantidade de engenheiros formados por ano. Estas empresas buscam um ambiente propício à inovação. Precisamos agora resolver o dilema: capacitar para atrair indústrias ou atrair indústrias para estimular o surgimento de mão de obra qualificada?", indagou. Logo após o debate, foi aberto espaço para questionamento dos participantes, entre autoridades políticas, empresários e profissionais do setor de Recursos Humanos. A terceira edição do Encontros Folha foi realizada em parceria com a Fundação Dom Cabral, J Valerio, Vectra Construtora e Unifil. Fonte: Bonde - 25/03/2015  
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