Modelo de 3 Círculos: Davis e Tagiuri mudaram as regras do jogo  

07/03/2024
Modelo de 3 Círculos: Davis e Tagiuri mudaram as regras do jogo   | JValério

Saiba mais sobre a ferramenta criada para analisar e entender a complexa dinâmica das empresas familiares

Como não falar a respeito das empresas familiares sendo que 90% dos negócios em atividade no Brasil possuem este perfil? De fato, o dado do IBGE apenas confirma o que nós já sabíamos: elas impulsionam a economia nacional, uma vez que seus faturamentos correspondem a 65% do Produto Interno Bruto (PIB) e empregam aproximadamente 75% dos trabalhadores brasileiros.

Em contrapartida, para se manterem abertas e lucrativas em meio a alta competitividade, as empresas familiares enfrentam uma série de desafios ímpares. Aliás, as boas práticas de governança (corporativa, familiar e proprietária) são fundamentais para guiar todos os envolvidos na direção certa. Por meio de princípios, processos e políticas, fundadores e demais sócios podem prosperar por gerações, mantendo o equilíbrio delicado entre as necessidades familiares, as demandas de propriedade e as complexidades dos negócios.

Diante do vasto ecossistema que abrange as organizações comandadas pelo mesmo núcleo familiar, o Modelo de Três Círculos surge como uma estrutura indispensável para entender e equilibrar as dinâmicas. A partir dele, não só membros da diretoria que sejam parentes, como também executivos do mercado, consultores e até funcionários, podem se orientar.

Saiba o que é o Modelo de Três Círculos e a aplicação prática de cada grupo na rotina das empresas familiares.

O que é o Modelo de Três Círculos

No outono de 1978, o professor Renato Tagiuri e seu aluno de doutorado, John Davis, debateram sobre as principais estruturas das empresas familiares, na Harvard Business School (HBS). Na ocasião, ambos dedicavam-se a tentar explicar as funções, problemas e tensões que ocorrem neste tipo de empreendimento no intuito de descobrir formas para analisar e resolvê-las.

Após um longo período dedicado à pesquisas e entrevistas, eis que eles chegaram a uma conclusão: não bastava usar apenas dois círculos representando a Família e a Empresa. Era preciso criar um terceiro dedicado à Propriedade. Desse modo, ficaria mais claro identificar o papel de cada tomador de decisão na estrutura organizacional. Além disso, havia o interesse em categorizar outras preocupações que fazem parte do dia a dia de executivos.

Embora eles tivessem razão, ainda faltava localizar onde cada pessoa-chave estaria dentro do sistema. Sendo assim, o Modelo de Três Círculos permite não só visualizar as três esferas interconectadas (Família, Negócio e Propriedade), cada uma com suas próprias complexidades, mas também fazer as perguntas certas a fim de compreender como está o andamento das operações. Com isso, torna-se mais fácil identificar possíveis ruídos e falhas e, ao mesmo tempo, saber caso estejam se espalhando pela companhia. Ou seja, indo de um círculo para o outro.

Olhando para o diagrama, temos o seguinte cenário:

  • Um proprietário (sócio ou acionista) e somente ele no círculo superior;
  • Os membros da família ocupam o círculo da esquerda;
  • Os funcionários da empresa familiar, o da direita.

Agora, confira a maneira certa de se localizar:

  • Se você tiver apenas uma dessas funções, estará em um círculo;
  • Se agregar duas funções em setores sobrepostos estará dentro de dois círculos ao mesmo tempo;
  • Se você é um membro da família que trabalha na empresa, mas não tem participação acionária, figura no setor inferior central;
  • Se for um membro da família que trabalha na empresa e é proprietário, aparece no centro dos três círculos sobrepostos.

Como funciona o Modelo de Três Círculos

Há 40 anos, acadêmicos, famílias empresárias e seus consultores vêm esmiuçando o Modelo de Três Círculos para obter insights sobre o funcionamento das empresas familiares e o relacionamento interno delas. De lá para cá, muita coisa mudou em se tratando de gestão. Contudo, a ferramenta segue relevante pelo fato de ter uma abordagem flexível.

Vamos entender melhor a definição de cada círculo a seguir.

Círculo da Família

O Círculo da Família transcende o ambiente corporativo e mergulha nas relações pessoais e emocionais entre os membros da família. Dentro dele, encontramos não apenas apoio, mas também potenciais fontes de conflitos, rivalidades e dilemas éticos. As decisões familiares podem ser complicadas quando influenciam a empresa e vice-versa.

Ademais, abrange questões da família, separadas de suas funções de propriedade e gestão. Logo, inclui os filhos e os sogros que não são proprietários e nem atuam no negócio, mas ainda têm itens a considerar. O Conselho Familiar e a Assembleia Familiar são as estruturas usadas para gerenciar esse círculo.

Círculo da Propriedade

O Círculo da Propriedade aborda temas que incluem a estrutura acionária, planos de sucessão, políticas de dividendos e qualquer decisão que afete a propriedade da organização. A transferência entre gerações, por exemplo, é uma área especialmente sensível que exige cuidado para evitar brigas familiares e manter a estabilidade dos negócios.

As reuniões de acionistas e os Conselhos de Administração falam em nome da propriedade. A família precisa dar orientação à empresa e realizar a reunião anual de acionistas e do conselho que, por sua vez, é a principal ponte entre os diretores e sócios.

Círculo do Negócio

No Círculo do Negócio, estão as operações diárias da empresa. Aqui, temos decisões da gestão, planejamento estratégico, contratação de talentos, desenvolvimento de produtos e planos para sucessão de lideranças. Apesar de a dinâmica empresarial precisar ser gerenciada cuidadosamente para garantir o crescimento sustentável e a competitividade no mercado, este costuma ser o círculo mais evoluído.

A sobreposição entre os círculos da Família e da Propriedade são os planos de patrimônio dos proprietários individuais. Já a que ocorre entre o círculo de Propriedade e o da Empresa implica nos planos estratégicos da companhia. Por fim, entre a Empresa e a Família estão os projetos de continuidade para garantir a sobrevivência. A interconexão e a própria evolução de cada círculo aumentam o grau de complexidade da gestão.

7 grupos dentro de uma empresa familiar

Para saber onde cada pessoa-chave da organização está localizada, o Modelo de Três Círculos atua como um framework no qual existem sete grupos de viés distintos (stakeholders) com conexão à empresa familiar.

Na prática, a divisão serve para lembrar que ao olhar para grupos e indivíduos presentes nos três círculos não haverá pontos de vista mais ou menos legítimos. Em outras palavras, o  sucesso a longo prazo das empresas familiares dependerá do funcionamento e do apoio mútuo entre cada um deles.

  1. Membros da família não envolvidos na empresa, mas que são descendentes ou cônjuges/sócios dos proprietários;
  2. Proprietários familiares não empregados na empresa;
  3. Proprietários não familiares que não trabalham na empresa;
  4. Proprietários não familiares que trabalham na empresa;
  5. Funcionários que não são da família:
  6. Membros da família que trabalham na empresa, mas não são proprietários;
  7. Proprietários familiares que trabalham na empresa.

Exemplos de empresas familiares bem-sucedidas

  • Grupo Votorantim: a multinacional brasileira de controle familiar, criada pelo engenheiro pernambucano José Ermírio de Moraes, é um exemplo clássico de sucesso das empresas familiares. Eles conseguiram como ninguém administrar os desafios dos três círculos, mantendo uma presença forte e influente em várias outras frentes, incluindo cimento, metais e energia;
  • Grupo JBS: outro case que comprova a eficácia do Modelo de Três Círculos no contexto brasileiro é o do Grupo JBS. Uma das maiores empresas de alimentos do mundo, a JBS equilibrou efetivamente as dinâmicas familiares, de propriedade e de negócios para se tornar uma líder global no setor;
  • Grupo Globo: um dos maiores conglomerados de mídia do Brasil é uma empresa familiar que evoluiu com sucesso ao longo das décadas. O Grupo Globo vem conseguindo integrar as esferas da família, propriedade e negócios de forma eficaz, mantendo-se líderes no cenário midiático nacional por décadas.

Temática recorrente nos cursos da JValério, as empresas familiares permitem explorar um vasto universo de conteúdo corporativo. Não por acaso, nossos programas para executivos incluem focos diversos pensando na versatilidade dos negócios. Porém, todos se encontram na possibilidade de crescer profissionalmente e aprender com os melhores nomes do mercado.

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Inclusive, a JValério possui em seu portfólio de soluções o Parceiros para Excelência - PAEX. Trata-se de um programa para empresas familiares de médio porte que buscam um modelo robusto de gestão, com a formação de executivos e equipes de alta performance, elevando os resultados de curto, médio e longo prazos. O PAEX foi desenvolvido para ajudar a potencializar e conquistar a longevidade para esses negócios.

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