Por que as empresas precisam pensar no bem-estar dos colaboradores?

03/02/2023
Por que as empresas precisam pensar no bem-estar dos colaboradores? | JValério

O quiet quitting é uma manifestação de insatisfação do trabalhador e que está em voga na atualidade; fenômeno preocupa lideranças porque pode gerar improdutividade

Um bom salário e estabilidade deixaram de ser o grande motivador do trabalho há algum tempo. A necessidade dos profissionais contemporâneos vai muito além de dinheiro e segurança. Consiste em uma série de fatores que envolvem saúde mental, física, bem-estar emocional e propósito. São aspectos subjetivos, que remam em sentido contrário aos objetivos, como remuneração, cargo ou o prestígio de determinada empresa, por exemplo.

Esse movimento ganhou força após a pandemia da Covid-19. A crise sanitária promoveu transformações profundas nas relações de trabalho. Um estudo realizado pelo Gympass entrevistou mais de 9 mil profissionais em nove países e concluiu que a grande maioria deles considera o bem-estar tão importante quanto o salário. Segundo o levantamento, 83% dos respondentes valorizam a saúde mental no ambiente laboral. Esse, inclusive, é um fator que retém talentos: 85% preferem permanecer em empresas que focam na qualidade de vida. Outros 77% abririam mão de locais que não se preocupam com o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal do time.

Sabendo disso, empresas responsáveis, modernas e inovadoras preocupam-se com a saúde mental dos colaboradores. Porém, essa ainda não é uma realidade para a maioria delas. Segundo o especialista em implementação de bem-estar nas empresas, Gustavo Arns, grandes corporações, principalmente, as situadas nas capitais dos estados, falam sobre o assunto. “Nas pequenas empresas, até com base em trabalhos que faço em parceria com o Sebrae, percebo que esse movimento ainda não chegou”, declarou, em entrevista ao Portal RH Pra Você. Conforme ele, apenas 15% dos gestores admitem conhecer a ciência da felicidade.

A infelicidade no trabalho não tem uma causa específica e depende do perfil dos profissionais, seus objetivos pessoais e o ambiente em que está inserido. Sem esquecer, claro, de fatores externos e autônomos. A pandemia, por exemplo, provocou diversos malefícios na saúde mental e física das pessoas ao redor de todo o mundo. Estudos de entidades como a International Stress Management Association (ISMA-BR) identificaram um boom de diagnósticos de transtornos psicológicos, associados à depressão, Burnout, ansiedade, entre outros.

Adam Grant, professor na Universidade de Wharton, aponta para outro tipo de comportamento, ocorrido durante a crise sanitária. Alguns profissionais passaram a trabalhar de forma exaustiva nesse período, principalmente, com a adoção do homeoffice, e foram submetidos a um alto nível de estresse. Sem divisão clara entre ambientes de lazer e trabalho, associada à ansiedade e preocupação de contrair a doença, viram a saúde mental definhar. Alguns, inclusive, trabalharam a mais sem receber por isso. Com o arrefecimento da pandemia, muitos decidiram adotar um tipo de “justiça psicológica” e passaram a fazer estritamente o que está descrito em sua função. Esse fenômeno tem sido denominado de quiet quitting”.

O que é quiet quitting?

O quiet quitting é uma manifestação de insatisfação do trabalhador em relação à atividade que ocupa. Nesse sentido, ele passa a realizar as tarefas que lhe são atribuídas, mas não se engaja, não dá novas ideias nem proposições. A origem desse comportamento pode estar na associação entre ambientes tóxicos e chefes ruins, como também na incompatibilidade do colaborador com o ambiente de trabalho ou o cargo que ocupa.

Esse movimento não é uma novidade - existe há muitas gerações -, mas ganhou maior adesão nos últimos anos. Por isso, o quiet quitting está entre as maiores preocupações dos CEOs na atualidade.

Vale dizer ainda que há pessoas com perfis distintos, adequadas a tipos específicos de trabalho. Perfis dominantes, por exemplo, preferem atividades relacionadas a metas e desafios. Os perfis influentes são mais expansivos e comunicativos, e necessitam de conexão e relações pessoais fortalecidas. Já os perfis estáveis gostam de ser ouvidos e preferem ambientes estáveis. Os que se encaixam no perfil de conformidade são planejadores, detalhistas e sistemáticos. Caso o colaborador tenha um perfil incongruente com o ambiente e cargo, a desmotivação e insatisfação não demorarão a aparecer.

“Filosofia” do mínimo esforço possível: o que pensam esses colaboradores?

Os profissionais que aderem ao quiet qutting relatam que querem ser tratados de forma justa, ter um bom salário e um senso de propósito. Não basta apenas executar o trabalho e ir embora. Eles anseiam fazer parte do processo e ser vistos como peças fundamentais e necessárias. Neste sentido, é fundamental ter líderes engajados, que acompanham o trabalho do time e são parceiros. Não basta delegar e deixar o processo correr sem supervisão e apoio. É preciso fazer parte do time verdadeiramente e passar a segurança de que os membros da equipe podem contar com o líder que têm.

Outro fator interessante é que o quiet quitting tem sido observado em trabalhadores mais jovens. Ou seja, não estamos falando de profissionais de longa carreira que estão prestes a aposentar-se, mas de pessoas que estão no começo ou no momento de solidificação da profissão. Muitos deles, segundo os especialistas, enfrentam dificuldades em administrar a pressão no trabalho com a saúde mental e a vida pessoal. Além disso, esperam que os empregadores valorizem a vida pessoal da mesma forma que a profissional.

Outro aspecto é a sobrecarga de trabalho que gera o esgotamento. Em uma sociedade de alto desempenho, exige-se muita energia física e mental dos trabalhadores, com cobrança na capacidade produtiva. Muitas empresas ainda têm um pensamento retrógrado e acreditam que estão “fazendo um favor” para o profissional, empregando-o. O colaborador pode até suportar entregar atividades excepcionais a curto prazo, mas, ao longo do tempo, os efeitos como cansaço mental, físico e até transtornos psicológicos e doenças relacionadas ao trabalho surgirão.

É possível evitar o quiet quitting?

Reclamar do trabalho não é uma conversa rara nos encontros sociais do brasileiro. Estar insatisfeito com o chefe, a empresa ou com as atribuições e atividades que exerce é bem mais comum do que se imagina.

Profissionais comprometidos que passam por essa situação podem optar por um caminho mais assertivo. Especialistas em Gestão de Recursos Humanos afirmam que a melhor atitude é chamar o superior imediato para uma conversa e expor a insatisfação de forma franca e respeitosa. Vale lembrar, portanto, que o trabalhador só fará isso se sentir que existe abertura da chefia e que a cultura da empresa permite que feedbacks sejam apontados.

Empresas que têm a reinvenção como estratégia contínua se antecipam ao movimento e investem na saúde mental e bem-estar dos colaboradores.

Como as empresas podem investir na saúde mental?

Pesquisas realizadas ao redor do mundo apontam índices de até 80% quando o assunto é insatisfação no trabalho. Porém, embora pareça ser algo inalcançável para muita gente, é possível ser feliz no trabalho. Para isso, é preciso que as empresas se abram para a ciência da felicidade.

Na visão de Clodoaldo Oliveira, diretor executivo da JValério Gestão e Desenvolvimento, há corporações investindo em atividades que promovem a qualidade de vida, como yoga e meditação, mas, embora os benefícios ajudem, não agem na raiz do problema, que está amparada em dois aspectos: a satisfação da pessoa e a produtividade.

A solução começa, na opinião do diretor executivo, pela formação de líderes que têm o poder de impactar a cultura. “As empresas mais estruturadas já possuem líderes humanizados, que se preocupam com a saúde mental e adotam ferramentas como a comunicação não violenta, por exemplo”, diz.

O fato é que trabalhadores felizes, que encontraram equilíbrio na vida pessoal, profissional, saúde mental e física, terão satisfação na atividade que desempenham. Colaboradores felizes têm maior engajamento e formam um ambiente de trabalho acolhedor e ajudam a construir uma cultura saudável. Quer começar a transformar sua empresa e torná-la um lugar feliz para seus trabalhadores?

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