Apesar da desaceleração na economia mundial, 2023 pode ser ano de oportunidades

25/11/2022
Apesar da desaceleração na economia mundial, 2023 pode ser ano de oportunidades | JValério

Confira no post de hoje a análise do professor associado da Fundação Dom Cabral, Bruno Carazza, sobre o que esperar do governo Lula e como os gestores devem se comportar nos próximos anos

Em 2009, o Brasil ganhou destaque na revista britânica “The Economist” como uma economia promissora. Na foto da capa fazia montagem da imagem do Cristo Redentor decolando como um foguete. O País vivia um momento peculiar na sua história e as avaliações econômicas eram positivas.

No entanto, anos mais tarde, a economia brasileira sofreu um revés e os mesmos indicadores da análise anterior passaram a uma sequência de recordes negativos. Em 2013 o Cristo Redentor voltou à capa da “The Economist”, mas, dessa vez, aparecia desgovernado, num movimento em queda livre. A metáfora traduziu com perfeição dois momentos distintos do cenário econômico do Brasil em governos do PT.

As duas capas de um dos veículos de imprensa mais prestigiados do mundo, foram citadas pelo professor associado da Fundação Dom Cabral (FDC), Bruno Carraza, que também é doutor em Direito Econômico e colunista do Jornal Valor Econômico. Ele utiliza os episódios de 2009 e 2013, respectivamente, para traçar um cenário para o terceiro mandato de Lula na presidência do Brasil. Ele acredita que, em 2023, o presidente encontrará um ambiente econômico ainda mais hostil em relação às duas primeiras décadas dos anos 2020 em decorrência de uma crise no mundo todo, que ainda sofre com os efeitos colaterais da pandemia da Covid-19.

O próprio Relatório Global do Fundo Monetário Internacional (FMI), divulgado no último mês de outubro, aponta para uma crise na economia global, inclusive em potências como Estados Unidos e China. Diz o resumo do Relatório: “a atividade econômica mundial está passando por uma desaceleração ampla e mais acentuada do que o esperado, com uma inflação mais alta do que a observada em várias décadas. A crise do custo de vida, o aperto das condições financeiras na maioria das regiões, a invasão da Ucrânia pela Rússia e a persistente pandemia de COVID-19 pesam muito sobre as perspectivas”.

“Esse será um dos dilemas do governo Lula. Ele assume o País em um novo contexto, diferente de quando tomou posse há 20 anos, quando o mundo estava num ciclo de expansão, fruto da primeira onda da globalização e de um salto tecnológico com o advento do e-commerce e das redes sociais, que impulsionaram o consumo. Era um cenário bem diferente do atual, quando a economia mundial era puxada pela China, que crescia 10% ano; havia uma estabilidade geopolítica e avanços tecnológicos. Em 2023, enfrentamos os efeitos pós-pandemia com momentos de lockdown na China e obstáculos na cadeia logística. Além disso, a guerra na Ucrânia não tem perspectivas de interrupção a curto prazo. Os conflitos ocorrem em locais estratégicos, entre Europa e Ásia, e alimentam grande especulação de preços de energia, petróleo e gás natural. E em cenários de incertezas há retração de investimentos e a economia cresce menos. Vários países aumentam as taxas de juros e, consequentemente, há um impacto no câmbio. Esse é o contexto desafiador e desfavorável, que coloca pressão adicional para Lula no seu terceiro mandato”, afirma Bruno Carazza.

Como o futuro governo deve reagir?

Os desafios para a gestão de 2023

Todo esse recrudescimento de uma pandemia e de um mundo em uma nova guerra fria apresenta desafios singulares para a política econômica e exigem um vigoroso esforço multilateral do novo governo, que possui uma visão sobre a política econômica diferente daquela desempenhada pela liderança atual. Essa é a opinião do professor Bruno Carazza.

Ele acrescenta que o presidente Lula já deixou claro também que enxerga a Petrobrás como indutora do crescimento brasileiro por meio de refino e exploração do pré-sal. E, fazendo um gancho com o contexto internacional, o próximo governo aponta que vai dar prioridade para estimular a transição de energia para a energia limpa - energia eólica, energia solar e hidrogênio verde.

“A questão ambiental será usada para resgatar a credibilidade externa do Brasil. E a sustentabilidade deve estimular a economia. Acordos com o Mercosul e com a União Europeia que estão travados por conta de questões ambientais devem ser resgatados. E os produtos brasileiros devem ser levados ao mercado europeu em melhores condições”, observa o professor.

Para ele, as tomadas de decisões dos gestores vão depender do setor em que a empresa atua, porque algumas variáveis impactam mais em alguns segmentos em relação aos outros. “O que temos a acrescentar no novo cenário é justamente a mudança na política, nas diferenças marcantes na visão da forma de conduzir a economia. O PT tende a acreditar no papel do estado como promotor do crescimento econômico. E espera-se que o governo tenha um protagonismo maior em determinadas áreas e use de forma mais efetiva bancos públicos para estimular o crédito na economia. Isso é algo que o PT já fez no passado e que continua presente no plano do próximo governo”, destaca Carazza.

Polarização

Os desafios da polarização política para os empresários

Lula venceu a eleição presidencial mais acirrada da nossa história. E o Congresso em 2023 será bem diferente do que ele encontrou há 20 anos, com a esquerda em minoria. “Caberá ao presidente compor com forças políticas mais à direita. Esse é um desafio de governabilidade, sem poder contar mais com instrumentos ilícitos do passado, como o mensalão e petróleo”, salienta o professor da FDC.

Voltando à metáfora do Cristo Redentor, Lula terá que equilibrar três variantes para a estátua não explodir: colocar a política (governabilidade), o social (como a miséria) e a economia (política fiscal) na mesma equação, sem que o resultado seja negativo para o Brasil.

“A governabilidade e a questão fiscal são os desafios que o presidente enfrentará para obter os recursos necessários para melhorar a economia e as questões sociais. Vivemos em um país desigual e a miséria cresceu muito nos últimos tempos. Mas para fazer frente aos programas de transferência de renda, Lula terá que equilibrar todas as variantes”, observa Bruno Corazza.

O agro

Como o agro pode impulsionar o Brasil

O agronegócio, na opinião de Bruno Corazza, expõe com clareza o momento que vivemos no Brasil: crise e oportunidades. Ao mesmo tempo que o setor sofre com a pressão de custos - redução de fertilizantes e aumento dos preços desse insumo, por conta do custo do frete e da taxa cambial - encontra oportunidades para expandir num mundo em crescimento populacional, que depende dos alimentos.

“No Brasil, o agro tem uma perspectiva de ganho de produtividade. Há pastagens que são subutilizadas e que podem virar áreas de cultivo sem gerar pressão sobre o meio ambiente, por conta do crédito de carbono. Também há melhorias na rede de infraestrutura, movimento de concessões de rodovias, ferrovias, aeroportos e portos são investimentos que irão frutificar.  Temos uma série de oportunidades que podemos explorar e que apresentam muitas chances de negócios e crescimento, não só para o agro, mas em outros setores”, depõe Bruno Carazza.

Resiliência e otimismo realista

Otimismo para o cenário econômico brasileiro em 2023
Plant sprouted in stone crack, vitality, survivability, resilience, rebirth and new life concept

O Brasil é um país que dispõe de muitas vantagens no contexto internacional: somos uma democracia há 40 anos, com alternância de poder de partidos da esquerda e da direita com instituições sólidas. Esse é um dos atrativos do País frente aos estrangeiros, na avaliação do professor da FDC. Além disso, o Brasil possui uma disponibilidade de recursos naturais; é grande exportador de commodities; e possui uma população com cerca de 215 milhões de habitantes, conectadas à internet e com perspectivas de consumo.

Outro fator que favorece o Brasil é o fato do mundo estar repensando as relações com a China. As multinacionais estão redirecionando as realizações de investimentos e o Brasil está na rota por conta de sua posição geográfica, próxima dos Estados Unidos e da Europa.

O recado de Bruno Corazza para empresários e gestores é claro: “não podemos deixar que o pessimismo e a incerteza nos paralisem. Temos problemas, inseguranças, mas há oportunidades grandes e valiosas a serem exploradas nos próximos anos. Independente do governo, podemos avançar em termos de País”.

Para o professor da FDC, as empresas são as âncoras da economia, por gerarem empregos e renda. Por isso, o desenvolvimento da sociedade e da nação depende delas. “O Brasil tem muitas potencialidades e a FDC e a JValério estão à disposição para orientar as lideranças. O desenvolvimento da capacidade intelectual, do relacionamento humano e gerencial, são importantes para que as empresas aproveitem as oportunidades”, finaliza. 

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